quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Transparência


Transparência - Leiden - Holanda
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Transparência

Hoje recordo impressões de viagens pela Europa e recordo, com especial gosto, a transparência dos holandeses. Não que ela esteja completamente erradicada de outros países europeus mas, na Holanda, a transparência assume uma dimensão absolutamente única e avassaladora.
A fotografia que uso para ilustrar este post foi tirada algures em Leiden, pequena cidade universitária holandesa, com um ambiente completamente descontraído e jovial, que os holandeses são os latinos daquela parte da Europa.
Foi aí que a tirei, é certo, mas podia ter sido tirada em qualquer outro sítio da Holanda pois, quer seja povoação pequena, quer seja cidade grande, a transparência das casas, das ruas até aos jardins das traseiras, está presente a torto e a direito e à mão de semear, para quem for sensível a esta coisa dos interiores.
A fotografia que agora posto foi a única fotografia que disparei violando aqueles interiores que não são meus. Por puro pudor, não vim com uma colecção absolutamente fabulosa de interiores reveladores de gostos sóbrios, práticos, simples, acolhedores. Interiores bem diferentes uns dos outros, mas todos, todos sem excepção, a despertar-me a vontade de entrar e de aí permanecer. O que, devo confessar, não me acontece com frequência.
Mas, se por puro pudor não registei mais interiores em fotografia, isso não me impediu de os registar dentro de mim, na minha memória preciosa que espero nunca me venha a pregar partidas de maior.
As casas holandesas são, no geral, pequenas, e o esquema típico de área social pode ser apreciado no exemplo da fotografia. Muitas habitações têm amplas janelas no rés-do-chão, sem cortinas, sem portadas e sem grades, numa transparência completa, absoluta e ao alcance dos nossos olhos. Quando têm estores, como no exemplo postado, têm-nos completamente recolhidos, deixando ver tudo o que há para ver na parte social da casa, através de rasgamentos enormes, frequentemente enfeitados com vasos de flores, de tulipas, de preferência.
Os interiores holandeses deixam percepcionar estantes de livros carregadas de ponta a ponta e a torto e a direito, muito pouco mobiliário, pouquíssimos objectos decorativos.
Registei e apreciei a transparência, a descontracção e o espírito prático dos latinos do Norte. Amei eles. E, nestes interiores transparentes, senti-me um peixinho dentro de água.

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