Este país está-me a parecer surreal à conta de uma geringonça cujo funcionamento não estou, de todo, a entender e que, confesso, está-me a deixar completamente perplexa com a passividade das pessoas perante esta autêntica pouca vergonha que se passa há anos a fio, mas por certo desconhecida pela maioria da população, e que é uma empresa (de mercenários?) poder contratar, nos dias que correm, empregados à jorna, ou seja, ao dia, para trabalho permanente, anos a fio, durante cinco, dez, quinze anos e até mais.
Ponto um - Este governo diz-se de esquerda
Ponto dois - Este governo está espaldado em dois partidos que se dizem de esquerda, exactamente da esquerda que se diz lutar, furiosamente(?), pelos direitos dos trabalhadores.
Começo pela legislação do direito à greve, não toda para não vos maçar muito com isto de leis, e não me venham dizer que tecnicamente estes trabalhadores não estão em greve!!!
Greve
Artigo 392.º
Direito à greve
2 – Compete aos trabalhadores definir o âmbito de interesses a defender através da greve.
3 – O direito à greve é irrenunciável.
(...)
Artigo 397.º
Proibição de substituição dos grevistas
2 – A concreta tarefa desempenhada pelo trabalhador em greve não pode, durante esse período, ser realizada por empresa especialmente contratada para o efeito, salvo no caso de não estarem garantidos a satisfação das necessidades sociais impreteríveis ou os serviços necessários à segurança e manutenção do equipamento e instalações.
Agora, como é possível este governo, dito de esquerda, patrocinar estes autênticos mercenários sem escrúpulos que enviam trabalhadores para substituir trabalhadores em greve?
E como é possível ver deputados do PCP e do BE lá no meio, misturados com os estivadores, quando na Assembleia da República votam alinhadinhos numa geringonça que tresanda a Estado Novo?
E, caríssimos leitores, este fedor a Estado Novo não é novo, senti-o nas minhas narinas exalado das escolas portuguesas no Verão passado, com a inspecção nas escolas, "pressionando" os professores a fazerem o que uma tutela ordenava, histérica, ilegalmente, num profundo desrespeito perante as leis deste Estado que está a chegar a um ponto deprimente, porque vale tudo, porque os fins justificam os meios... mas não deviam justificar, digo eu.
E assim foi, a todo o vapor, por todo o país, fizeram-se conselhos de turma ilegais, com um, dois, quatro... professores em greve, quando até bastava apenas um professor em greve para o inviabilizar e isto para nem falar dos conselhos de turma que fabricaram as notas dos professores ausentes que as não tinham lançado, e bem porque não tinham que as lançar!, professores a substituirem os professores em greve, para, em inícios de Agosto, recebermos a prenda querida do agachamento da maioria. E foi assim que pudemos ver, e saber, que o nosso trabalho, especificamente pedagógico, fora equiparado a trabalho meramente administrativo. Foi, confesso, o pior momento de toda a minha carreira que não foi, nem nunca será!, digerido.
Pois este fedor a Estado Novo volta a exalar agora, da boca de um primeiro-ministro que nos deve deixar a todos profundamente envergonhados, mas que está confiante que os portugueses são, por certo, totós.
Um país que se verga perante mercenários (?) é um país que perdeu o respeito pelo valor do trabalho e que perdeu o respeito pelos trabalhadores que o executam. Que isto parta de um governo dito de esquerda, apoiado em partidos que se arrogam em ser os defensores dos trabalhadores, é de levar as pessoas, no mínimo, ao vómito.
Espero que lhe saia o tiro pela culatra... sim, António Costa?
E contra a precariedade, o único caminho é o da luta. Não há outro meio.
Lutar! Lutar ao lado dos professores precários, lutar ao lado dos precários estivadores... certo?
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