A palavra a Costa Carvalho
*Aos meus filhos, netos e bisneto
Estranha coisa era aquela de os fedelhos cheirarmos à hortelã-pimenta do Tâmega, rio de que a vila dizia sermos nascente e afluentes.
À torreira embriagadora do vinho novo que era o sol de Junho, rabiávamos pelos muros, como sardaniscas, fatiando-lhes o musgo para a cascata do S. João. Púnhamos os torrões com verdura a beberricar nas poças de água e descascávamo-nos, acabadinhos de voltar a nascer para um outro mundo: o nosso!
Tarzans trinca-espinhas, pinchávamos de galho para galho das árvores nossas amigas da brincadeira, caindo de braços e risos abertos no fresco lençol de água acabado de lavar com sabão azul de Marselha.
Éramos de uma aberrante felicidade, num mundo em guerra!
Mas também tínhamos as nossas desavenças, só por causa de fazermos pouco das nossas grilas. E eu não gostava nada. Tinha que intervir a Isabel Lavadeira:
- Oh! E o menino a ligar. É só para o atezanarem. Vai aparecer quem..
- Quem o quê, Isabel?
Revirando os olhos para o céu azul-ferrete, a lavadeira respondia, persignando-se:
- Santa inocência!
- É quem vai aparecer?
Finda a escaramuça, deitávamo-nos de papo para o ar, olhos fechados e bocas cosidas. Os meninos não pedíamos mais nada à vida.
E a Vida, toda enroscadinha nos meninos, connosco adormecia, também ela contente da vida.
Lá longe, os homens matavam-se uns aos outros!
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