Reciclagem - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
Confesso que sempre tive a mania dela, da reciclagem. Este colete que hoje partilho com os meus leitores tem uma história deveras engraçada e curiosa e chegou-me às mãos feito colcha pequenina, de cama de criança, feita de vários tons de azul, provindo da Régua, após o desmantelamento da casa da minha avó materna, na Avenida João Franco, com vistas privilegiadíssimas para o rio.
A colcha, toda feita em tecidos acetinados de azuis mais escuros até ao azul bebé, toda bordada à mão com fio de ouro e aplicações, por mãos pacientes a quem o tempo rendia escoando devagar, devagarinho, estava em excelente estado, em parte e, ao que soube à época, esta era uma peça cuja proveniência original era de casa desta minha bisavó, Maria de Jesus Mendes, fotografada um dia por Domingos Alvão, por certo no Porto, cidade onde se localizava o seu atelier fotográfico.
Mas o que fazer com a colcha? Pelo menos com a parte que estava em excelente estado e que naqueles tons de azul nunca serviria para peça de meu vestuário?
A colcha andou lá por casa, andou e voltou a andar, até que, já eu casada, resolvi meter mãos à obra e passar, finalmente à acção. O primeiro passo foi experimentar tingir a colcha azul da minha cor preferida, para roupa, o preto, para ver o que resultaria dali. E o resultado não podia ser melhor já que nada de aparecerem pretos desbotados e com aspecto de velhos. Mas agora o que fazer com apenas duas tiras de colcha simétricas? Pois, seria um colete o mais comprido possível. De colcha em punho, comprei o tecido para as costas, escolhi a passemanaria, e toca de levar o material todo à minha costureira da época que realizou o colete segundo as minhas instruções.
A peça ainda se mantém no activo e, para além de ser a minha peça de vestuário mais antiga, confesso que é uma das minhas preferidas pela carga de história familiar que ela carrega. Atravessou gerações, atravessou quase todo o século XX e, já entrada no século XXI, mantém-se como se nada fora, pronta para as curvas, ela e eu, eu e ela... pois então!
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