Bombos de Jazente - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
À hora a que escrevo já cheguei do meu umbigo, S. Gonçalo, hoje povoado pelo som inconfundível dos bombos que ribombam sem parar. Confesso que, dobrada pelo cansaço, desisti primeiro que os tocadores.
Acompanho-os fascinada desde que me lembro de ter autorização de arruar em liberdade pelas ruas de Amarante, em dias de Festas de Junho.
Primeiro os vários grupos vão chegando e vão actuando isoladamente, cada um na sua vez. O povo movimenta-se e faz círculos compactos à volta do grupo que actua no momento ou procura conseguir um lugar na primeira linha, só na primeira linha se vibra com os tocadores, junto do grupo que tocará de seguida. Tocam os de Vila Chã do Marão, tocam os de Lufrei, tocam os de Stº André de Freixo de Cima, toca o grupo composto exclusivamente por mulheres...
Depois do fogo de artifício, convém não esquecer que amanhã será o grande dia dele, os grupos começam o despique propriamente dito, tocando todos ao mesmo tempo, horas a fio, num espectáculo demoníaco de se lhe tirar o chapéu!
Acompanhei o meu grupo preferido na primeira linha, os de Jazente, os Vermelhos, não confundir com os que estão aqui do lado direito e tocam sem parar quase desde a abertura deste blogue e que são os de Freixo de Cima, os Laranjas, pelos quais também sinto uma admiração muito especial.
Os rapazes tocadores tocam ora suavemente, ora arrancando das peles dos bombos e das caixas um som completamente infernal. As camisas colam-se ao corpo, as caras escorrem suor e avermelham-se contorcendo-se em esgares provocados pelo esforço, os dedos vão-se protegendo com adesivo colado directamente sobre a pele e cortado com os dentes, vão-se protegendo os pulsos, a cerveja escorre, a água também, por vezes até cara abaixo vinda directamente das garrafas. O espectáculo é qualquer coisa digna de ser vista.
A minha reacção é sempre a mesma e passa por um misto de admiração por estes rapazes jovens tão possantes, à mistura com uma enormesca incredulidade... mas como é possível tocar-se, naquele esforço, que por vezes quase roça o transe, horas a fio sem parar?
Enquanto escrevo este post, aqui mesmo no meu scriptorium, deixo-me embalar pelo ribombar que me chega do Largo de S. Gonçalo, que continua, possante, pleno de vida, pleno de paixão.
O despique de bombos não é uma espectáculo que se aconselhe a pessoas de ouvidos frágeis e de frágeis interiores... porque a música penetra-nos pelos ouvidos, pelos poros, pelo coração e ecoa e volta a ecoar dentro de nós. De resto, experimentai um dia, leitores meus! Garanto-vos que jamais esquecereis o filme onde podereis ser figurantes espectadores privilegiados.
Parabéns pelo magnífico espectáculo João, Zé Carlos, Cristiano, Carlos... e todos os outros cujos nomes desconheço por completo e que cometeram a proeza de ainda não terem caído para o lado de pura exaustão à hora tardia a que escrevo.
Nota - A fotografia que acompanha este post é do ano passado e não é do despique. Tenho a dizer-vos uma coisa, rapaziada: - Arre que vocês cresceram!!!
4 comentários:
Cá este o post dedicado á música. Pena é não ser sobre os concertos na Casa da Música. Mas uma pessoa não pode querer tudo. E bombos são bombos... E nestas coisas da música nada melhor que um despique...
De resto, como diria alguém, registo... o teu sentido de oportunidade! Eheheh
Adoro música e de tipos muito diferenciados. A música extraída destes instrumento de percussão é, como dizer?, música celestial para os meus ouvidos e energética para o meu coração.
Ao som deles abro as minhas asas e voo sem parar em voo livre que me leva aonde eu quero, como eu quero, com quem quero. Eu sou construtora dos meus caminhos. Para o bem e para o mal... eheheh...
Beijocas extensivas a toda a tua maravilhosa família! Excelentes Festas de Junho... ontem encontrei o Anterinho... eheheh...
Eu também gosto de um bom despique de bombos. Aliás tenho a elogiar a autora do blog que alimenta a cultura do despique cultural, social, político and so one...admito que é para mim um dos melhores blogs nesta coisa das redes sociais tão fabulosa que faz do longe tão perto.espero que a autora do blog continue nesta sua saga, na luta contra as injustiças, na defesa dos direitos humanos, no respeito, através de uma linguagem direta, objetiva e um tanto viperina.Assim é que é!!!Assim se define um ser humano.um verdadeiro ser humano!!!Mas vai-me permitir tecer um breve comentário: nestas coisas das redes sociais há sempre a formiga que se coloca em cima do elefante para chamar a si a responsabilidade da poeira feita.Não vulgarize o blog. É pena. Parabéns pelo trabalho feito e continue a ribombar.
Muito obrigada pelos elogios. Agradeço ainda mais a crítica feita num tom cordial que eu aprecio. Amo um bom debate de ideias, educado e contraditório.
Por isso peço-lhe que seja mais específico quando diz "Não vulgarize o blog". E, se possível, agradecia-lhe que se identificasse... eu gostaria...
De resto ribombo, enquanto os meus dedos e a minha cabeça me deixarem teclar...
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