Museu Amadeo de Souza-Cardoso - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
A matéria de 9.º ano pede encarecidamente que calcorreemos esta calçada amarantina, para baixo e para cima, porque nada melhor do que ver as vanguardas artísticas do início do século XX no sítio onde elas estão guardadas, percorridas que foram, muitas delas, pelo nosso nome maior da pintura portuguesa, o nosso querido Amadeo.
Amadeo percorreu diversos ismos, depois de se ter dedicado à caricatura, e foi futurista, cubista, abstraccionista, fauvista... acima de tudo foi ele próprio e por isso triunfou, tal como ele queria, sem soçobrar!
Devo dizer que a visita decorreu de forma exemplar.
Descemos rápido a calçada de ruas estreitas e antigas que formam o pequeno miolo do centro histórico da cidade que se estende pela margem direita do Tâmega. Não tem que saber, para quem está cá no alto da cidade é só deixar-se-ir ruas abaixo e desembocará, inevitavelmente, no Largo de S. Gonçalo/Praça da República. Depois é só avançar mais uns passos e encontrar a porta do Museu Amadeo de Souza-Cardoso que acolhe algumas das mais importantes obras deste pintor amarantino de primeiríssima água!
A visita foi conduzida por uma "velha" amiga nossa, a Dr.ª Teresa Paiva, a quem agradeço desde já a amabilidade, simpatia e profissionalismo, e que nos guiou pelas várias salas, claro que, com mais detalhe, observámos o grande Amadeo, mas sem deixar de espreitar Jorge Pinheiro e uma ou outra obra do Prémio Amadeo de Souza-Cardoso.
Sempre que lecciono 9.º ano, não falho a organização de visitas de estudo ao Museu Amadeo de Souza-Cardoso, visita que integra o Plano Anual de Actividades do Agrupamento de Escolas de Amarante. De facto, o modernismo do início do século XX faz parte integrante da matéria leccionada neste último ano do 3.º ciclo de escolaridade e, ademais, o museu está apenas à distância de uns passos a pé pelo centro histórico de Amarante, tão belo e pitoresco, e está apenas à distância de um levantamento de rabo da cadeira da sala de aula... isto para quem gosta de dar aulas sentado, o que não é, manifestamente, o meu caso.
Já aqui referi a estranheza e a tristeza que sinto sempre que tenho turmas de 9.º ano que à pergunta "Quem nunca visitou o Museu Amadeo de Souza-Cardoso?" respondem com muitos deditos no ar pertencentes a gente em formação acelerada, que não sabe se o interior do museu é branco ou é preto e que não faz a mais pequena ideia da riqueza e importância do seu recheio.
Já fui muito diplomata ao fazer e escrever as críticas a uma escola que se permite à arrogância de não dar a conhecer aos alunos que a frequentam, muitos desde o pré-escolar, um autor que é só o expoente máximo da pintura portuguesa do seu tempo, que ainda para cúmulo, é nosso conterrâneo e que nós temos a felicidade de "possuir" e, ao mesmo tempo, não dar a conhecer um Acácio Lino, um António Carneiro, ambos Amarantinos de gema, e ainda tantos e tantos vultos maiores das artes portuguesas do século XX e XXI... e tudo isto quando, ainda por cima!, temos pessoal muito qualificado e preparado neste museu e que guia os visitantes preparando excelentemente as visitas de acordo com as faixas etárias a que elas se destinam.
Não se arranjará um pretexto(zito) para nos ciclos anteriores fazer umas visitas ao Museu Amadeo de Souza-Cardoso? Pergunto eu que continuo a abrir a boca de espanto porque uma grande parte de alunos numa turma, me confessa nunca ter entrado num equipamento municipal, nosso, portanto!, que ainda por cima não lhes cobra a entrada.
Por isso, e porque estou cansada de ser diplomata e estou já sem pachorra para isso, por ter já dado muito para este peditório, escrevo: A escola abominável em Amarante é aquela que permite que alunos residentes neste concelho, nesta cidade, muitos desde desde que nasceram, cheguem ao 9.º ano de escolaridade sem nunca terem entrado no Museu Amadeo de Souza-Cardoso.
É claro que eu podia adoçar esta afirmação para não ferir as susceptibilidades duma escola que permanece muito presa à sala de aulas, muito presa ao saber livresco ou, agora mais modernaça, ao saber PowerPointesco e que continua sem se preocupar em proporcionar aos seus alunos outras vivências, outras experiências, outras oportunidades, caminhos e trilhos outros, sem se preocupar em abrir janelas e portas escancarando-as de par em par. Poder, podia, é certo, mas não estaria a cumprir o objectivo deste post. É que há uma certa escola que precisa dum abanão gigantesco para se mover e modernizar, para tomar consciência do tempo que vive, situado no século XXI... vai fazer dezasseis anos...
E, só para terminar, o tempo não voltará atrás. E, é certo, santos da casa terão de fazer milagres.
Certo, Amadeo?
Nota 1 - Post adaptado de posts anteriores.
Nota 2 - No dia 25 de Outubro de 2018 cumpre-se o centenário da tão precoce morte de Amadeo.