domingo, 8 de julho de 2007

Turno da Noite - Memórias

Na quinta-feira passada estive a fazer o "turno da noite" na ESA. Por opção, um grupo de professoras resolveu começar a trabalhar às 9 da noite, na transposição das notas dos miúdos, das pautas para os livros de termos. Trabalho chato e moroso que todos os anos tem que ser feito. Este ano calhou-me a mim e lá fui eu trabalhar para a biblioteca. Eu bem disse neste blogue que ia trabalhar para a biblioteca. Pois está confirmado, já lá estou!
No pavilhão central trabalhava-se afanosamente na afixação das notas dos exames nacionais de 11º e 12º anos. Já faz parte da tradição da casa fazer as maratonas necessárias para que os alunos possam consultar os seus resultados logo a partir da meia-noite.
O turno da noite correu como o previsto para quem gosta de trabalhar pela noite dentro. Grande concentração, ausência de barulhos e interrupções perturbadoras, grande produtividade. À meia-noite resolvemos interromper o trabalho e espreitamos o central. O barulho adensava-se e subia de tom até que os alunos começaram a entrar por ali adentro, uns não disfarçando a correria, outros em passo muito apressado tentando controlar o stresse, outros em passo de passeio aparentemente descontraído, uns com as mães, outros com os pais, agarrados às namoradas e namorados... uns lançando gritos de alegria frente às pautas, outros tentando controlar as lágrimas! Naquela confusão tive oportunidade de falar com o Luís, a Patrícia, a Mariza, a Tânia, o Luís Rodrigues... uns satisfeitos, outros nem por isso.
Lembrei-me do sufoco que foi o 12º ano da Joana que queria entrar em Farmácia, média quase de 18 nesse ano, e a quem eu sempre tranquilizei dizendo para fazer o seu melhor, e a quem eu sempre disse que se não conseguisse entrar na pública lhe restaria sempre a privada. Mesmo assim foi vê-la emagrecer a olhos vistos e foi um stresse de ano para ela e para nós.
E os pais que não podem dar esta "tranquilidade" aos filhos? E os sonhos que ficam desfeitos em frente a uma qualquer pauta de exames de 12º ano?
Oportunidade para relembrar sentimentos e emoções e oportunidade para ficar a reflectir neste nosso ensino tão cheio de contradições!

3 comentários:

Helder Barros disse...

Pois é... passamos a vida a construir Planos Curriculares de Escola, de Turma, individualizados, yoda uma parafernália de documentos, que nos torna uns autênticos burocratas. Na avaliação, avaliamos e bem, a meu ver outras componentes, para além da cognitiva, como a dimensão humana o saber ser e o saber estar. Para depois, em apenas duas horas, podermos transformar a vida destes jovens, num inferno psicológico, com um exame que avalia apenas a dimensão cognitiva! Por isso e por outras coisas do género, detestei a maioria dos professores universitários, que nos reduziam a meros números, muitas vezes nem ligando os nomes às pessoas, um ensino totalmente desumanizado!
Mas é assim, que podemos fazer... se falamos muito, pimba, toma lá com um processo e nunca mais progrides na carreira. Não auguro nada de bom, para o ensino em Portugal. Em vez de educarmos para a criatividade, autonomia, parece que querem que criemos ovelhinhas bem mandadas, que se juntem ao rebanho, mas sem muito estrilho! Nada de ovelhas tresmalhadas, dão muito nas vistas!
Também adoro trabalhar à noite, sempre adorei, sou um noctivago, e produzo muito mais à noite!

Anabela Magalhães disse...

O ensino está muito mais burocratizado e toda a vida em geral está mais burocratizada. Não vejo resultados do Simplex. Basta ver a molhada de papéis, relatórios e justificações que são necessárias para "reter" um aluno ... e se for uma retenção repetida... as pessoas não fazem ideia do quão complicado é! A burocracia começa logo quando pretendemos dar uma negativa a um aluno, no final de um qualquer período! Uma negativa, um relatório, dez negativas, dez relatórios, trinta negativas, trinta relatórios individualizados... atendendo a que eu posso ter, num ano lectivo, uma média de duzentos e cinquenta alunos e que por grande azar meu podem ser oriundos de freguesias muito desfavorecidas... tu bem sabes o que isto dá!
Quanto às contradições do nosso sistema de ensino, sem dúvida que essa da avaliação é uma delas.
E a minha experiência no ensino universitário também não me deixou grandes recordações. Reduzida a um número sem identidade própria, em aulas que chegavam a ter mais de duzentos alunos, e onde os professores sistematicamente faziam batota nos horários! A ter que gramar aulas onde os professores do superior se limitavam a ditar apontamentos... nem no liceu tive professores assim!
Mas tenho que abrir pelo menos uma excepção para a Faculdade de Farmácia, que eu conheci "por dentro" pelo Artur, Carlos Afonso, Zé Tó, Salomé, Adelaide, Zé Coelho...e onde o ensino era humanizado, onde os professores sabiam de cor o nome dos seus alunos e que tinha um ambiente muito familiar, propício a uma boa e saudável aprendizagem! O Artur diz-me mesmo que passou do Liceu D. Manuel, enormesco na altura, para uma espécie de casa de família onde praticamente todos se conheciam!
Quanto ao risco de formarmos pessoas que engrossam rebanhos devemos lutar contra isso. Tu sabes que eu luto. E digo-te que fico contente com os sinais de irreverência e até de crítica que os meus alunos do 8º F postam no blogue "oitavof2.blogspot.com".
É assim que eu mais gosto deles. Não me interessa ter alunos bem comportados, apáticos e facilmente manobráveis. Quero-os interventivos e críticos...e limito-me neste campo a cumprir as ordens escritas da tutela. E questiono os sinais dados em sentido contrário, com todo o desplante, pelos membros deste governo, que estão a dar um péssimo exemplo aos nossos miúdos ainda em fase de crescimento!
Será do Clima?
E na segunda-feira continuo a trabalhar na biblioteca! lol

Dianinha disse...

estive a ler o comentario da prof e reparei que no fim aplica o tremo "lol" para quem nao sabe(rir as gargalhadas)... esta a fazer progressos... esta a entrar no mundo moderno... assim vala e pena te-la como prof...
qualquer dia passa a ser a prof do futuro...toda moderna bem disposta com o sem portatil ao ombro assim vale a pena ouvi-la 90min...

 
Creative Commons License This Creative Commons Works 2.5 Portugal License.