Revolução - Sala de História
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
Confesso que gosto de jogar limpinho com os meus alunos. Honestidade precisa-se e esta deve começar em casa e ter um prolongamento na Escola nos gestos diários que fazemos, que por eles são escrutinados, gestos estes que devem reflectir o que dizemos sob pena de sermos simulacros... talvez de muitos exemplares de políticos que parecem reproduzir-se das ervas daninhas e que vivem emaranhados em esquemas manhosos, às vezes muito mais do que manhosos.
Antes da greve começar, greve que ainda decorre às reuniões de avaliação, falei francamente com os alunos de todas as minhas turmas sobre o profundo descontentamento dos professores portugueses relativamente ao poder político e a quem nos tutela. E expliquei-lhes os 9 anos, 4 meses e 2 dias de que nós não abrimos mão. Vejamos, se a minha carreira contributiva for de 40 anos... como explicar a justiça de me fazerem desaparecer, para efeitos de progressão, 1/4 dela?!
Confesso que também gosto de os espicaçar, de os deixar atordoados com aquilo que por vezes digo, fazendo trocadilhos que eles não estão habituados a ouvir e que, de repente, lançados assim de supetão sobre uma sala de aulas cheia de adolescentes, os fazem arrebitar as orelhas, as dúvidas sobre se entenderam o que lhes disse espalhadas pelas caras... e... Professora, não se importa de repetir o que disse? E eu lá repito, devagarinho...
A última foi - Tomem nota para o resto da vossa vida - se vocês forem bem mandados, sejam bem mandados... mas se vocês forem mal mandados, sejam mal mandados!
Bom, penso que todos eles entenderam o sentido das minhas palavras, sabem que nós fazemos uma equipa na sala de aulas, precisamos uns dos outros para progredir e ficaram absolutamente solidários com a nossa luta apesar dos constrangimentos que esta greve traz para todos - para eles, mas também para nós.
Os alunos de uma das turmas em particular reagiram de forma entusiasmada a esta centelha de fogo que atravessou aquele espaço contido entre quatro paredes - eu sou, frequentemente, uma professora entusiasmada na sala de aula - centelha de fogo que hoje está presente e lavra forte na sala de professores - e atirou-me entusiasmado e com os olhos a brilhar - Professora, vamos fazer uma Revolução?
Bom, o melhor mesmo é fazermos duas - Uma a começar no interior de nós próprios, a outra... pode ser todos os lados...
E começamos pela Sala de História. Estamos a sair das catacumbas. Eu e eles. Descalços.
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