quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Memórias Amarantinas

Vista Sobre a Torre de S. Gonçalo - Hoje - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Memórias Amarantinas - S. Gonçalo - Amarante
Fotografias de Eduardo Teixeira Pinto

Memórias Amarantinas

Hoje acompanho as memórias do meu pai e recuo até aos idos anos 30, para relembrar um pedaço de Amarante, desaparecido talvez pelos finais dos anos 70, exactamente a casa onde o meu pai e o seu irmão Rodrigo nasceram, respectivamente a 7 de Janeiro de 1937 e a ? de 1934.
A casa ficava próxima do Largo de Sta. Clara, mais conhecido entre nós como Terreiro das Freiras, mais concretamente no início da Rua de Frei José Amarante, Arcebispo de Cangranor e acabou por ser demolida, talvez para desafogar as vistas sobre a Torre de S. Gonçalo que lhe ficava mesmo por detrás, posteriormente a uma outra que ficava bem no Caminho de Entre-Muros e que estrangulava a passagem a quem vinha do agora Tribunal de Amarante para o referido Largo... um dia destes publicarei aqui a dita casa ainda de pé e as memórias do meu pai deste lugar tão "monte" em plenos anos trinta e quarenta.
De referir que ao tempo em que os meus avós paternos, Rodrigo e Luzia, e seus dois filhos nela habitavam, a casa não tinha ainda o acrescento da varanda e da arcaria que a sustenta, na parte lateral da casa voltada para a Rua de Frei José Amarante que haveria de ser acrescentada já depois da saída da minha família desta casa tão bem localizada sobre S. Gonçalo.
No rés-do-chão vivia a senhoria da referida casa, Dona Aninhas de seu nome, que ocupava a primeira porta à direita visível nas duas fotografias e toda a parte da casa voltada para a já referida Rua de Frei Amarante. Na porta da esquerda vivia o sr. Augusto, conhecido localmente por Cagalhão de Gato, Amarante tem gentes de alcunhos capazes de fazer corar os mais incautos!, que era músico na banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Amarante onde tocava trombone, sendo também alfaiate no Vintém, uma alfaiataria existente, à época, na Rua 31 de Janeiro. Mais tarde estes mesmos aposentos viriam a ser ocupados pelo Pácha, sobrinho do Sr. Toneca e da Sra. Isabel, e sua mulher Esmengarda? Esmingarda?, de alcunho a Espingarda, que era assim que lhe chamavam por brincadeira e que detinham o negócio do aluguer das guigas no rio Tâmega.
No primeiro andar viviam os meus avós e filhos. A entrada fazia-se pela porta do meio, que dava acesso a uma escadaria por onde se acedia ao primeiro andar e ao logradouro da casa com vistas magníficas sobre a Torre de S. Gonçalo. Por baixo da escada ficava uma pequena arrecadação onde a minha avó Luzia guardava a caruma, a lenha e o carvão, necessários para alimentar o fogão da cozinha, que estamos a falar de um tempo em que a comidinha era toda cozinhada com a energia resultante da queima da lenha ou do carvão.
A casa dividia-se em cozinha, primeira porta à esquerda que abria, à época, sobre a varanda corrida ainda visível na fotografia... mas já sem grades de resguardo, sala que correspondia à porta do meio e dois quartos que ocupavam, o dos meus avós, a janela da direita e a primeira janela da generosa varanda acrescentada em data posterior e visível na fotografia, e um outro, ocupado pelos dois irmãos, virado para o início da Rua de Frei José Amarante e ainda, meus deuses como eu queria estas vistas! para o Largo e Igreja de S. Gonçalo e Ponte Velha onde corria uma varanda e onde se situava a retrete, em madeira, claro está!. Por cima, ficavam as águas-furtadas, onde dormia a criada de servir, que era assim que à época se chamava às empregadas domésticas, agora promovidas talvez a assistentes operacionais de qualquer coisa.
A casa foi habitada pelos meus avós penso que desde o seu casamento em 25 de Setembro de 1933, eu haveria de casar na mesma data igualzinha, apenas com a diferença do ano está bom de ver, até à segunda metade dos anos 40, aí por 47/49, altura em que os meus avós se mudaram para a rua mais abaixo, a Rua Teixeira de Vasconcelos, onde o meu pai já morava aquando da sua Comunhão Solene.

Nota Final - Os meus agradecimentos muito especiais à Verónica Teixeira Pinto, filha do enorme fotógrafo amarantino Eduardo Teixeira Pinto que fotografou Amarante em todos os seus quadrantes, registando etapas da sua evolução como foi o caso das duas fotografias que agora publico e que captaram para todo o sempre o início da demolição desta casa tão especial para o meu pai e da qual eu ainda guardo nítidas memórias do tempo em que um dado personagem ligado ao cinema, de nome Faria, aí habitou...
A cedência das fotografias e a sua autorização para publicação foram cruciais e estimulantes para passar a escrito este post de memórias da terra que também me viu nascer.

4 comentários:

Anónimo disse...

Antigamente era mais bonito do que agora esta rua

Anabela Magalhães disse...

Era bem diferente, sem dúvida!
:)

Anónimo disse...

Já haviam uns carros para a altura que era. Mudou muito.

JC

Anónimo disse...

Antigamente tinha mais casas do que agora e mais verdura

 
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