segunda-feira, 6 de junho de 2016

Dia D - 6 de Junho de 1944


Omaha, a Sangrenta - Normandia - França
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
   
   
Cemitérios Alemão e Americano - Normandia - França
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Dia D - 6 de Junho de 1944

Um dia escrevi:

No dia 6 de Junho de 1944, o célebre Dia D, as tropas aliadas desembarcaram em força nas cinco praias da Normandia, baptizadas com nomes de código - UtahOmahaGold, Juno e Sword - depois de a coberto da noite terem sido largados de pára-quedas 20 000 homens por detrás das linhas alemãs e depois dos bombardeamentos feitos sobre as linhas inimigas que constituíam/defendiam o Muro do Atlântico. E assim se deu inicio à operação Overlord, mais conhecida por D-Day.
O desembarque nas duas primeiras praias ficou a cargo das tropas americanas, enquanto na Gold e na Sword desembarcaram tropas britânicas, tendo a Juno ficado a cargo das tropas canadianas.
O desembarque e a progressão no terreno foi irregular e se houve praias onde se registaram poucos mortos e feridos, outras houve onde a carnificina foi grave, como no caso de Omaha Beach. Mas o Muro do Atlântico abriu brechas, e a progressão no terreno, por uma França ocupada pelos nazis, tornou-se imparável.
Os dados do desembarque são impressionantes. Impressionantes em termos de material de guerra desembarcado, em material de apoio às tropas, em alimentos desembarcados, impressionantes em termos do número de homens envolvidos, impressionante no número de militares que ficaram nesse dia banhados em sangue, feridos ou mortos, naquelas praias irremediavelmente manchadas de vermelho. Ainda hoje irremediavelmente manchadas de vermelho.
Os despojos e as más/boas recordações desse dia estão por todo o lado. Nas placas que relembram este ou aquele acontecimento. Nas fotografias dos monumentos, bombardeados e destruídos, plantadas à frente desses mesmos monumentos agora de novo em pé. Nas bandeiras, sobretudo americanas, mas também de outros países que acabaram por se envolver nesta guerra terrível, que esvoaçam ainda em terras de França. Nos agradecimentos públicos do povo francês aos Aliados. Os despojos e as más/boas recordações deste dia estão por todo o lado. Nas praias também. Bunkers alemães, restos de portos artificiais necessários enquanto os portos de RouenLe Havre e Cherbourg não eram libertados, obstáculos diversos, em ferro e betão, que também constituíam a defesa do Muro do Atlântico.
10 000 jovens dos exércitos aliados perderam a vida nos combates desse dia. Só nesse dia. Os cemitérios pontuam a costa, aqui e ali. Britânicos, americanos, alemães. Milhares de vidas ceifadas numa guerra que provocaria um total de 50 000 000 baixas, numa guerra com contornos aterradores, numa guerra com contornos demenciais e patológicos. Números que me continuam a deixar perplexa vindos dum mundo dito "civilizado".
E assim se explica a visão fantasmagórica de praias imensas, praticamente desertas, onde uma ou outra pessoa passeia junto à água, onde uma ou outra pessoa se senta na areia olhando em redor, fitando o mar, onde a maioria dos visitantes, muitos na praia de Omaha, rebaptizada de Omaha Sangrenta, não entra.
O silêncio é impressionante. Totalmente diferente do silêncio espampanante do deserto. É um silêncio pesado/leve, imensamente triste, o que envolve aquelas praias irremediavelmente manchadas de sangue até hoje.
E entrar por aquelas praias adentro não é uma experiência agradável, quando se tem consciência do que por lá se passou. Não é, definitivamente, uma experiência agradável.
No meu caso não foi.

Nota - As fotografias da praia de Omaha e do cemitério americano foram tirada de solo americano, oferta dos franceses em sinal de profundo reconhecimento pela ajuda prestada em tempos tão difíceis para a Europa.

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