Porca Miséria
Encontrei-a no Tubes e vai daí partilho um pequeno cheirinho da pista pedregosa, curvilínea e estonteante que liga Ait Benhadou a Telouet.
No dia em que fiz esta pista pela última vez, por altura da Páscoa, a "Porca Miséria" estava num estado muito mais caótico e perigoso do que aquele que podemos observar nestas imagens, devido às chuvas torrenciais caídas no Alto Atlas uma semana antes.
Os precipícios, sem protecção, são uma constante. A pista é inacreditavelmente estreita em algumas zonas. E lá em baixo, serpenteiam oásis luxuriantemente verdes, acompanhando as curvas dos oueds, que nos interrogam constantemente e nos remetem para tempos imemoriais mais contidos.
Água, terra fértil, sementes, vegetação diversa, árvores de fruto, vegetais, animais, homens, paredes em adobe ocre que nos abrigam das intempéries de Inverno, ai o Inverno!, tudo tem por aqui um valor bem diferente devido à escassez.
É um Marrocos profundo, desconhecido da esmagadora maioria dos turistas que viaja em rebanho, vendo o que outros querem que seja visto, entrando nas lojas onde outros querem que eles entrem, jantando em restaurantes gigantescos com espectáculos a metro para que "contactem" com a cultura local, ficando em hotéis enormescos com animadores de piscina.
Deprimente.
Quase aos 50 anos continuo a sentir-me um espírito rebelde, uma carta fora do baralho que prefere a macieza duma duna do Sahara ao Mamounia de Marrakech, que prefere uma pista pedregosa do Alto Atlas a uma auto-estrada xpto, maçadora e sem novidade.
E sei do que falo? Sei. Já fiquei no Mamounia de Marrakech e em muitas dunas por esses desertos fora e também já andei muitas vezes nas auto-estradas xpto e nas pistas pedregosas do Haut Atlas. Sei do que falo e já senti os arrepios na minha pele, decorrentes das minhas escolhas.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
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5 comentários:
Como eu te compreendo, Anabela!
Também não sou muito adepta de viagens organizadas, de grupo. Mesmo aqui na nossa velha Europa, com a famelga atrás, gosto mais de alugar um apartamento em qualquer sítio e descobrir, ao nosso ritmo e à nossa vontade, o que há nas redondezas. Viagens para "resorts" em longínquos paraísos,então, nem pensar. Dou por mim dividida nos meus sentimentos por quem as faz: por um lado, fico cheia de pena por quem vai e não fica a perceber nada do sítio onde esteve; por outro lado,penso que se calhar até nem merece mais. Faz-me lembrar esse filme já antiguinho mas ainda fantástico, "Quarto com vista sobre a cidade", em que um dos protagonistas identificava Florença como "aquele sítio onde tinham visto um cão amarelo".
Mas isto devem ser rebeldias de "quase cinquentonas"!
Bjs e continua a partilhar essa energia positiva.
Teresa
Continuemos rebeldes e indomáveis, em sintonia. :)
Beijocas, Teresa.
Falaram em rebeldes e indomáveis?
Cá estou eu... já cinquentona, ao ritmo do novo, do actual, do belo, do que nos faz sentir que vale a pena viver...
Bjs
Pois, ora se não faltava cá uma das escorpionas mor deste blogue que é quase um antro deles... aventureiros, indomáveis, rebeldes...
Para ti Anabela :D
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