Ontem, Amarante perdeu um dos seus melhores. Era, entre muitas outras coisas, um Médico que estava sempre lá, no seu consultório, de pedra e cal, atendendo os seus múltiplos doentes que sempre soube manter, muitos de uma vida inteira.
É o primeiro médico de que guardo memória, teria eu entre dois a três anos, morava eu na casa que me viu nascer, a dois passinhos do seu consultório - safou-me de uma espinha espetada na garganta que me atrapalhava a vida ao ponto de eu reter o episódio para sempre e de, durante muito tempo, recusar o maravilhoso peixe, qualquer que ele fosse.
Era directo, franco, desconcertante. Era um pilar nesta sociedade local que vamos, paulatinamente, construindo/desconstruindo/construindo. E estava sempre lá. De pedra e cal. Nunca houve muitos assim.
Amarante está incomparavelmente mais pobre. Porque perdeu um dos seus melhores.
E eu, hoje, agradeço-lhe o amparo que me deu sempre que dele necessitei e recordo, mais uma vez, as palavras sábias, de conforto, de Mia Couto - "Nenhuma pessoa é uma só vida".
2 comentários:
Anabela, consegue descobrir a data de nascimento do doutor?
Sei que tinha 96 anos, nascido que foi nos idos de 1923.
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