quarta-feira, 17 de junho de 2009

FAA

FAA

O texto de José Gonçalves foi publicado no blogue do Guinote.
É um pouco longo mas vale a pena ler.
Teremos todos de tomar uma posição, mais cedo ou mais tarde.

Ainda a questão do preenchimento da ficha de auto-avaliação: contributos para um debate.

Independentemente da posição/decisão final que a cada docente compete assumir, de acordo com a sua consciência, o seu sentido de dever, de coerência e consequência nas decisões/ /atitudes a tomar, permitam-me só, sem qualquer pretensão que não seja a de expor uma opinião sob a forma de algumas certezas, mas, também, de muitas dúvidas e de a partilhar com os colegas, num debate que me parece ainda não concluído:
1. A questão da coerência: o que é ser-se coerente? É agir sempre do mesmo modo ou actuar de acordo com o que, a cada momento, se pensa? E o pensamento é ou não mutável, dependendo da realidade em que flui e que, por natureza, muda, evolui, constante e continuamente?…
2. Entrega ou não da ficha de auto-avaliação: é o primeiro passo previsto na lei, para que se dê início ao processo de avaliação do desempenho docente. Entregar a ficha de auto-avaliação denota incoerência com toda a resistência a um modelo, até agora realizada? A recusa na sua entrega significa coerência com as posições assumidas? E se o for, será a forma mais eficaz de resistência contra um modelo de avaliação que se rejeita e que se pretende ver substituído por outro?…
3. Realizar a auto-avaliação é uma característica específica deste modelo? Não. Todos nós defendemos a auto-avaliação como momento essencial de qualquer modelo avaliativo. Esta ou uma qualquer outra ficha será, sempre, um primeiro passo, um primeiro momento de um processo de avaliação (como, até agora, já o foi) …
4. Todos nós (quase!) somos contra este modelo de avaliação. A maior parte de nós já manifestou, de uma forma ou de outra ou de várias em simultâneo ou intercaladas e em algum dos momentos desta já longa e desgastante guerra que nos foi movida, o nosso desacordo com este modelo de avaliação. Até ao limite. Ou quase. Será a recusa da entrega da ficha de auto-avaliação esse mesmo limite?…
5. Parece-me existir, aqui, um equívoco, que consiste no seguinte: entregar preenchida a ficha de auto-avaliação (e há várias formas de a preencher, até esvaziando grande parte do seu sentido e aproveitando a mesma para contestar, uma vez mais, todo o processo…) ou apresentar, em alternativa, um qualquer outro “documento de reflexão crítica”. Em termos materiais, ou seja, pela natureza e pelos efeitos que poderá ter, poderá dar exactamente no mesmo. Bastará tão só, ao ME, dar instruções para que estes relatórios sejam aceites e contabilizados como fichas de auto-avaliação. Não sei se as limitações intelectuais (e outras) repetidamente assumidas por quem de direito, conduzam o processo por este caminho. Mas a possibilidade de que algo de parecido viesse a acontecer seria, apenas, uma questão de bom- -senso (precisamente a qualidade mais difícil de constatar na actual equipa ministerial). No final, de uma maneira ou de outra, poderá sempre o ME cantar vitória, propalando a ideia de que consegui avaliar todos os docentes ou a esmagadora maioria…
6. Formalmente, não sei se será a mesma coisa, já que preencher a ficha de auto-avaliação é dar cumprimento, ir de encontro a algo que está estabelecido na lei. Poderá, agora pôr-se a seguinte questão: a recusa da entrega da ficha de auto-avaliação manifesta o desacordo do docente perante este modelo de avaliação ou evidencia a recusa em dar cumprimento a um normativo legal (ou mais do que um), com o qual, ou os quais não se concorda? Aparentando tratar-se da mesma coisa, se calhar não o é…
7. O que significa que a tutela poderá, sempre, escudar-se na posição de que quem não entregou a ficha de auto-avaliação não cumpriu o que a lei prevê…
8. Já pensaram no conjunto de normativos com que nos brindou a equipa que nos tutela, desde que tomou posse? Contabilizem as medidas tomadas, a legislação produzida em catadupa, a legislação tantas vezes contraditória e injustificada, produzida, supostamente para espevitar a nossa acção, mas que, porque imbuída de um conteúdo de provocação, apenas gerou a nossa revolta e indignação…
9. O tipo de gente que nos tutela é do pior. Não coloco adjectivos porque já todos os conhecemos. Que cada um coloque os que quiser, não hão-de faltar palavras para a definir. E, é bem provável que apareçam, também, alguns nomes comuns, por sinal vulgares e frequentes na utilização diária que os portugueses lhe dão…
10. Também não vale a pena continuar a defender a suposta “pureza” da classe docente. Ficámos mal na batalha dos OIs. Foram 140000 a fazer um compromisso. Ficámos reduzidos a “meia-dúzia “ no campo de batalha…
11. É evidente que uma coisa é a recusa da entrega dos OIs, outra a recusa da ficha de auto- -avaliação. Se quanto à primeira é fácil sustentar-se a abdicação do exercício de um direito, na segunda é dificil sustentar a recusa no exercício de um dever…
12. É claro que se tivesse havido uma recusa significativa (100000?), dava para se sonhar com outro tipo de voos. Agora, em minoria…Convenhamos que os aventureirismos, mesmo disfarçados sob a forma de coerência ou de coragem, podem pagar-se caro…
13. Em consequência, não peçam aos docentes, aos mesmos docentes que, em muitas situações quase isoladamente e com muita coragem e determinação não entrgaram os OIs, não entreguem, agora, a ficha de auto-avaliação. Reparem bem no olhar traiçoeiro do inimigo e vejam se podem confiar…
14. Só para lembrar, também, que estamos aqui a discutir algo que nem sequer sabemos se nos vai ser possível realizar…Convém ter presente que a Ministra afirmou na Assembleia da República que quem não entregou os objectivos individuais não será avaliado. Ninguém nos disse, ainda, que não vão ser essas as indicações que a tutela vai enviar aos directores. Aguardo para ver e espero bem que não…
15. Trinta ou quarenta mil docentes são substituidos, num ápice, por esta equipa ministerial. E por gente sem qualquel habilitação. Lembro, a propósito, o malfadado caso do Espanhol…
16. Sejamos coerentes e lutadores, mas, em simultâneo, responsáveis e realistas. Reorganizemos as forças no campo de batalha e ataquemos no momento certo e com garantias mínimas de não sermos massacrados. O inimigo é perigoso, manhoso, traiçoeiro e está ferido de morte. Como tal, torna-se imprevisível nas reacções e na violência incontrolada que as mesmas possam assumir…
17. Espero que esta gente seja corrida nas “urnas”, em futuros actos eleitorais. E definitivamente!…Mantenhamos toda a força e determinação nesta estratégia, já que é por aí que passa a nossa vitória…
18.Saibamos avançar no momento certo e recuar quando for preciso. É esse o segredo dos vencedores…
E por último, Colega Paulo Guinote e todos os outros que, de algum modo, nos têm conduzido nesta já longa e desgastante “guerra”: não vejo com bons olhos os previsíveis actos isolados, dignos de louvor, admiração e respeito, mas que, objectivamente, se poderão reflectir negativamente naquilo que é essencial: a luta e a vitória que há-de vir. Não confundam o celeiro com a palha (não é bem assim que se diz, mas pronto…), ainda por cima se, existindo a possibilidade de alguém pegar fogo à palha, lá se pode ir o celeiro…
Queremos que fiquem posicionados exactamente onde estão. Não necessitamos de heróis e dispensamos mártires. De nada nos serviriam…
José Gonçalves

In http://educar.wordpress.com/

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