Antiga Cadeia de Amarante - Antiga Rua da Cadeia
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
A antiga Cadeia de Amarante funcionou, em tempos que já lá vão, num edifício que ainda hoje existe quase tal e qual, na rua agora chamada oficialmente de Miguel Bombarda, à época chamada Rua Crispiniano da Fonseca, para nós, amarantinos, simplesmente Rua da Cadeia desde que a conhecemos.
Este edifício de três pisos, composto de rés-do-chão, primeiro e segundo andar, albergava os presos separados por sexos, os homens no segundo andar, as mulheres no primeiro.
Como o meu pai nasceu por aqui perto, mesmo por trás da Torre Sineira de S. Gonçalo, guarda memórias desde novo do medo que a miudagem tinha de por ali passar nas cercanias pois alguns dos cadastrados eram cadastrados de alto gabarito e o meu pai lembra-se particularmente de um deles que amedrontava muito particularmente os miúdos, à época, conhecido pelo alcunho de "O Violão".
Os presos eram guardados pelo carcereiro, sr. José Ribeiro, que possuía uma Casa de Pasto logo abaixo, no Largo de S. Pedro. O carcereiro tratava a cadeia por enxovia, termo que hoje se associa a coisa porca e fedorenta e não a cárcere e o meu pai ainda hoje afirma que lhe parece ouvir a voz encorpada do sr. Ribeiro, virado para o filho, "Ó Zé, vai-me buscar a chave da enxovia!" E o Zé Ribeiro lá ia.
As refeições dos presos eram confeccionadas nessa casa de pasto e a confiança entre carcereiro e reclusos era tanta que este os deixava sair, aos pouquinhos para não perder o controlo da coisa, a fim de tomarem a refeição na dita casa de pasto. No final do repasto regressavam religiosamente à cadeia. Eram outros tempos, de outras vontades...
Os presos tinham um estratagema curioso para arranjarem uns trocaditos para tabaco e outras miudezas. Prendiam uma lata, normalmente de sardinha de conserva, diz-me o meu pai, a uma corda que faziam descer até ao nível da rua pedindo de cima a respectiva contribuição e as pessoas lá iam deitando uns tostões, à medida das suas possibilidades.
Um dia correu célere a notícia que uns quantos tinham fugido, cavando um buraco até ao esgoto que descia directo até ao rio... não sei se é lenda...
Nota - Este bonito edifício, propriedade da Câmara Municipal de Amarante e onde em tempos funcionou a Câmara Municipal de Amarante, já merecia umas obritas de restauro que lhe restituísse a dignidade algures perdida... e algum préstimo...
Aqui fica o apelo.
Acrescento em 29 de Julho de 2014. Com os meus agradecimentos ao sr António Patrício!
António Patrício É verdade, esta rua é uma das mais antigas ruas de Amarante, senão, a mais antiga, e tem uma história cheia e honrosa. Conhecida por Rua da Cadeia, também podia ser conhecida por "Rua da Câmara" pois este edifício era a antiga Câmara de Amarante que funcionava no último piso, seguindo-se a cadeia no piso do meio e a enxovia no piso rés-ao-chão (com duas janelas com grades - hoje tem uma janela e uma porta pois já no nosso tempo era lá que vivia o Zé Almeida sapateiro e músico) onde eram colocados os presos mais perigosos. O acesso a esta divisão da cadeia era feito através de um alçapão e uma escada em madeira, amovível. Foi-lhe dado o nome de Rua Crispiniano da Fonseca em Sessão de Câmara do dia 18/3/1905 a pedido da Associação de Socorros Mútuos e passou a chamar-se Rua Miguel Bombarda em Sessão de Câmara do dia 29/10/1910. No entanto, ainda hoje é conhecida por Rua da Cadeia, uma vez que, a cadeia, depois da Câmara se ter mudado para o convento ainda aqui funcionou por mais cerca de 60 anos. Foi carcereiro o velho amigo Zé Ribeiro que vivia no piso do meio, dividindo este piso com a cadeia das mulheres. No último piso era a cadeia dos homens. Ficou célebre a fuga de uns presos que estavam na enxovia – pois era quase impossível fugir da enxovia – mas, houve um que descobriu, caber no sifão das "escorrências" que ligava ao cano, em pedra, do saneamento e que ligava directamente ao rio mas, certo dia, um houve que ficou entalado, por ser mais gordo ou ter falta de jeito, e tudo se descobriu... os presos também tentaram uma fuga serrando as grades mas foram descobertos pelo carcereiro já quando dependuravam uns lençóis, servindo de corda...
Acrescento em 7 de Outubro de 2016, com os meus agradecimentos ao Coronel Artur Freitas:
"A casa da Camera, que também o he do Auditório, e mal fabricada: tem dous sobrados, no primeiro por onde se entra está a cadea das mulheres, e no mais alto se faz Audiência, e Autos do Senado: na loge está a enxovia, que he pequena, e terrível." (in Diccionário Geográfico 1747)
Acrescento em 7 de Outubro de 2016, com os meus agradecimentos ao Coronel Artur Freitas:
"A casa da Camera, que também o he do Auditório, e mal fabricada: tem dous sobrados, no primeiro por onde se entra está a cadea das mulheres, e no mais alto se faz Audiência, e Autos do Senado: na loge está a enxovia, que he pequena, e terrível." (in Diccionário Geográfico 1747)
2 comentários:
CREIO HAVER UMA TANTA CONFUSÃO AQUI E ALI, O EDIFIFÍCIO SERÁ DOS FINAIS DE XV. DEPOIS, E ISSO POSSO TESTEMUNHAR, A ENXOVIA É QUE MAIS EM CONTACTO ATÉ COM OS ALUNOS DA PRIMÁRIA. O "PALHINHAS" PERIGOSO? AGORA, LÁ NO ALTO, CUIDADO! QUALQUER DIA DIVUKGAREI UM "BOM DIA" SOBRE O ASSUNTO. NINGUÉM DESMENTIU, QUANDO FOI PUBLICADO NO JN. O QUE NINGUÉM DIZ É QUE, AOS DOMINGOS, A ENXOVIA TINHA CARNE ASSADA, AO ALMOÇO, IDA LÁ DE CASA. NEM QUE O "PHILIPS" DE CAPELA, POSTO NUMA JANELA, DAVA MÚSICA PARA OS PRESOS. E QUE NÓS, MENINOS, ENTRETÍNHAMOS OS PRESIDIÁRIOS. EU MORAVA AO LADO...
Força aí! Aguardo com impaciência essas suas memórias!
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