Não me espanta que sejam os professores mais velhos os que mais se queixam de indisciplina em Portugal. Perseguidos durante anos e anos pelos políticos que foram ocupando a 5 de Outubro, verdadeiras vítimas de bullying por parte da entidade patronal, a dada altura os professores foram autênticos sacos de boxe onde ministros, secretários de estado, directores regionais, jornalistas... descarregavam fúrias e frustrações muitas, foram vendo a sua autoridade minada por vários ângulos e minada exactamente por quem mais os devia acarinhar - a Tutela.
Diz Alexandre Henriques, do blogue ComRegras, em entrevista a Clara Viana, que "muitos (professores) sofrem de burnout educativo, em que a falta de reconhecimento e estagnação profissional, o aumento da idade da reforma, o desgaste em lidar com alunos cada vez mais problemáticos, o distanciamento geracional, o choque cultural e tecnológico entre estes, podem originar fortes conflitos em sala de aula". E eu subscrevo as suas palavras. O desânimo é muito e é palpável. E entretanto já passaram dez anos de uma instabilidade brutal, de uma estagnação profissional brutal, de um rapinanço de recursos do nosso trabalho de que não há memória outro igual e passamos dez anos em que muitos destes se assemelharam a anos de guerrilha com muitos dos professores mais velhos a entregarem-se a uma luta constante e desgastante contra as invenções estapafúrdias originadas nas pessoas que foram passando pelo Ministério da Educação.
Por outro lado, a acrescentar a este minar constante e externo da autoridade dos professores, de mais difícil superação quando se é mais velho, a crise também fez mossa do lado dos alunos que viram as dificuldades de toda a ordem aumentarem muitas vezes exponencialmente, causando-lhes angústias, revoltas, inquietações, instabilidades, restrições materiais, alimentares e outras, dificuldades de ajustamento de comportamentos... que os alunos só podem arrastar consigo para dentro da escola porque não conseguem largar tudo isto à entrada do portão.
Acresce a tudo isto a imposição da criação dos mega-agrupamentos, o aumento do número de alunos por turma, o aumento de horas de trabalho dos professores nas escolas, o aumento da carga burocrática... e temos um corpo docente esmagado e a tempestade perfeita que foi sendo semeada e está agora a ser colhida. E se os mais novos são, à partida, os mais resistentes, a verdade é que o corpo docente nas escolas portuguesas está envelhecido até dizer chega e já não tem o dinamismo de outrora. E é que elas podem não matar, mas moem.
E pagam-se.
Professores mais velhos são os que mais se queixam da indisciplina
Alunos portugueses mais indisciplinados com os professores mais velhos
Indisciplina na sala de aula aumenta quando os professores são mais velhos
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