domingo, 29 de maio de 2011

Dúvida Existencial

Margaridas e Borboleta - Barca - Serra da Aboboreira
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Dúvida Existencial
 
 
Será que há por aí professores que, como eu, se sentem incomodados pelo facto de nos serem impostos, pelos pedagógicos, critérios de avaliação que permitem que um aluno de 28% nos testes de avaliação, que medem só conhecimento puro e duro, possa alcançar nível 3 no final do período, ou mesmo no final do ano lectivo?
E isto já para não falar nos pedagógicos que impõem critérios que permitem que um aluno, que tira 0% nos testes de avaliação, possa alcançar nível 3 no final do período ou mesmo no final de ano... bastando para isso impor critérios de 50% para os diferentes domínios?!
Há por aí mais professores incomodados com isto?

Adenda às 17:45 - Onde se lê "medem só conhecimento" deveria ter escrito "medem competências e conhecimento puro e duro".
Deixo a adenda após ter respondido ao comentário do Elenáro. Porque assim o texto fica mais esmiuçado e claro.

27 comentários:

Hélio Matias disse...

Eu...incomodadíssimo!
E sempre que essa situação ou semelhante acontecia, no Pedagógico, votava contra...fazia declaração de voto e...se podia...vetava!
Isto não é nada, é...uma chuchadeira é...um vómito no bom senso de quem trabalha honestamente e...um escarro na idoneidade dos alunos que trabalham e merecem.
Não faltará muito para ver o fundo ao tacho da nossa "deseducação"...queremos sempre estar à frente dos vanguardistas...que já abandonaram tudo isto há muito!
Somos uns...PAROLOS!

Elenáro disse...

Ola Anabela!

A pedagogia é muito boa como ponto de partida mas é, quase sempre, vista como ponto de chegada. Assim sendo, a pedagogia de pouco ou nada serve. Mas adiante.

O problema dos testes é outro e mais grave até. Os testes nunca avaliam o verdadeiro conhecimento do aluno. Avaliam antes a capacidade de memorização e trabalho debaixo de stress. Pessoalmente acho ridículo pensar que 1-3 horas possam avaliar com exactidão o conhecimento seja de quem for. Uma mistura de avaliação baseada em exames e uma componente continua (trabalhos de pesquisa, apresentações...) é o ideal.

Não sei se é essa a tua opinião, Anabela, mas penso que tu achas que os testes são o espelho do conhecimento dos alunos. Não te esqueças que, na maior parte dos casos, um aluno que tenha uma excelente memória e perca tempo a por tudo para a cabeça, chega ao teste e terá melhor nota do que um aluno que, não tendo boa memória, tem uma excelente capacidade de raciocínio e de resposta a situações novas.

Olha que eu vejo muita gente que tira notas altíssimas nos testes e digo-te que, na prática depois são uns perfeitos incapazes. Repara que, mesmo com as notas altíssimas que os cursos de medicina têm em Portugal, nós não temos o retorno equivalente na qualidade dos médicos.

Penso que reduzir a avaliação a um amontoado de perguntas as quais têm de ser respondidas em tempo limite e que decidirão o futuro da pessoa em causa, é tudo menos adequado. Há que testar todas as vertentes e não apenas uma.

Um aluno que tire 100% num teste, pode ser completamente incapaz de fazer um trabalho de pesquisa onde tenha de chegar a uma conclusão por ele próprio. Agora diz-me, Anabela, qual dos dois, se avaliados apenas por uma perspectiva deverá passar.

Não discordo de ti em dizer que há certas coisas que tem de ser quem está com os alunos à frente a decidir mas reduzir essa mesma decisão a uma colecção de testes errada.

Mas repito, isto tem de ser algo que parte de baixo e não algo que caia de cima aos trambolhões feitos por teóricos.

Desculpa o testamento. Entusiasmei-me.

Anabela Magalhães disse...

É um excelente prisma esse da parolice, Hélio! Parece-me que já fomos menos...
Eu também vou protestando, pelas palavras e pelos actos, escrevendo, porque as palavras ditas leva-as o vento... já sabemos como é que é.

Anabela Magalhães disse...

Felizmente entusiasmaste-te... eheheh...
Os testes que eu faço avaliam competências e conhecimentos. Os meus alunos são chamados a fazerem uso da memória, mas também a usarem o cérebro sem ser para despejar, sempre que lhes apresento documentos para eles dissecarem, relacionarem, explorarem.
Neste caso não se trata da minha opinião, mas apenas do que nos é imposto pelos pedagógicos. Com todos os defeitos que têm, e têm, os testes ou os exames finais, dão-nos dados objectivos perfeitamente quantificáveis, em termos de conhecimentos adquiridos e de competências alcançadas, perfeitamente mensuráveis, que são importantes para a avaliação do aluno. Que fique bem claro que eu não quero voltar à avaliação que os meus professores me faziam, baseada unicamente no despejar, no marrar, cuspir, escarrar...
Considero que é importante que assiduidade, pontualidade, cumprimento dos deveres... seja relevante para a avaliação final de um aluno. O que eu contesto são os pesos, do meu ponto de vista excessivos da componente sócio-afectiva ou lá como lhe chamam nas várias escolas deste Portugal à beira mar plantado.
O que te parece?
É que eu no essencial estou de acordo com tudo o que escreveste no comentário...

Hélio Matias disse...

Já há algum tempo lhe enviei um comentário/texto precisamente focando a "moda" que tudo serve para explicar/desculpar/alterar...do sócio-afectivo!
Estou muito mais de acordo com a Anabela e...quase nada com o comentário do Sr. Elenário...não explico porquê senão tenho de fazer um...blog!

Anabela Magalhães disse...

Ó Hélio, explique-se lá, Homem!
Olhe que eu sou a sua Madrinha de Guerra!

Maria Adelaide disse...

Oh!!! E eu tão solidária com os que continuam a batalhar!
Lai

Maria Adelaide disse...

Oh!!! Fico sempre convosco, nesta "batalha" infindável no campo da avaliação!
Lai

Anabela Magalhães disse...

Minha querida Lai, meu exemplo inspirador, sabes como me deixas feliz por te ver deixar rasto aqui nesta minha casa virtual?
E lá está... sempre a aprender, mesmo agora que tu pertences ao clube do Hélio, daqueles que arrumaram as botas profissionais mas que continuam a recusar-se arrumar os neurónios... eheheh...
Sê muito bem-vinda, minha querida!
Xi-coração com saudades...

Maria Adelaide disse...

Amiga querida!
Desculpa estes meus comentários tão "chochos", mas estive a aprender como fazê-los, com o meu mano Paulo ao lado que com uma perícia semelhante à tua, bloqueia qualquer "nabicita" como eu! Mas... a partir de agora, não te safas de mim, pois "tenho todo o tempo do mundo" para te ler e apreender! Beijo!

Anabela Magalhães disse...

Que chochos! Bem sei que fizeste um grande esforço para te aventurares por esta blogosfera fora. E sabes bem que por aqui terás sempre um ninho. Na EB 2/3 também, tenho a certeza.
Agradece por mim a esse teu irmão que te desbloqueou... eheheh... salvo seja!
Beijocas e vai participando nos debates que por aqui se vão fazendo... é nesta troca de opiniões que crescemos todos, não é?

Elenáro disse...

Hélio

Em primeiro lugar deixe lá o Senhor no Céu, que é onde ele está muito bem. Segundo, tem um "i" a mais no nickname.

Também gostaria que fundamentasse o que disse pois, com os dois comentários que escreveu, fico na dúvida se leu/percebeu o que eu escrevi e onde queria chegar...

Anabela Magalhães disse...

Aguardemos, então. Pode ser que o Hélio torne a passar por aqui...

Elenáro disse...

Anabela

Eu percebo que tu tenhas o cuidado de fazer testes que testem mais do que a capacidade de memória. Não posso discordar. Mas repara que, continua a ser uma situação excepcional de avaliação.

Não testa o trabalho todo um ano ou a capacidade de o realizar. A explicação está naquilo que eu já tinha dito. Limita-se o trabalho todo de um período de tempo a 1-3 horas. Isto, do meu ponto de vista, é de redutor.

Agora repara, eu não quero dizer com isto que não se façam testes. Pelo contrário e expliquei isso antes.

Também, quando falo de mais avaliação, não me estou a referir às componentes que referiste. Assiduidade, cumprimentos dos deveres, etc... são importantes mas não importantes o suficiente para ditarem uma mudança da nota para cima ou para baixo. São suficientes para fazerem tirarem dúvidas de pequenas diferenças mas nada mais.

O que eu falava era de mais outro tipo de trabalhos durante o ano. Por exemplo, para a tua área de história, trabalhos de pesquisa bibliográfica, análises críticas sobre alguns períodos históricos e por aí fora. Ou seja, ao fim e ao cabo, testes na mesma mas sem se estar limitado a tempo e lugar e que impliquem o uso de todas as faculdades e conhecimentos dos alunos, bem como adquirir mais "skills" (desculpa mas agora escapa-me a palavra em português) e conhecimentos.

Obviamente que isto teria de ser adequado à idade dos alunos e, deste modo, chegamos ao outro ponto que do teu post. Quem tem de decidir pesos etc e tal são os que têm os alunos à frente e não uns teóricos sentados à frente de uma bonita secretária.

Quanto à tua pergunta e resumindo o que agora disse, eu concordo que o peso da parte "sócio-afectiva" é descabido. O que eu não concordo é, também, com o excessivo peso dos testes escritos de x horas. São importantes, muito mais do que a "sócio-afectiva" mas não ao ponto de serem, por eles próprios, perfeitamente demonstrativos e ultimamente decisivos na nota final.

Anabela Magalhães disse...

Tenho que esclarecer que, para a disciplina de História, os itens avaliados na componente não cognitiva incluem a avaliação exaustiva do portefólio ou caderno diário, que vale 10%, e os restantes itens são dez, com um peso de 2% cada um e que englobam trabalhos de casa, pesquisas, apresentação, organização, assiduidade... como vês trabalho da parte deles que é fácil avaliar e quantificar. Não é por aqui que o gato vem às filhozes. O problema é que para mim é assustador poder ter nível 3 quem tem 28% na parte cognitiva. Acho até aberrante. E os 70% / 30% é exactamente isto que permitem. Não será fácil, bem sei... só que é possível. E isto incomoda-me enquanto docente.

Elenáro disse...

E como propunhas mudar isso, Anabela?

Eu penso que o sistema de avaliação precisava todo ele ser alterado. Mas estou interessado em ouvir a tua opinião sobre como considerarias por o "sistema" mais justo. :)

Anabela Magalhães disse...

Queria, no máximo dos máximos, 80%/20%... acho que seria mais equilibrado. Aliás foi a proposta que levamos ao pedagógico... e que foi chumbada, passo a expressão... eheheh...
Não te parece mais equilibrado?

Elenáro disse...

Eu, pessoalmente, nunca dou mais de 10% para tudo que não sejam avaliações escritas/orais.

Mas sim, 80/20 parece-me melhor que 70/30.

Penso é que na avaliação escrita deve estar mais do que meros testes escritos, Anabela. ;)

Anabela Magalhães disse...

E pode ser, Elenáro. Podem ser trabalhos realizados pelos alunos, individualmente e em regime presencial e também de grupo, sempre presencial... não vá serem feitos pelos pais... ou lá o que é... que também temos disso, tu sabes...

Gabriel Vilas Boas disse...

Aprecio bastante a troca de argumentos entre a Anabela e o Elenário. Opiniões muito válidas e fundamentadas.
Para mim, tenho por pacífico que as atitudes, a responsabilidade, a autonomia também devem ser avaliadas. O problema está no peso destas na avaliação. Mais de 20% (tal como a Anabela defende) parece-me totalmente desaconselhável. Por outro lado, sempre foi um mistério para mim perceber como alunos tão medíocres alcançavam ótimas pontuações nas atitudes, responsabilidade e autonomia. Como pode um aluno ser autónomo, responsável e ter uma excelente atitude na sala de aula e obter resultados medíocres?
Por outro lado, também concordo que o sistema de avaliação de conhecimentos / competências deve ser totalmente revisto. A ficha de avaliação testa a memória, a compreensão, o raciocínio... mas apenas através da escrita. E a oralidade? A capacidade de expôr, de apresentar perante os colegas? Onde fica testada a capacidade de pesquisar, organizar, apresentar usando técnicas mais ou menos modernas? Isso nunca se testa. Talvez por isso haja disciplinas onde a avaliação através dum teste escrito não faça sentido nenhum, a serem desconsideradas aos olhos de alunos e pais, como é o caso de Educação Física... Por que é que um muito bom aluno a Inglês, História, Matemática, Português, não pode ter má nota a Educação Física, quando realmente é mau? Eu penso que uma das razões é estarmos tão habituados a uma só forma de avaliar - a que existia há cinquenta anos!
Para mim, é urgente mudar a forma de avaliar os alunos na Escola.
No entanto, subsistirir outro problema: isso seria justo e útil, quando no final de cada ciclo do ensino obrigatório os alunos têm como única forma de avaliação um exame nacional escrito? Penso que não. Acho importante mudar, mas de modo coerente, ou seja, que a avaliação interna e externa sejam complementares. E sobretudo que o aluno perceba as regras desde início!

Anabela Magalhães disse...

Valeu esperar pela hora avançada para ler o teu comentário, Gabriel.
Parece de facto esquisito que alunos sejam impecáveis para os 30%e falhem redondamente nos testes que valem 70%... mas é o que acontece frequentemente e eu acho que muito se deve ao meio sócio-ecoómico-afectivo em que os alunos se movem. E provavelmente à falta de um acompanhamento precoce, logo logo que na escola se manifesta a falha do aluno.
Posto isto introduzes uma variável que ainda não tinha sido introduzida e que é a questão dos exames e o problema de como articular formas de avaliar tão diversas, e em certo sentido, antagónicas. Pois não se articulam. A bota não bate com a perdigota. E não podemos comparar o incomparável. Até me dói ver colegas nossos a fazer comparações destas, tão grosseiras.
Eu só posso falar por mim, Gabriel, mas os meus alunos conhecem os critérios de avaliação a História logo desde a aula de apresentação, onde eles são dissecados.
E tudo isto dá uma discussão do catano, não é assim?
Parece-me que há consenso à volta dos 80/20... ora já não é nada mau! :)

Anónimo disse...

E haver escolas sem testes? Impossível? Pois eu conheço uma EB 2,3 onde não se fazem testes. "O aluno não aprende nada com os testes." E esta, hein?

Anabela Magalhães disse...

Desconheço por completo, Anónimo.
Que escola é essa? E qual é o sistema utilizado para avaliar os alunos? Conhece-o?

touaki disse...

Anabela!
Lá tás tu a lançar a confusão numa altura destas!Cá por mim compro-te já 2 pacotes!!!
Mas a verdade verdadinha é que nesta matéria ainda sou mais radical do que tu!
É mais que claro que as "tretas" das competências, atitudes e valores devem ser postas lá para os "cafundós" da avaliação.
Não me quero alargar mas repara na incongruência deste ensino: numa época onde a competição é feroz (e não se vê forma de abrandar ou mudar) temos um sistema de ensino onde impera o reino da facilidade, a irresponsabilização, a inconsequência. Estão a "produzir-se" inadaptados, falhados, ignorantes, mentecaptos, incapazes, irresponsáveis, libertinos ("prontos" já chega). Agora repara que no tempo da "outra senhora" onde a competição quase não existia, o mundo lá fora (da escoal) apesar de não ser fácil não era nenhum bicho papão, existia um ensino em que, e pesem todos os seus defeitos, erros e vícios, tinha a particularidade de preparar para a vida.
E digo mesmo mais. Entre a escola e a sociedade existia um pacto implícito: a escola forma com rigor, a sociedade aceita e reconhece essa formação. Hoje este pacto está defeito e isso é bem visível naquilo que se ouve entre as pessoas não ligadas à escola.
E mais não digo...

Anabela Magalhães disse...

Eheheh... eu gosto de provocar uma boa discussão feita da troca, civilizada, de ideias.
Não vou tão longe como tu, Touaki, não quero retroceder ao ensino de antigamente, no qual cresci e do qual não gostei, pela aberração do marra, cospe, escarra.
Mas reconheço-te razão quando falas que se caíu no registo de sinal oposto. É mesmo essa a minha luta. Por isso defendo os 80/20 que acho que já são mais do que suficientes e são mais decentes do que baldice que aí vai.
Beijocas!

touaki disse...

Anabela:
Primeiro - não ligues à minha dislexia... não sei se já troco os dedos no teclado ou se o teclado me troca os dedos... enfim...
Metendo a mão na massa digo e repito que não defendo o regresso ao antigamente. Apenas me limito a apontar a incongruência reinante. Uma escola do conhecimento, sim; uma escola onde se ensine a pensar pela sua própria cabeça e onde se ensine a fazer escolhas, sim; uma escola que prepare para a vida (no sentido mais lato), sim; uma escola que forme simultaneamnente pessoas, cidadãos e profissionais responsáveis e consciente, sim; uma escola que abra as portas da cultura e desperte a sensibilidade do espírito, sim...
Mas parece-me que a coisa que agora temos e que insistem chamar escola é tudo menos isso mesmo. Quer-me parecer, e se calhar chamar-me-ão radical ou teórico da conspiração, que o verdadeiro objectivo político-pedagógico é precisamente esse: criar "broncos", ignorantes, mentecaptos, gente mansa, sem massa cinzenta, acríticos, submissos e quejandos. No fundo gente fácil de controlar e manobrar como é possível verificar nesta campanha eleitoral. Num país onde houvesse um pouco mais de massa cinzenta alguma vez se assistiria ao que se está a assistir?
Kiss, Kiss

Anabela Magalhães disse...

Subscrevo as tuas palavras, Touaki, tim tim por tim tim! Sem mais!
Kiss kiss também para ti!

 
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