Sala da História em Movimento - EB 2/3 de Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Os alunos-netos, filhos de alunos que já foram meus um dia, já começaram a chegar à minha sala de aulas há uns bons anos e são sinal do meu amadurecimento... eheheh... isto para não escrever sinal do meu envelhecimento... enquanto mulher, que este ano cumpriu 54 de idade, e enquanto professora, que já conta mais de trinta desde o ingresso nesta profissão que se veio a tornar, com o decorrer das décadas já por mim vividas, tão mas tão complexa. Cada vez mais complexa em termos de trabalho com alguns miúdos que nos chegam à sala de aula num estado de insolência e má criação inacreditável e vergonhoso, cada vez mais complexa em termos de trabalho com alguns pares, que por vezes são nossos ímpares de tal modo se encontram nos nossos antípodas em quase tudo, cada vez mais complexa em termos burocráticos, diria até burrocráticos, cada vez mais complexa em termos de relacionamento com um ministério da educação que quase mais não fez durante os últimos dez anos para além de agredir, desautorizar, denegrir e humilhar toda uma classe profissional determinante para o futuro deste país e constituída, evidentemente, tal como todas as outras profissões, por docentes baldas, medíocres, suficientes, bons, muito bons, excelentes, geniais, inspiradores... acredito que os primeiros são uma excepção excepcional!, em suma, esta é uma profissão cada vez mais complexa e, tal como cada vez vez está mais complexa a vida, a nossa profissão assim está.
Mas a minha/nossa profissão também é feita de muitos e profundos afectos que, de quando em vez, vão passando de pais para filhos. Com a idade, e se nos mantemos a leccionar anos a fio na mesma região, vemos chegar, ano após ano, à nossa sala de aula, uma legião de alunos completamente desconhecidos, os alunos-filhos, e outros que nos informam, ou nós acabamos por saber por linhas travessas, que os seus pais e/ou mães já foram nossos alunos em tempos que já lá vão, tornando-se, assim, os nossos alunos-netos. A responsabilidade é a mesma: tentar tratar todos com o máximo de correcção, de carinho, trabalhar com eles de forma o mais transparente possível, apoiá-los na escola e agora, através das redes sociais, apoiá-los mesmo fora da escola no sentido de os ajudar a progredir, a vencer obstáculos, a ultrapassar barreiras.
Nem todos os alunos se deixam ajudar, é certo e, ao longo das nossas longas carreiras acumulamos por certo muitos fracassos... visíveis em alunos que não se deixaram contagiar, em alunos que não conseguimos inspirar apesar do exemplo profissional dado... e isto é um drama que, confesso, não sei como resolver e ultrapassar. É que quando tudo falha...
6 comentários:
Li com atenção o seu post!
Acho-o "encantador"...esclarecedor...e esperançoso, sem contudo nos deixar alguns(?!) alertas para tanto do que aos PROFESSORES (sempre maiúsculas) nos "aflige"...grave é que esta "aflição" não seja comungada por toda a comunidade...como ora soe dizer-se!
"Tenho-a" como uma caloira que ao chegar pela 1ª vez à sua Escola se deslumbra e acredita que o "Éden"...está ali!
...Lamento...se lamento, que ao fim dos trinta de serviço, ainda "navegue" nas naus de esperança!
Minha querida, está sozinha nesta luta e a jornada não terá fim!
Esperança, não é o mesmo que saber esperar e...ainda não se conseguiu libertar!
Determinada...decidida...exigente...assertiva!
Não a adjectivo mais, mas temo que...se canse.
Eu também temo. E quero ir-me embora antes de tal acontecer. Continuo esperançada... de poder voltar, assim, esta página, muito boa, da minha vida.
Será pedir muito?
Congratulo-me com o seu "desplante"!
...Mas temo!
Adoro os seus posts...este, mais uma vez, tocou-me. Agradeço a partilha de emoções 😉
Obrigada, Afilhado! Pelo desplante do apoio! ;)
Muito grata pelas suas palavras, Emília Silva! O que seríamos nós sem as emoções? Umas coisas?
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