Barragens do Tâmega em Debate - Café-Bar - S. Gonçalo -Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Assisti à primeira parte das intervenções que encerraram, em Amarante, a Caravana pelo Tâmega de que já dei notícia neste blogue e foi com gosto que escutei as palavras do presidente da nossa autarquia, Dr Luís Gaspar, ao reafirmar ser "frontalmente contra" a construção da cascata de barragens no Tâmega. Assim sendo, e no decurso desta oposição frontal, espero que actue em conformidade já que a sua/nossa actuação deve ser consistente e adequada à palavra por ele/nós proferida.
Não aceito, em caso de ruptura de barragem, e os desastres acontecem, ainda há pouco aconteceu um no Brasil, ter 13 minutos para salvar a minha pele, para salvar as peles dos meus familiares. Não aceito, em caso de ruptura de barragem, que os amarantinos e os visitantes que por aqui hipoteticamente andarem tenham 13 minutos para salvarem as suas peles. E sei, sem pertencer a nenhuma protecção civil, que é impossível evacuar uma cidade em 13 minutos.
E isto sem entrar em problemas ambientais mais complicados que da construção da "cascata" decorreriam e que só superficialmente relembro aos meus leitores através de uma citação de uma pequenina parte do que já escrevi sobre a desgraça que paira, permanentemente, sobre o meu rio, neste caso em 2009:
Se a barragem de Fridão for construída, o que será do meu rio?
Não basta já o seu estado a jusante de Amarante?
Teremos de engolir um rio verde e pastoso aqui mesmo na cidade?
Teremos de gramar o cheiro fétido de um rio moribundo sentados na esplanada do Largo?
Faremos novos postais ilustrados retratando um rio verde alface?
Teremos de pedir desculpa aos nossos filhos e netos pelo presente envenenado e doado?
Choraremos os girínos, as lontras, as enguias, as bogas, os barbos, os cágados, o coaxar das rãs entre os rochedos das margens?
Choraremos os passeios relaxantes pelas margens do Tâmega?
Choraremos a água fresca com cheiro a rio?
E assim se prepara o desconserto final de uma região moribunda.
O que interessamos nós?
Hoje amaria ser um simples mexilhão com força suficiente para impedir a construção desta barragem que aumentará exponencialmente os problemas de eutrofização, já mais do que sentidos aqui no Tâmega, e que estão à vista de todos os que têm olhos na cara... olhos de ver, bem entendido...
Terminaremos os nossos dias abrindo portas e portadas de casas viradas para o alguedo do Tâmega? Ou fechando-as?
Terminaremos os nossos dias passeando-nos pelas ruas e praças xptoda cidade, de máscara na cara, não com medo do H1N1 mas para travar o pivete de exalará o Tâmega?
Outra barragem no Tâmega?! Como se o Tâmega suportasse mais este crime!
Ainda se desmantelassem a barragem do Torrão e deixassem o rio fluir livremente no seu leito... sacudindo décadas de porcaria acumulada...
O vídeo que de novo partilho é triste. A música é triste, a letra é triste, o meu rio eutrofizado é de fazer chorar as pedrinhas da calçada. Mas vejam-no. Não assobiem para o lado. Informem-se. Lutem. Por um rio que é meu mas que também é vosso.
E agora dou a palavra a José Emanuel Queirós, um lutador incansável pelas causas do Tâmega e de Amarante:
NOVO ALENTO À CAUSA DO TÂMEGA
"Neste mesmo dia (8/11) em que, vindo de Chaves, o GEOTA termina a 'caravana pelo Tâmega' com um debate em Amarante, a comunicação social divulga as medidas do acordo governativo estabelecido entre os partidos com maioria representativa na Assembleia da República, onde surge para o Tâmega uma porta de esperança ao crime anunciado no Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH).
De Cabeceiras de Basto, Miguel Teixeira fez-me chegar a informação que nos dá um enorme alento para que a causa do Tâmega e do desenvolvimento da nossa região ganhem outro fulgor e novas motivações, quando até aqui estas causas comuns esbarraram na indiferença quase absoluta dos nossos representantes políticos com assento parlamentar em Lisboa e no exercício de cargos governativos.
Desde que o famigerado PNBEPH foi dado a conhecer há 8 anos (2007), nenhuma instância com poder decisório atendeu às preocupações da população pelo Tâmega vivo senão aos interesses das eléctricas REN de Penedos e EDP de Mexia pelo represamento dos rios, reeditando um vetusto programa barragista dos anos de 1950, do tempo do Estado Novo.
Em abono da verdade, de entre os partidos com representatividade parlamentar há justamente que destacar na causa do Tâmega, em igualdade de valor, o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) e o Bloco de Esquerda (BE), que se interessaram pelas matérias, vieram à região, trouxeram o seu apoio à causa e tomaram iniciativas próprias no Parlamento. Partidos como o PS, o PSD, o CDS-PP e o PCP, nunca até agora empreenderam alguma iniciativa que não fosse na acção ou na omissão fazer passar este enorme esbulho para a região e para o país.
Agora, ao constatar que entre as diversas medidas ambientais uma há referindo «7. Reavaliar o Plano Nacional de Barragens, nomeadamente as barragens cujas obras ainda não iniciaram, como é o caso das barragens da Cascata do Tâmega.», fico convicto que a inscrição deste ponto no pacote do programa de um futuro governo liderado pelo Partido Socialista se ficará a dever ao PEV e ao BE.
No entanto, nada em definitivo está garantido. Mas, está criado o enquadramento político propício para que a luta pelo Tâmega livre não esmoreça, ganhe nova preponderância e leve a luz que tem faltado nas mais altas instâncias decisórias do país, no sentido da reversibilidade das medidas que davam o Tâmega perdido para as populações."
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