sábado, 26 de setembro de 2009

Chefe Seattle


Tujidos - 25-09-09 - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Chefe Seattle

"Em 1854, "O Grande Chefe Branco" em Washington fez uma oferta por uma grande área de território indígena e prometeu uma "reserva" para os índios.
A resposta do Chefe Seattle, aqui reproduzida na íntegra, tem sido considerada uma das declarações mais belas e profundas já feitas sobre o meio-ambiente."

“Como você pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? A idéia é estranha para nós.
Se nós não somos donos da frescura do ar e do brilho da água, como você pode comprá-los?
Cada parte da Terra é sagrada para o meu povo.
Cada pinha brilhante, cada praia de areia, cada névoa nas florestas escuras, cada insecto transparente, zumbindo, é sagrado na memória e na experiência de meu povo.
A energia que flui pelas árvores traz consigo a memória e a experiência do meu povo.
A energia que flui pelas árvores traz consigo as memórias do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem-se da sua pátria quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos nunca se esquecem desta bela Terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da Terra e ela é parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs, os cervos, o cavalo, a grande águia, estes são nossos irmãos. Os picos rochosos, as seivas nas campinas, o calor do corpo do pônei, e o homem, todos pertencem à mesma família.
Assim, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que quer comprar nossa terra, ele pede muito de nós. O Grande Chefe manda dizer que reservará para nós um lugar onde poderemos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Então vamos considerar sua oferta de comprar a terra. Mas não vai ser fácil. Pois esta terra é sagrada para nós.
A água brilhante que se move nos riachos e rios não é simplesmente água, mas o sangue de nossos ancestrais. Se vendermos a terra para vocês, vocês devem se lembrar de que ela é o sangue sagrado de nossos ancestrais.
Se nós vendermos a terra para vocês, vocês devem se lembrar de que ela é sagrada, e vocês devem ensinar a seus filhos que ela é sagrada e que cada reflexo do além na água clara dos lagos fala de coisas da vida de meu povo.
O murmúrio da água é a voz do pai de meu pai.
Os rios nossos irmãos saciam nossa sede. Os rios levam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se vendermos nossa terra para vocês, vocês devem lembrar-se de ensinar a seus filhos que os rios são irmãos nossos, e de vocês, e consequentemente vocês devem ter para com os rios o mesmo carinho que têm para com seus irmãos. Nós sabemos que o homem branco não entende nossas maneiras. Para ele um pedaço de terra é igual ao outro, pois ele é um estranho que chega à noite e tira da terra tudo o que precisa. A Terra não é seu irmão, mas seu inimigo e quando ele o vence, segue em frente. Ele deixa para trás os túmulos de seus pais, e não se importa. Ele seqüestra a Terra de seus filhos, e não se importa.
O túmulo de seu pai, e o direito de primogenitura de seus filhos são esquecidos. Ele ameaça sua mãe, a Terra, e seu irmão, do mesmo modo, comocoisas que comprou, roubou, vendeu como carneiros ou contas brilhantes. Seu apetite devorará a Terra e deixará atrás de si apenas um deserto. Não sei. Nossas maneiras são diferentes das suas. A visão de suas cidades aflige os olhos do homem vermelho. Mas talvez seja porque o homem vermelho é selvagem e não entende.
Não existe lugar tranqüilo nas cidades do homem branco. Não há onde se possa escutar o abrir das folhas na primavera, ou o ruído das asas de um insecto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não entendo. A confusão parece servir apenas para insultar os ouvidos. E o que é a vida se um homem não pode ouvir o choro solitáriode um curiango ou as conversas dos sapos, à noite, em volta de uma lagoa. Sou um homem vermelho e não entendo.
O índio prefere o som macio do vento lançando-se sobre a face do lago, e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva de meio-dia, ouperfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo hálito – a fera, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo hálito.
O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo há dias esperando a morte, ele é insensível ao mau cheiro.
Mas se vendermos nossa terra, vocês devem se lembrar de que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seus espíritos com toda a vida que ele sustenta.
Mas se vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la separada e sagrada, como um lugar onde mesmo o homem branco pode ir para sentir o vento que é adoçado pelas flores da campina.
Assim, vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Se resolvermos aceitar, eu imporei uma condição – o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não entendo de outra forma. Vi mil búfalos apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os matou da janela de um trem que passava.
Sou um selvagem e não entendo como o cavalo de ferro que fuma pode se tornar mais importante que o búfalo, que nós só matamos para ficarmos vivos.
O que é o homem sem os animais?
Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão do espírito. Pois tudo o que acontece aos animais, logo acontece ao homem. Todas as coisas estão ligadas.
Vocês devem ensinar a seus filhos que o chão sob seus pés é as cinzas de nossos avós. Para que eles respeitem a terra, digam a seus filhos que a Terra é rica com as vidas de nossos parentes. Ensinem as seus filhos o que ensinamos aos nossos, que a Terra é nossa mãe. Tudo o que acontece à Terra, acontece aos filhos da Terra. Se os homens cospem no chão, eles cospem em si mesmos.
Isto nós sabemos – a Terra não pertence ao homem –o homem pertence à Terra. Isto nós sabemos. Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Todas as coisas estão ligadas.
Tudo o que acontece à Terra – acontece aos filhos da Terra. O homem não teceu a teia da vida – ele é meramente um fio dela. O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus anda e fala com ele como para amigo, não pode ficar isento do destino comum.
Podemos ser irmãos, afinal de contas. Veremos. De uma coisa nós sabemos, que o homem branco pode um dia descobrir – nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar agora que vocês O possuem como desejam possuir nossa terra, mas vocês não podem fazê-lo. Ele é Deus do homem, e Sua compaixão é igual tanto para como homem vermelho quanto para com o branco. A Terra é preciosa para Ele, e danificar a Terra é acumular desprezopor seu criador. Os brancos também passarão, talvez antes de todas as outras tribos.
Mas em seu desaparecimento vocês brilharão com intensidade, queimados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e para algum propósito especial lhes deu domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não entendemos quando os búfalos são mortos, os cavalos selvagens são domados, os recantos secretos da floresta carregados pelo cheiro de muitos homens, e a vista das montanhas maduras manchadas por fios que falam.
Onde está o bosque?
Acabou.
Onde está a águia?
Acabou.

O fim dos vivos e o começo da sobrevivência.”

Nota - Com os meus agradecimentos ao Hélio Matias, que me enviou este belíssimo texto "obrigando-me" a recordá-lo.

22 comentários:

Contra.facção disse...

Este chamado "Poema Ecológico", que já conheço há 35 anos, é das coisas mais belas e arrepiantes.
Para os incautos, já o vi publicado pelo Paulo Coelho (de quem nunca li nada) numa revista portuguesa, como se fosse dele, pois não indicava a referência.

maria eduarda disse...

Tenho este texto postado há tempos no blogue. Lindo!


Hoje é dia de reflexão!!!!!


Amanhã é dia de "botar abaixo."

Anabela Magalhães disse...

Também já conhecia o texto e li-o algures lá muito atrás no tempo. Belíssimo e hoje mais actual do que nunca!
E no entanto o que vemos?
Uma tristeza de rio, Miguel! :(
E um desleixo que impressiona.

Hélio Matias disse...

Obrigado Anabela que a pouco e pouco me vai cedendo espaço e notoriedade!
Mas o importante é o Grande Chefe Seattle...no contexto da reunião dos G20 (só 20?)...e de imediato no contexto do "seu" Tâmega.
Quem dera que o vosso presidente da câmara tivesse o descernimento desse "analfabeto" que era o Grande Chefe (voltei atrás e passei a minúsculas presidente e câmara).
Será que a consciência dos homens mudou assim tanto em escassas décadas?
Não...antes a sua claustrofobia num mundo que pensam ser só deles.
Esperemos pelo resultado da G20...lembra-se do Kiotto...lembra-se do Rio92?!...
Repare que até aumentaram o número de intervenientes...não se entendem?...não, não fazem é por isso.
Coitado de todos os ...Tâmegas...que são "nossos"!!!!!!!
Bom fim de semana.





.

Anabela Magalhães disse...

Tudo às urnas, Dudú!

Hélio Matias disse...

Miguel Loureiro...que não conheço.
Pelos vistos nunca irá ler nada do Paulo Coelho!...
Há muitos Luís de Matos na...Comunidade Portuguesa (acentuo comunidade)!

Anabela Magalhães disse...

Fez bem em voltar atrás, Hélio, para escrever presidente e câmara com letras minúsculas!
De resto não me a agradeça porque se há alguém aqui que deve agradecimentos esse alguém sou eu, pela sua colaboração generosa e enriquecedora deste blogue!
E não fazem por isso mesmo! Os políticos parecem de uma estirpe à parte, na sua maioria tão medíocre que até dói!
Daí o mundo estar como está. Mal.
Excelente fim-de-semana.

Anabela Magalhães disse...

"Há muitos Luís de Matos na...Comunidade Portuguesa"
Certo, Hélio! Certíssimo!
Infelizmente para todos nós.

Anabela Magalhães disse...

Dudú
Acho que apaguei um comentário teu... :(

Contra.facção disse...

Hélio Matias
Não vou ler nenhum livro do Paulo Coelho! Curiosamente tenho alguns em casa, mas não sou eu que lhe dou uso. É muito plágio e "modernidade oriental" adaptada ao esoterismo do presente.
Mas sei uma coisas do oriente e do esotérico.
Escorpiões, não é Anabela?

maria eduarda disse...

Não te marafes... também não me lembro do teor do comentário.

Em@ disse...

Eu não conheço este maravilhoso texto poético há 35 anos como o Migul, mas já o conheço há muito. Contudo, nada mais oportuno para acompanhar a desgraça do Rio Tâmega e, inclusivamente, o momento actual.

Eu como sou selvagem também não entendo...

Obrigada Anabela e Hélio.

Amanhã...

Anabela Magalhães disse...

É, Miguel! Os escorpiões são danados! :)
E este blogue é um antro deles... daí ser super danado! :)

Anabela Magalhães disse...

... pum...

maria eduarda disse...

Pim...pam...pum.

Em@ disse...

Eu sou só um nico escorpiona ehehehe E tudo por causa da Lua. Daí a minha hipersensibilidade e consequente intuição.

Anabela Maria:
O que é o ...pum?

Anabela Magalhães disse...

É exactamente a conclusão so teu comentário!
Amanhã... pum! Kakakakaka
Vamos a manter o riso, pessoal!

maria eduarda disse...

Em@,

Pum, é o tiro certeiro!

Em@ disse...

Zás

Catrapaz

Assim

É que se faz!

Zás


e...1 cruzinha lá no sítio da ...

Anabela Magalhães disse...

Pois é!
E zás! E catrapaz!
E...

Hélio Matias disse...

Entre tantos Pum...Pim...Pam...Pum...Zás...Catrapaz...
Só posso acrescentar...Terramoto de 1755...

Anabela Magalhães disse...

Sem dúvida adequado à desgraceira que poisou neste país e parece ter colado...

 
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