Fotografias de Teresa Martinho Marques
"Têm 11/12 anos, estão no sexto ano... Não, não estão abrangidos pelo projeto de flexibilização e autonomia curricular, mas, sim, trabalham em projeto, não porque uma determinação superior o indique, mas porque sempre integrei saberes na sala de aula (eu e muitos outros) e procurei não servir o mesmo prato a todos... e porque antes das determinações já se reservava um tempo para esse trabalho por decisão da escola no ano passado (mas... lembram-se da área de projeto? Pois... vamos criando coisas, deitando fora, voltando a repeti-las e assim sucessivamente... como se fossem grandes novidades). Quem entrar na aula do 6B vê grupos a trabalhar autonomamente, vê alunos a trabalhar sozinhos (nem sempre os mesmos, que os dias não são iguais), vê alunos a trabalhar a pares, por vezes também trabalho em grande grupo com momentos mais teóricos de explicação (a necessidade é que comanda), percebe que os alunos não estão todos na mesma página, às vezes nem na mesma unidade de trabalho e ontem dois deles (porque concluiram o trabalho mais académico em mãos, a maioria dele trabalhado autonomamente apenas com o meu apoio aqui e ali), estavam a trabalhar no projeto interdisciplinar da turma que é exigente e complexo. Depois de uma investigação sobre o que a OMS indica como hábitos saudáveis de vida (disciplinas de educação física, ciências e português), elaboraram um questionário com variáveis estatísticas criteriosamente escolhidas (matemática e português) que aplicaram a uma amostra (critérios por si definidos para garantir representatividade) da população estatística (toda a escola). De seguida trataram as muitas dezenas de respostas, separadas por intervalos de idade, contabilizaram as frequências absolutas e estão na fase de cálculo das frequências relativas, construção de tabelas no excel e decisão sobre os gráficos a usar (matemática). Primeiro aprenderam a construir gráficos circulares "à mão", convertendo percentagens em ângulos (tudo conceitos do programa de matemática), porque é importante usar as ferramentas digitais sabendo a matemática que se esconde dentro delas (não é magia, alguém soube fazer os algoritmos primeiro)... só depois avançámos para o excel. Primeiro nos telemóveis e tablets e depois no computador. Ontem, na aula, continuou a avançar-se e no final serão tiradas as conclusões e comunicados os resultados à comunidade, com orientações, no final do ano letivo (provavelmente com um vídeo). E, os testes não desapareceram... a avaliação sempre foi e será formativa, os testes têm um papel nela (sem determinarem tudo), porque vida fora existirão momentos em que lhes serão exigidos nervos de aço, calma e avaliações formais... na escola ou na vida. Condições que o têm permitido? A turma tem 20 alunos (não me venham com os estudos a dizer que entre 28 e 20 não há diferença... experimentem e logo vêem) e neste ano de transição ganhámos tempo na disciplina de matemática que perderemos no ano que vem (6 tempos de 50 minutos, o que nos permite trabalhar com calma e profundidade, integrar saberes, recuperar alunos que transitaram com negativa). Não se fazem omoletes sem ovos e a diferença não está nos ciclos mais ou menos repetidos de orientações superiores (em mais de 30 anos já vi de tudo e nenhuma novidade no que se reinventa em cada ciclo político)... A diferença estará sempre nas condições de trabalho, nos programas, na forma como os professores acreditam ou não na importância de um trabalho crescentemente exigente e integrado, ao invés de aderirem a modas acriticamente, ou a cosméticas que nem sempre (quase nunca) atingem a alma da escola nem das práticas. Nunca precisei (assim como muitos professores) de balizas e infinitos papéis para saber o que é o correto. Claro que a diferença também está nas famílias, na sua ética e educação, na sua exigência e acompanhamento, no apoio que nos têm dado exigindo dos seus meninos autonomia, responsabilidade e trabalho, como nós temos feito com esta turma (de quem terei infinitas saudades). Sei que a maioria destes alunos está preparada para enfrentar o terceiro ciclo (a vida?) e o seu caminho nunca lhes foi facilitado, pelo contrário. A exigência apoiada (com condições) é o que os salva, é o que os ajuda a crescer e dilui as diferenças sociais apagando fronteiras injustas. Orgulho de vocês, Miúdos lindos! E de um conselho de turma excelente que, mesmo à margem de qualquer "PPFAC", sabe exatamente o que tem para fazer."
Nota - Post retirado daqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário