sábado, 2 de maio de 2009
J, o Carpinteiro
Carpintaria - ESA - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
J, o Carpinteiro
A história que hoje conto passou-se há algum tempo, no dia da visita guiada à Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, que organizei para a minha turma de CEF - Carpinteiros de Limpos, integrada no módulo "Lusofonia", e ficou por contar à época, decerto porque a dona deste blogue andava ocupada com outras histórias, que elas nunca mais acabam, já que de histórias são feitos todos os nossos dias, mais ou menos preenchidos, mais ou menos ricos.
Relembro que esta visita, contrariamente à dos electricistas, correu que foi um primor, com os meus rapazes, sem excepção, a comportarem-se como uns verdadeiros homenzinhos, quer pela rua abaixo, quer durante a visita propriamente dita, o que me deixou deveras orgulhosa deles.
O que relato que se segue passou-se já no regresso à escola, percurso sempre feito a pé, que a Biblioteca não fica assim tão longe, e no percurso dá sempre para trabalhar com estes alunos aprendizagens mais informais como comportamento em espaços públicos, o respeito pelo bem público, de todos nós, portanto, o respeito pelo outro sempre necessário, dentro e fora da sala de aulas.
Não assisti à cena. Não vi o telemóvel caído no chão mas este não passou despercebido ao meu J, que o apanhou e mo entregou logo de seguida, enquanto me punha ao corrente do sucedido. É certo que o J podia tê-lo metido ao bolso que eu jamais saberia de alguma coisa. Ao não o fazer, provou ser um rapaz bem formado, honesto, responsável e a quem eu tirei desde logo o meu chapéu.
Chegada à escola entreguei o grilinho na Direcção e daí entraram em contacto com um familiar que constava na lista telefónica do dito e assim o legítimo dono recuperou o seu telemóvel graças à honestidade do meu rapaz, aluno da minha turma de Carpintaria.
Hoje conto esta história exemplar, que andava para aqui no limbo, ora vindo ora indo, para ajudar a desmistificar a ideia pré-concebida e espalhada por este país e pelos seus arredores, de que todos os alunos de CEF são uns delinquentes pegados, o que está longe de corresponder à realidade de que são feitos os meus dias. São geralmente turmas mais complicadas e rebeldes, sem dúvida, mas daí a serem todos uns delinquentes vai uma grande distância.
Só assim se explica que eu esteja a sobreviver a cinco turmas deles durante este ano lectivo, mais uma direcção de turma que decerto me vai deixar de cabelos brancos na cabeça, e tudo isto sem que tenha de ir para consultas de psiquiatria. E não é porque eu seja a super-mulher-professora, sendo certo que eu sou apenas uma mulher-professora vulgar.
E termino constatando mais um facto. É que para mim é bem mais doloroso e difícil aturar o trio alojado na 5 de Outubro do que as minhas cinco turmas de CEF que me saíram na rifa durante este ano lectivo.
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4 comentários:
Ainda os há, sim senhora.
Mas o que dizr de um professor que fez precisamnete o contrario daquilo que o João fez? e ainda se gabou?
E podes aceitar o desafio que ficou no meu sítio?
bjs
Que é um triste, pois então! Também há professores que parecem saídos dos CEFs mas dos repletos de delinquentes, que eu felizmente nunca conheci, pois então!
Desafio aceite, mas para mais logo.
beijocas
Já viste o blogue do Guinote?
Ao longo dos anos que vivi na ESA não foram poucas as em que me deparei com situações semelhantes. Na maioria dos casos os "nossos meninos/homens" dos CEF precisam só de um pouco de carinho e rapidamente deixam despontar o que é natural na adolescência, a ternura,o altruísmo e também a irrequietude. Não conheço este "João", mas conhei outros aos quais não esquecerei,por situações semelhantes.
"....são os Putos deste Povo..."
bjtos
Zinha
O tema CEF dá pano para mangas e volto a ele sempre que necessário.
Faz parte da minha realidade, do meu dia a dia.
Gostei de presenciar esta honestidade, e gostei de a relatar.
Beijinho, Zinha.
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