quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Palavra a Teixeira de Pascoaes



A Palavra a Teixeira de Pascoes

Hoje publico um extracto do livro "Duplo Passeio", de Teixeira de Pascoaes, em que este excepcional autor amarantino se detém sobre o nosso umbigo, o nosso Largo de S. Gonçalo, e sobre alguns equipamentos e pessoas que o habitavam e povoavam à época.
O Café do Belchior, da Maria Zé, de S. Gonçalo ou simplesmente o Café-Bar, ainda sobrevive lá bem no coração do miolo histórico de Amarante, o único que vale a viagem para quem vem de fora e se desloca aqui ao burgo. Claro que não exactamente o mesmo, o café, hoje mais crescido e maduro, e sem a presença do poeta, cliente habitual deste café que o meu avô Rodrigo e os seus dois irmãos, Ismael e Belchior, pariram, sem a presença do poeta que bebia o escuro veneno em chávena só a ele reservada, pela minha tia Maria José, a tal cantada nesta deliciosa prosa de poeta.
Partilho um naco de prosa que me diz tanto, a mim e a muitos amarantinos que ainda privaram com algumas destas personagens, incontornáveis, da Amarante de então.

(...) Longe dos garotos, encostados ás esquinas, vultos ociosos e aborrecidos contemplam uma paisagem anti-bucólica, tôda largo de S. Gonçalo, onde há pombas a voar em tédio azul. Outros, debruçam-se, na varanda, sobre o rio. Olham o derivar das águas, com um ôlho de Heráclito vazio. Quantos Platões e Aristóteles vazios! Que multidão!
Mas, em contraste com o derivar das águas, irreversível, ergue-se o zimbório rotundo, pousado no telhado da igreja, a certa distância da torre emagrecida. É a tôrre da abstinência e o zimbório da tremenda, em que as crateras de vinho, os presuntos, os leitões, os adiposos monges e as trevas nocturnas, se confundiam num pesadêlo de Saturno, depois de devorar os filhos.
Êste largo de S. Gonçalo é o centro da vila, o coração do próprio santo empedernido, mas sensível e aberto a todos os romeiros piedosos e a todos os turistes das camionetes, por mais heréticos ou apóstolos de Baco. Cabe tudo, dentro dêle, até o café do Belchior ou, antes da Maria Zé, a servir o precioso veneno... tão negro, e ela corada, loira, sorridente, em estilo da Renascença, uma perfeita Gioconda. Não será a Gioconda encarnada? E, por isso, fugiu do Louvre... para Amarante. Do que é capaz uma obra de arte! A si mesma se anima e liberta do mármore ou da tinta. Não é uma deusa aquela pomba? Não faz ela o milagre de viver?
... Tomei uma chávena do dito veneno precioso, enquanto o automóvel enchia o papo de gasolina, no meio de garotos, qual dêles o mais pitoresco e andrajoso. Como futuros portugueses, têm já, no rosto, não sei o quê de sebastianista. (...)

8 comentários:

Helder Barros disse...

Obrigado por partilhares Pascoaes connosco!

Anabela Magalhães disse...

Sempre às ordens, Comandante!
E que me dizes das novas da ESA?

Helder Barros disse...

Estou parvo...
Nem comentei, porque penso que é brincadeira tua...
Mas neste País, podemos esperar tudo!
Sampaio com a do Marão... vai haver estoiro!

Anabela Magalhães disse...

Mas qual brincadeira qual quê! Era lá eu senhora de tamanha imaginação!
O reboliço já começou!
Graças a nós não estaremos lá para ver... ufa!
Vai sobrar para muitos...

Helder Barros disse...

Olha e a EB23 como fica no meio disso!
Telões acho que vai agrupar com Vila Caiz!
Isto é para poupar e para umas vinganças... eles andam aí!

Anabela Magalhães disse...

Também já ouvi essa versão. Se assim for lá se vai uma direcção e um director cum catano. Kakakakaka... é a única coisa engraçada em tudo isto... estás a imaginar alguns de pastinha a ir para a salinha de aulas? De onde fugiram a sete pés faz décadas? Kakakakaka... é de facto a única coisa engraçada no meio desta maluqueira toda!
E quem ganha, nesse caso? Fácil! Quem tem mais poder dentro do ps, não te parece?
Estou apenas a ser realista que a minha idade da inocência já lá vai!
Porca miséria de país aberrante!

Helder Barros disse...

Subscrevo a tua opinião... já não temos idade para sermos inocentes e já vimos muitos filmes parecidos... está aberta a tourada!

Anabela Magalhães disse...

Está, Helder! Por agora somos espectadores. Mas atenção. Vai sobrar para muitos de nós que vão completar horários em várias escolinhas e andarão de popó a fazer estrada de um lado para o outro! Às suas custas, pois então!

 
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