segunda-feira, 25 de junho de 2012

Quelhas

Quelha dos Eirados - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Quelhas

Quem acompanha este blogue desde o seu primeiro ano de vida sabe que eu amo as quelhas, as vielas, os pátios que se abrem nestes capilares urbanos tão ao meu gosto pelo prazer da descoberta que me proporcionam quotidianamente, pelo inesperado de um recanto, de uma porta mais castiça, de um raio de luz que, de súbito e inesperadamente, penetra até às suas entranhas amiúde decadentes, pobres, velhas, abandonadas, maltratadas, desrespeitadas. Eu não as abandono. Recuso-me. E continuo a gostar mais delas do que das avenidas mesmo se xpto.
A beleza das nossas quelhas amarantinas é um filão turístico ainda por explorar e que, se estivessem limpas e asseadas, fariam as delícias fotográficas de qualquer turista que se preze em busca de instantâneos pitorescos e especificamente portugueses. Estas quelhas, com estas características de cores, de rasgamentos, de janelas de guilhotina, de soluções de desenrasque, de recantos deliciosos, são nossas e de mais ninguém porque diferentes das marroquinas, das espanholas, das francesas... do que seja.
Deus dá as pérolas a quem não tem dentes, já diz o povo, e constato que, passados 5 anos sobre as minhas postagens sobre as quelhas amarantinas elas permanecem quase iguais, salvo um ou outro toque de cor que lhes dá vida e encanto enquanto disfarça os pivetes emanados de casas insalubres, uma transformada em canil aqui mesmo no centro da cidade sem que haja delegado de saúde que lá meta o nariz... pois podia até desmaiar com o fedor que de lá se solta. Enfim! No comments.
Penso que a Câmara Municipal de Amarante já podia ter feito alguma coisa por estes espaços. Por exemplo manter estes espaços limpos e asseados era da mais elementar justiça, e depois um retoque aqui e ali, umas flores e umas trepadeiras estrategicamente colocadas, uma caiadela aqui e ali... et voilá, sem grande dinheiro despendido podiam até abrir o Roteiro das Quelhas Amarantinas ao turismo.
Tenho a certeza que os turistas agradeciam. Os amarantinos que as habitam, que são gente, também. E talvez até os próprios amarantinos que as não habitam se aventurassem por estes espaços que se mantêm, ainda hoje, tão à margem da vida da cidade.
A fotografia que ilustra este post foi tirada na Quelha dos Eirados, agora transformada em Rua do Bairro Padre Américo num ímpeto talvez de novo riquismo que tudo apaga até as memórias. Que raio de lembrança foi esta de chamar rua a uma quelha que sempre o foi e vai continuar a ser?
Quelha dos Eirados, pois então! Ou, quando muito, Quelha da Generosa Faria!
Aqui com uma belíssima Trombeta da China, ou, ainda mais chique, uma campsis grandiflora trepadora que trepou, trepou, trepou... até nos poder brindar com esta mancha vibrante e quente de cor para disfarçar o pivete de uma quelha que podia Ser... mas ainda não é.
Tal como todas as outras quelhas amarantinas. E é pena!

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