quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Manhã Amarantina Atípica

Largo de S. Gonçalo - S. Gonçalo - Amarante - Portugal
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Manhã Amarantina Atípica

Finda a primeira e única aula da manhã, desloquei-me a pé em direcção ao meu umbigo, o Largo de S. Gonçalo, ensolarado como só ele o sabe ser em manhã de sol radioso.
Estamos no Inverno, num tempo de mais quietude para o burgo hoje rompido pelos três casais espanhóis que se deslocavam pelo centro histórico acima e que, posteriormente, entraram no café fazendo a algazarra que só os espanhóis sabem fazer, fazendo-me parar por momentos e levantar os olhos da correcção dos testes dos meus alunos, recolocar os óculos de sol que me permitem ver ao longe, olhar demoradamente o Largo, o belíssimo exterior da Igreja de S. Gonçalo inundado de sol, olhar as pessoas que se movimentam, entrando na igreja, cruzando-se para cima e para baixo, as pombas que esvoaçam doidas. De repente, eis que uma turma de miúdos em vista de estudo surge e demora-se olhando em redor e tanto que há para ver a partir deste meu umbigo!, o rio Tâmega que serpenteia cidade abaixo dividindo-a em duas, a Florestal que desponta, as igrejas, não esquecer a belíssima e altaneira Igreja de S. Domingos ou de Nosso Senhor dos Aflitos como que a abraçar-nos, agora que aflitos andamos todos nós. E de repente, eis que corre largo abaixo um magote de jovens inteiramente equipados, não sei se correspondendo a uma turma da ESA, ou do Colégio de S. Gonçalo, não sei se correspondendo a desportistas de alguma associação local.
Amaria ver a minha cidade sempre assim, em movimento, em gargalhadas e palavras que se cruzam reflectindo-a viva.
Convém não esquecer que esta vida também depende de cada um de nós e é também da nossa
responsabilidade. Se a abandonarmos, se a esquecermos, se não nos passearmos nela a pé, rua acima, rua abaixo, afinal a cidade melhor ficaria sendo uma vila de tão pequena que é!, se não a habitarmos... como poderemos conservá-la, respeitá-la, legá-la asseada aos nossos vindouros?
Ok, também ao poder local pertence esta responsabilidade e, por vezes, este parece mais empenhado em esventrá-la de vida quando a deveria ajudar por todos os meios e mais alguns, ao seu alcance, para inverter um abandono asqueroso a que o centro da minha amada cidade está votado.
Hoje foi uma manhã de Inverno atípica na minha cidade.

2 comentários:

Margarida Alegria disse...

É verdade, é preciso andar a pé, não só para melhor apreciarmos melhor as nossas cidades, mas para as reavivarmos. Por vezes esquecemos que também as pessoas fazem parte da paisagem.
Mete-me impressão como cada vez menos crianças vão a pé para a escola, mesmo que a poucos metros... e já nem falo em irem sozinhas. Mais movimento a pé levaria também a maior segurança( eentre-ajuda) e não ao contrário, como se pensa às vezes.
Nunca mais me esqueço daquela notícia, há uns anos, de uma senhora que foi atropelada em pleno dia, na turística Av. do Brasil/Montevideu, no Porto, frente ao mar, tendo ficado estendida na estrada umas quatro ou cinco horas, morta, até alguém "dar conta" ou pedir socorro! :(
Já em relação a Amarante, até pensava que fosse uma cidade bastante pedestre, tendo em conta que é quase uma citadela muito fotografada e visitada. Infelizmente muita coisa muda,nos lugares, geralmente "not for better", como diz a canção dos Beatles!
Beijinho
(ainda estou para comentar, há uns dias, um belo post que tinhas aqui sobre o zelo que tens pela correcção da Língua portuguesa, até nas aulas de História. Gostei muito e concordo com os teus métodos, que não me escandalizaram, pois são por vezes os melhores para os alunos aprenderem que devem escrever bem em Português em todas as disciplinas!Ou, como se proclamava há uns anos: "Somos todos professores de Português". Obrigada, Anabela!)

Anabela Magalhães disse...

Tens toda toda a razão, Margarida!
E sim, Amarante parece mais uma cidadela tal é o seu tamanho... pequeno... eheheh... mas nem por isso muito pedonal. :(
Obrigada pelas tuas palavras de apoio ao "Somos todos professores de Português"... porque somos, ou se não somos dvíamos ser. E por não te escandalizares com os meus métodos antiquados... eheheh... tenho a mania de olhar para trás e aproveitar tudo o que achei útil e que deu resultado comigo...
Beijos!

 
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