Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
Os Franceses e a Boa Educação
O meu contacto com os franceses vem de longe, da minha infância, já que os meu pais tinham uns amigos franceses com quem travaram conhecimento na década de sessenta, fãs incondicionais de Amarante, da vila e do seu rio, da vila e das suas gentes. Esses dois casais tinham filhos mais ou menos da minha idade e era ver-nos no rio, saltando penedos, pescando girinos de saco plástico e outras coisas que tais. O meu contacto com os franceses situa-se, por isso, lá longe no tempo.
Voltei a contactar com eles por esse mundo fora, através de contactos fortuitos em férias, onde os admiro, nos lugares mais recônditos, quantas vezes fazendo passeios pedestres, mochila às costas, que eles gostam deste contacto directo do pé com o planeta. E voltei a contactar com eles na sua terra, uma e outra vez em que me aventurei por terras francesas.
Agora foi tempo de me misturar nas ruas onde eles caminham, nas esplanadas onde eles se sentam, nos restaurantes onde eles comem, nas padarias onde eles compram pão, nos pequenos hotéis familiares que são deles e que por eles são frequentados, de visitar os sítios por onde eles andam de férias.
E foi tempo de os admirar.
Silenciosos, falando sempre em tom baixo e doce, extremamente polidos e corteses, delicados no trato, duma educação esmerada, pedindo desculpa por qualquer coisa que esteja menos bem, agradecendo constantemente, desejando um bom dia, desejando que tudo corra bem, oferecendo uma simpatia.
Andámos pelos Pirenéus, por Poitou e Aquitânia, por Périgord, por terras de Quercy e Gasconha, pelo vale do Loire, pela Bretanha e pela Normandia. Por todo o lado os encontrei assim.
Chegados a Espanha parámos numa área de serviço quase vazia. O barulho era ensurdecedor. Televisão com o som numas alturas de bradar aos céus. Máquinas de jogos que telintavam por tudo quanto era lado. Pouca gente. Empregados espanhóis dentro do balcão falando alto. Um grupo de camionistas portugueses, aí uns cinco, falando alto e bom som num linguajar insolente e ordinário, tal e qual como se a área de serviço fosse propriedade privada deles. Azar o meu. Logo na primeira paragem tinha de me cruzar com uns grunhos portugueses.
Troquei impressões sobre isto com a minha amiga Aurelina, que viveu em França e lá fez todo o seu percurso escolar, universidade excluída. Confirmou a minha opinião. Adiantou-me mais. Durante o ano lectivo que findou, a Escola E. B. 2/3 de Amarante recebeu um grupo de cerca de quinze alunos, dos 10 aos dezoito anos, que passou um dia inteiro com os alunos portugueses, neste caso amarantinos. No final do dia o balanço. Gostaram muito.
Algum reparo? Os alunos portugueses nunca pediam desculpa, disseram os miúdos franceses.
É, temos muito que aprender com os franceses em matéria de boa educação. Eu incluída.
8 comentários:
Ora aí está amiga, a civilização!
Ora viva menino Helder!
Há quanto tempo!
Quanto à educação dos franceses é mesmo esmerada. Venho literalmente estupefacta. Porque eles são mesmo assim. Por todo o lado. Nesta matéria temos muito, mas muito que aprender com eles.
Isso da estação de serviço espanhola, lá devia ser pela província de Burgos, aconteceu-me também a mim voltando da França, idéntico. São mais educados, mas um bocadinho mais frios também, sobretudo na cidade que eu melhor conheço, na terra de Maupassant.
Si que nós temos de melhorar na educação, porém eu não quero chegar a ser como eles.
Os povos têm características comuns, que qualquer visitante atento capta se misturar com eles minimamente.
Os espanhóis são alegres, exuberantes e excessivos.
Os franceses são um primor em educação.
Os marroquinos são acolhedores e hospitaleiros.
Claro, há excepções.
Que só servem para confirmar a regra.
E nós temos que melhorar a educação, Rui. Concordo em absoluto. E melhorar no respeito devido aos outros. Principalmente cá em Portugal, onde noto uma erosão forte nas boas maneiras, no brio, no polimento, na delicadeza do trato que já conheceu melhores dias.
Bjs
E fica bem.
Os alunos Portugueses é que rulam...
Cada um aprende o que quer e o que lhe faz falta.
E se a eles lhe faz falta aprender a pedir desculpa... Pois que assim seja.
Nós preferimos outro tipo de aprendizagens.
Já agora eu nunca ouvi nenhum ministro de qualquer governo chamar-nos "Escumalha" mas...
C'est la vie
Os alunos portugueses nalguns casos rulam. Vocês, meus alunos do 9º F, sem dúvida que rularam quando, por escrito, tiveram a humildade de pedir desculpas à enfermeira e à médica que, graciosamente, vos foram dar uma palestra, por um comportamento infeliz e mal educado.
Estais, pois, no bom caminho.
Nota - Não é totalmente verdade que cada um aprende o que quer.
Daqui a uns anos a gente conversa.
Ah! E boa educação por vezes tem limite. Os franceses também são capazes de partir a loiça e colocar os ponteiros do relógio a andar a outro ritmo. Olha a Revolução Francesa. Olha o Maio de 68.
Beijocas grandes, Pi.
Sabe que convenciona-se que sob tortura qualquer pessoa diz qualquer coisa...
E consta-se a pressão que foi exercida para eu assinar aquele papel...
Fica a pergunta:
Será que no fim do Maio de 68 eles fizeram todos um pedido de desculpas em "coro"?
Nem sob tortura, meu caro Pi, o que não foi o caso. Lol
Tiveste a liberdade de não assinar.
Muaaaaahhhhhhhhhh
Ah! E já houve quem neste país chamasse à juventude da época "Geração Rasca".
Enviar um comentário