quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ainda o Benjamin Clementine: "Extraordinário Príncipe Descalço"

Benjamin Clementine - Casa da Música - Porto
Fotografia de Inês Queirós

Ainda o Benjamin Clementine: "Extraordinário Príncipe Descalço" 

O post que se segue foi inteiramente surripiado aqui. E sim, este Senhor é um Príncipe. Raro.

"Há uma voz que irrompe e rasga uma atmosfera expectante. Serpenteia pela sala, eriça os pêlos da nuca, comove e doma os silêncios, a seu bel-prazer. É elástica, tanto intumesce, como se pacifica. Perante uma sala Suggia repleta, Benjamin Clementine ataca o piano e as canções crescem. Descalço, claro. Percebe-se onde quer chegar quando diz que gosta "de sentir os pedais fisicamente, visceralmente", como se instrumento e homem fossem um só. Não o serão já? Quando pára, entre músicas, a sua voz, a tal voz, tacteia num sussurro e revela a real timidez de um prodígio que já não se vê nestes tempos. Lembra Nina Simone e Antony, Tom Waits e Piaf, mas a verdade é que a sua música não cabe em gavetas, prateleiras, caixas e os seus concertos-liturgia são disso prova. "Lindo", "Dá-lhe, Benjamin!", gritam-lhe. Pede tradução. "Beautiful", "Go for it!". "I live for it", parece segredar. "Thank you, obrigado." E volta ao piano, vozeirão a correr pelas teclas, de "Condolence" (primeira ovação) a "Adios". Às vezes, apenas uma mão toca, enquanto a outra apoia o discurso, como se fosse "spoken word". Por vezes, está endiabrado e, ladeado pelo igualmente travesso (e brilhante) baterista Alexis Bossard, dispara gritos de intervenção (como em "Beady Buses", já no "encore"); outras, é profundamente íntimo, interior, fazendo da sua audiência uma flagrante espiã do seu âmago. "Está frio lá fora", diz, a dada altura. Lá fora, "não neste edifício em particular", a Casa da Música, onde esteve esta quarta-feira, 25 de Novembro. E ausculta a previsão de tempo para o dia seguinte. Lá dentro não estava. Provavelmente, não estará por onde quer que passe. Depois de Braga, Aveiro e Porto, o mais recente Mercury Prize actua em Lisboa na sexta-feira, no Vodafone Mexefest, e no sábado em Faro, onde termina o seu périplo por território português. No Porto, à despedida, assina e ensina uma lição: "I dream, I smile, I walk, I cry/ You might not say that its a wonderful world / and it's a wonderful life / and it's a wonderful day/Just as yesterday / But I won't complain/ No I won't complain / Though my good days are far gone / They will surely come back one morn." AR

Sem comentários:

 
Creative Commons License This Creative Commons Works 2.5 Portugal License.