Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
Histórias do meu Umbigo I
(Cego é Aquele que Não Quer Ver)
Esta história passou-se há muitos anos, no Largo de S. Gonçalo, talvez pela década de 50, em pleno Salazarismo, e é-me contada desde que me lembro pelo meu pai.
Todos os anos, no dia 1 de Dezembro, aquando das comemorações da Restauração da Independência Nacional, ocorrida em 1640, havia aqui em Amarante um desfile assegurado pelos legionários, da Legião Portuguesa local. Lá vinham eles mais ou menos aprumados, mais ou menos bem ensaiados, rua abaixo mostrando-se ao povo.
Naquele ano faltaram muitos legionários e, à pressa, lá se foram angariar moços à Mocidade Portuguesa para integrarem e comporem o desfile que, sem quorum, estava em sérios riscos de não se efectuar. Um dos repescados foi o filho dum senhor que, exercendo a sua actividade profissional a limpar os sanitários públicos, situados no Largo de S. Gonçalo, era conhecido localmente como Marinho da Retretes. Sim, nós aqui em Amarante tínhamos alcunhas para tudo e todos, mas isso ficará para outro "post". Pois lá vinham eles, rua abaixo, numa figureta deprimente, diz o meu pai, uns de calças a regar por não lhes servirem, outros presos em camisas de sete varas, apertadinhas, apertadinhas, quando entram em S. Gonçalo. É onde se encontra o Marinho das Retretes que vendo o seu filho Belchior a desfilar em passo trocado exclama alto e bom som não deixando de demonstrar o orgulho sentido pelo filho "Vão todos com o passo trocado, só o meu Chió é que não!"
Pois vem esta história a propósito do meu governo. Mais concretamente a propósito do meu Primeiro-Ministro, da minha Ministra da Educação e Secretários de Estado respectivos e dos protestos que, um pouco por todo o país, eclodem de forma espontânea, mais ou menos organizada, ou até organizadíssima.
Os nosso governantes estão como o falecido Marinho das Retretes, de Amarante. Cegos.
(Cego é Aquele que Não Quer Ver)
Esta história passou-se há muitos anos, no Largo de S. Gonçalo, talvez pela década de 50, em pleno Salazarismo, e é-me contada desde que me lembro pelo meu pai.
Todos os anos, no dia 1 de Dezembro, aquando das comemorações da Restauração da Independência Nacional, ocorrida em 1640, havia aqui em Amarante um desfile assegurado pelos legionários, da Legião Portuguesa local. Lá vinham eles mais ou menos aprumados, mais ou menos bem ensaiados, rua abaixo mostrando-se ao povo.
Naquele ano faltaram muitos legionários e, à pressa, lá se foram angariar moços à Mocidade Portuguesa para integrarem e comporem o desfile que, sem quorum, estava em sérios riscos de não se efectuar. Um dos repescados foi o filho dum senhor que, exercendo a sua actividade profissional a limpar os sanitários públicos, situados no Largo de S. Gonçalo, era conhecido localmente como Marinho da Retretes. Sim, nós aqui em Amarante tínhamos alcunhas para tudo e todos, mas isso ficará para outro "post". Pois lá vinham eles, rua abaixo, numa figureta deprimente, diz o meu pai, uns de calças a regar por não lhes servirem, outros presos em camisas de sete varas, apertadinhas, apertadinhas, quando entram em S. Gonçalo. É onde se encontra o Marinho das Retretes que vendo o seu filho Belchior a desfilar em passo trocado exclama alto e bom som não deixando de demonstrar o orgulho sentido pelo filho "Vão todos com o passo trocado, só o meu Chió é que não!"
Pois vem esta história a propósito do meu governo. Mais concretamente a propósito do meu Primeiro-Ministro, da minha Ministra da Educação e Secretários de Estado respectivos e dos protestos que, um pouco por todo o país, eclodem de forma espontânea, mais ou menos organizada, ou até organizadíssima.
Os nosso governantes estão como o falecido Marinho das Retretes, de Amarante. Cegos.
Porque cego é aquele que não quer ver.
Porque cego é aquele que se recusa a ver.
Sem comentários:
Enviar um comentário