segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Recomeço


Baptistério de Florença - Florença - Itália
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Recomeço

Hoje recomeço com a sensação de ter saído ontem da Escolinha, atolada em trabalho, e de, pelo meio, ter tido festividades muito cansativas e stressantes entre jantaradas várias com familiares e grupos de amigos, porque realizadas no meio de um trabalho perfeitamente de doidos.
O tempo passou a voar durante esta curtíssima pausa lectiva, a mais curta de que tenho memória e entre meia dúzia de trabalhos realizados para a Escola, diversos, a coisa não foi muito mais além.
Os contactos e confirmações para as Visitas de Estudo que faremos ao nosso maravilhoso Museu Amadeo de Souza-Cardoso estão feitos e deles já dei novas aqui e cumpriremos as visitas já a partir de amanhã, para começarmos com a História Local e as saídas de campo que tanta falta fazem para que os miúdos apreendam competências ligadas ao domínio do saber estar em espaços públicos, sejam eles as ruas da nossa bela cidade, sejam eles um espaço museológico.
De resto apenas tive tempo para reformular nem meia dúzia de apresentações em PowerPoint, dando cumprimento, a muito custo, ao meu plano de reformulação de todas as apresentações para o 8º ano de escolaridade que deverá estar concluído no final deste ano lectivo.
Antes da chegada de Maria de Lurdes Rodrigues ao Ministério da Educação e antes desta pressão doida de trabalho, que eu considero não fundamental na Escola e para a Escola, a minha gestão de tempo era muito mais minha e a prioridade das prioridades era a preparação de aulas que fossem o mais interessantes possíveis para que os alunos parassem de dizer, aquando da chegada à minha sala de aulas, no início dos anos lectivos - "Professora, detesto História."
O meu trabalho era assim completamente focalizado para a minha clientela, alunos, e era ver-me a fazer acetatos e mais acetatos num tempo em que estes ainda não eram fornecidos pelas editoras, e mesmo depois que eu nunca me adaptei muito bem aos materiais por outros feitos já que nunca coincidiram/coincidem exactamente com aquilo que eu pretendia/pretendo. E era ver-me com caixinhas de slides, todas organizadinhas, principalmente para as aulas de História da Arte que nunca entendi ser possível leccionar arte com duas ou três imagens constantes nos manuais, de uma pobreza visual a toda a prova.
Algures em meados dos anos 90 eis que surge o programa que me iria revolucionar a vida em termos profissionais e até pessoais.
Penso que o programa de que falo terá surgido algures em 2003 e no final do ano lectivo de 2004/2005 agarrei o programa PowerPoint com unhas e dentes e desde aí não mais parei de aperfeiçoar o meu trabalho, um retoque aqui, uma nova fotografia acolá, uma nova estrutura que a antiga está já demodé.
A base das ilustrações foram as imagens constantes nos manuais da ASA, depois da permissão obtida dos seus autores, e, a partir daí, foi "apenas" enriquecer o trabalho feito com viagens culturais que englobam safaris fotográficos maravilhosos e exaustivos de tudo o que me pode vir a interessar seja para as apresentações, seja para ilustrar o blogue, entretanto iniciado em Fevereiro de 2007.
Com as horas lectivas e as reuniões, poucas, sobrava-me muito tempo para gerir esse tempo como entendesse, e eu assim o fazia, e foi ver-me produzir material em catadupa para os meus alunos. Depois foi tempo de começar a partilhar o material já realizado na minha primeira página web, ainda on-line, mas já a ser substituída por uma outra, mais moderna e actual. E depois fui abrindo outras páginas para os CEF, para o meu portefólio digital... cada vez com mais dificuldade por falta de tempo, pelo tempo passado na Escola, cada vez mais, cada vez mais.
Agora confesso que tenho saudades do tempo em que o Ministério da Educação me deixava trabalhar a meu bel-prazer e me dava tempo abundante para isso porque hoje vejo-me aflita para conseguir renovar e melhorar as apresentações, trabalho que tem de ser feito pois entretanto resolvi mudar a estrutura, que era temática, para uma estrutura em que cada apresentação corresponde a uma aula.
A Escola de hoje afoga-nos, literalmente, e asfixia-nos e só com muita capacidade de trabalho conseguimos fazer algo para além do rame rame diário e extenuante.
Acabada a acção de formação sobre os quadros interactivos na última semana de aulas de Dezembro, que falta de respeito pelo trabalho dos professores!, iniciarei hoje uma outra, alvo de tratamento "carinhoso" lá na escolinha, entre risos e mais risos, sobre Sexo, já que eu sou DT e esse foi mais um presente envenenado que o ME nos deu.
Volto a repetir - A Escola de hoje afoga-nos entre planos e mais planos, PCTs, dossiers disto e daquilo, reuniões atrás de reuniões, asfixia-nos literalmente e esgota-nos deixando-nos pouca energia para fazermos algo direccionado para quem de facto interessa e que são os nossos alunos, aqueles que se sentam à nossa frente aula após aula.
Não me conformo com este estado de coisas. E acuso o ME de prejudicar o meu trabalho.
Por isso afirmo que os grandes prejudicados, com a passagem de Maria de Lurdes Rodrigues e seus muchachos Valter e Pedreira pelo ME, são os alunos e os professores que não se limitaram nunca a chegar à sala de aula, a abrir o livro, a fazer testes e a corrigi-los.
Sei do que estou a falar. Sinto isso na minha pele.
Hoje recomeço cansada e com a certeza de que o Ministério da Educação prejudica o andamento do meu trabalho.
Haverá luz ao fundo do túnel?

3 comentários:

guidasilva disse...

Oh, Anabela como sinto tudo isto que aqui escreves! Tenho dito muitas vezes que destruíram a nossa profissão. Na minha escola, no final do 1º período, exigiram um "grelhado magnífico" para justificar o sucesso/insucesso.Mais um a juntar a tantos outros! Onde iremos parar? Até quando resistiremos a esta sobrecarga de trabalho inútil? Bj Guida

Anabela Magalhães disse...

Olá Guida! Sei que muitos professores(as) se reverão nas minhas palavras, por isto e/ou por aquilo.
A falta de tempo que hoje muitos de nós sentimos na pele é absolutamente dramática.
O que me chateia é que, inevitavelmente, os prejudicados serão os nossos alunos.
De resto continuamos a luta, tentando não esmorecer, tentando manter-nos à tona da água!
Quando escacharmos... escachámos.
Beijocas

Anabela Magalhães disse...

Ah! Na minha escola "só" justificamos negativas acima de 40%E digo só porque na ESA era uma justificação por negativa... consegues imaginar o papel gasto
Bj

 
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