Este texto foi-me enviado pela Lourdes Sarmento e publico-o com a autorização da sua autora.
Continua a não me interessar quem marca o quê, porque desde o início que os professores mostraram inequivocamente que esta não é uma greve dos sindicatos, é uma greve dos professores! Os sindicatos são imprescindíveis para nos representar e defender, mas desta vez tiveram de vir a reboque da vontade que os professores tinham em lutar. Ninguém acreditava que fosse possível unir os professores como nunca antes acontecera! Ninguém acreditava que esta greve fosse possível! Ninguém acreditava que a greve fosse tão forte até dia 15! Ninguém acreditava que a greve ficasse ainda mais forte depois de dia 18! Ninguém acreditava que nos uníssemos ainda mais depois da Nota Informativa intimidatória da DGEstE! Ninguém acreditava que nos mantivéssemos mais determinados depois da chantagem dos serviços mínimos! Ninguém acreditava que conseguíssemos fazer a maior greve de sempre dos professores… e nós fizemos e continuamos a fazer! Ninguém acreditava que nós chegássemos até aqui, mas chegámos! Ninguém acreditava em nós, mas nós acreditámos! Ninguém dava nada por esta greve, chantagearam-nos, ameaçaram-nos e atemorizaram-nos, mas, com enorme sentido cívico, juntos NÓS demos a maior lição de resistência, de unidade, de liberdade e de democracia que Portugal assistiu desde 1974. Mas há crédito que temos de dar e agradecer a este governo – foi o de conseguir unir os professores como nunca ninguém tinha conseguido! Certamente que alguns professores já cansados irão desistir e algumas escolas ficarão pelo caminho nesta jornada. Mas o que agora conta são os professores que não desistem, as escolas que resistem e as reuniões que continuarão por fazer. Não somos nós quem tem a batata quente nas mãos, é o governo! Não somos nós que andamos a mentir e a chantagear! Não somos nós que precisamos de votos nas duas eleições do ano que vem! Mas somos nós que podemos pressionar ainda mais o governo prosseguindo com a greve mais 2 semanas. Se viemos até aqui com perto de mês e meio de greve, não será agora que vamos deitar tudo a perder. Se ao fim da próxima semana ainda houver muitas reuniões por se realizar, o ministério entrará em aflição porque, pela primeira vez, a possibilidade do próximo ano letivo não poder arrancar a tempo e horas estará nas suas mãos com os dias contados e com a responsabilidade de não ter sabido respeitar compromissos nem gerir as negociações com os professores. Não será preciso mais tempo – porque já não o terá – para que o governo marque de emergência uma reunião com os sindicatos para falar sério e evitar o descalabro total do qual terá de retirar as devidas consequências. Não é verdade que não estamos a conseguir nada. Num país onde o professor só é notícia quando falha, passámos a ser notícia pela nossa luta e a abrir noticiários. Depois da maledicência gratuita precipitada pela má-língua dos inúteis bem pagos, mas mal informados, começaram a aparecer muitas vozes a escutar e a dar razão aos professores. Até alunos e pais, isoladamente, em grupo ou associados, já vieram a público mostrar que estão connosco. E, colegas, não questionem se esta greve está a valer alguma coisa, porque está. O ministério já deu sinais de desespero e começa a vacilar, a desorientar-se e a dar “rebuçados” para nos acalmar. Não vai atribuir componente letiva aos professores que pediram a aposentação até 30 de junho, aliviando-os de trabalho e libertando horários para os restantes colegas. Já garantiu que as coadjuvações serão integradas na componente letiva dos professores. Já disse e desdisse que equacionava que o tempo de serviço pudesse vir a ser convertido em tempo para aposentação (embora nunca abdicaremos de todo o tempo de serviço para efeitos de progressão, para aposentação poderia ser opção para os colegas que assim o desejassem). Já se sentou à mesa das negociações e, embora não tivesse afirmado que devolveria os 9A4M2D, anunciou que juntaria uma equipa técnica de trabalho para avaliar os custos que uma medida dessas acarretaria a médio prazo. A comunicação social já começa a avançar a possibilidade de se instalar o caos pela possibilidade de estar em causa a abertura do próximo ano letivo. Embora a mim como a todos nós, o dinheiro me faça falta, não é o dinheiro da greve que mais me custa (até porque no meu agrupamento ainda só vai em 26€, equivalente a menos de meio dia de greve). Também não é o desgaste, embora depois de mais um ano extenuante merecíamos um alívio e menos sacrifício. O que mais me custa é esta desonesta negação de justiça que nos está a ser imposta! Cada dia que faço greve, gasto mais 10 euros e perto de 100 quilómetros de deslocações. Se seria mais barato e cómodo desistir? Naturalmente que seria, mas também seria muito mais caro para o meu respeito próprio e para o meu futuro! Cada euro que gasto é um euro ganho porque, além de o vir a reaver com a devolução do tempo de serviço a que tenho direito, vou recuperar a minha DIGNIDADE. Cada quilómetro que faço ao volante é um quilómetro a menos
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