Boguinhas I
Boguinhas foi o carinhoso nome com que baptizei o primeiro automóvel por mim comprado, talvez em milésima mão, que servia para me assegurar as deslocações semanais ao Porto, tendo por companhia a minha amiga, e também estudante da Faculdade de Letras, Rogéria.
Até ali as minhas idas ao Porto faziam-se apanhando boleias de gente conhecida, de familiares, e na sua falta, apanhando boleias com o Toninho Cabanelas, estrada nacional fora, durante duas horas de viagem até à Invicta. Sim, no meu tempo de estudante universitária ainda não existia auto-estrada Amarante-Porto e a viagem fazia-se por atalhos, evitando as horas de ponta que atirariam o tempo de viagem, facilmente, para além das duas horas costumeiras. Tenho de confessar que sinto saudades do meu Boguinhas, um Fiat 600 beige, lindo de morrer, que me proporcionou uma série de histórias/aventuras engraçadas que jamais se repetiram ou repetirão.
Recém encartada, pois tirei a carta de condução já após o nascimento da minha filha, e incentivada pela minha querida Rogéria que conduzia como uma profissional, toca de me aventurar a conduzir o boguinhas estrada fora até à Faculdade de Letras, no Campo Alegre. Com a Rogéria sempre atenta do meu lado, dando-me as instruções necessárias na aproximação a um cruzamento ou numa ou noutra situação mais complicada, que eu era uma verdadeira maçarica recém encartada. A chegada à faculdade ocorreu sem problemas de maior e, no fim das aulas, a Rogéria desafia-me a entrar Porto adentro para me habituar ao movimento. E assim foi, Baixa, aqui vamos nós, eis quando se põe o problema de estacionar o meu boguinhas. Onde? Onde? Decidimos estacionar na Praça dos Poveiros onde havia um parque recentemente melhorado com uma maquineta na entrada. Do meu boguinhas ia observando o que os condutores da frente iam fazendo. Pois, calcavam num botão. Pois, saía um papelito. A cancela abria e lá iam eles alegremente procurar um lugar para estacionar os seus bólides. Não era assim tão difícil. Preparada psicologicamente para não fazer figuretas tristes, ataquei a máquina. Abrandei e preparava-me para calcar no botão quando, espanto dos espantos, a "máquina" começa a falar comigo! Uma máquina falante, pensei. E eu sem perceber nada de nada!
Confesso que fiquei atrapalhada. Confesso que fui mesmo assaltada por pânico de maçarica. E agora, Rogéria? "A porcaria da máquina para aqui a falar e eu não percebo nada!! Faço o quê??? Faço o quê???!!" E a "máquina" continuava a sua lenga-lenga e nada de me abrir a cancela! Em pânico, olhei em redor. Nem sei como vi um polícia gesticulando freneticamente fazendo-me sinal da sua guarita para não entrar e avançar por fora do parque na sua direcção. O que fiz, preocupada. Muito preocupada. "Se calhar fiz alguma asneira e já fui apanhada" pensei. Mas afinal não. Era apenas um polícia simpático que queria que eu poupasse uns cobres, indicando-me um lugar fora do parque de estacionamento onde o meu carrito cabia justinho. Lá me ri, comentei a minha atrapalhação de não perceber o que a máquina/polícia me dizia e estacionei o carro direitinho suspirando de alívio por tão bizarra situação. Por momentos confesso que pensara que o futuro se tinha instalado na Praça dos Poveiros, naquela máquina falante. Ufa! Que susto! Ufa, que alívio! Afinal a máquina do Parque de Estacionamento dos Poveiros ainda não tinha essas competências.
Afinal as máquinas dos anos 80 não estavam assim tão espertas.
Ufa! Que alívio!
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