quarta-feira, 1 de maio de 2013

Antiga Cadeia de Amarante

Antiga Cadeia de Amarante - Antiga Rua da Cadeia
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Antiga Cadeia de Amarante

A antiga Cadeia de Amarante funcionou, em tempos que já lá vão, num edifício que ainda hoje existe quase tal e qual, na rua agora chamada oficialmente de Miguel Bombarda, à época chamada Rua Crispiniano da Fonseca, para nós, amarantinos, simplesmente Rua da Cadeia desde que a conhecemos.
Este edifício de três pisos, composto de rés-do-chão, primeiro e segundo andar, albergava os presos separados por sexos, os homens no segundo andar, as mulheres no primeiro.
Como o meu pai nasceu por aqui perto, mesmo por trás da Torre Sineira de S. Gonçalo, guarda memórias desde novo do medo que a miudagem tinha de por ali passar nas cercanias pois alguns dos cadastrados eram cadastrados de alto gabarito e o meu pai lembra-se particularmente de um deles que amedrontava muito particularmente os miúdos, à época, conhecido pelo alcunho de "O Violão".
Os presos eram guardados pelo carcereiro, sr. José Ribeiro, que possuía uma Casa de Pasto logo abaixo, no Largo de S. Pedro. O carcereiro tratava a cadeia por enxovia, termo que hoje se associa a coisa porca e fedorenta e não a cárcere e o meu pai ainda hoje afirma que lhe parece ouvir a voz encorpada do sr. Ribeiro, virado para o filho, "Ó Zé, vai-me buscar a chave da enxovia!" E o Zé Ribeiro lá ia.
As refeições dos presos eram confeccionadas nessa casa de pasto e a confiança entre carcereiro e reclusos era tanta que este os deixava sair, aos pouquinhos para não perder o controlo da coisa, a fim de tomarem a refeição na dita casa de pasto. No final do repasto regressavam religiosamente à cadeia. Eram outros tempos, de outras vontades...
Os presos tinham um estratagema curioso para arranjarem uns trocaditos para tabaco e outras miudezas. Prendiam uma lata, normalmente de sardinha de conserva, diz-me o meu pai, a uma corda que faziam descer até ao nível da rua pedindo de cima a respectiva contribuição e as pessoas lá iam deitando uns tostões, à medida das suas possibilidades.
Um dia correu célere a notícia que uns quantos tinham fugido, cavando um buraco até ao esgoto que descia directo até ao rio... não sei se é lenda...

Nota - Este bonito edifício, propriedade da Câmara Municipal de Amarante e onde em tempos funcionou a Câmara Municipal de Amarante, já merecia umas obritas de restauro que lhe restituísse a dignidade algures perdida... e algum préstimo...
Aqui fica o apelo.

Acrescento em 29 de Julho de 2014. Com os meus agradecimentos ao sr António Patrício!


António Patrício É verdade, esta rua é uma das mais antigas ruas de Amarante, senão, a mais antiga, e tem uma história cheia e honrosa. Conhecida por Rua da Cadeia, também podia ser conhecida por "Rua da Câmara" pois este edifício era a antiga Câmara de Amarante que funcionava no último piso, seguindo-se a cadeia no piso do meio e a enxovia no piso rés-ao-chão (com duas janelas com grades - hoje tem uma janela e uma porta pois já no nosso tempo era lá que vivia o Zé Almeida sapateiro e músico) onde eram colocados os presos mais perigosos. O acesso a esta divisão da cadeia era feito através de um alçapão e uma escada em madeira, amovível. Foi-lhe dado o nome de Rua Crispiniano da Fonseca em Sessão de Câmara do dia 18/3/1905 a pedido da Associação de Socorros Mútuos e passou a chamar-se Rua Miguel Bombarda em Sessão de Câmara do dia 29/10/1910. No entanto, ainda hoje é conhecida por Rua da Cadeia, uma vez que, a cadeia, depois da Câmara se ter mudado para o convento ainda aqui funcionou por mais cerca de 60 anos. Foi carcereiro o velho amigo Zé Ribeiro que vivia no piso do meio, dividindo este piso com a cadeia das mulheres. No último piso era a cadeia dos homens. Ficou célebre a fuga de uns presos que estavam na enxovia – pois era quase impossível fugir da enxovia – mas, houve um que descobriu, caber no sifão das "escorrências" que ligava ao cano, em pedra, do saneamento e que ligava directamente ao rio mas, certo dia, um houve que ficou entalado, por ser mais gordo ou ter falta de jeito, e tudo se descobriu... os presos também tentaram uma fuga serrando as grades mas foram descobertos pelo carcereiro já quando dependuravam uns lençóis, servindo de corda...

Acrescento em 7 de Outubro de 2016, com os meus agradecimentos ao Coronel Artur Freitas:

"A casa da Camera, que também o he do Auditório, e mal fabricada: tem dous sobrados, no primeiro por onde se entra está a cadea das mulheres, e no mais alto se faz Audiência, e Autos do Senado: na loge está a enxovia, que he pequena, e terrível." (in Diccionário Geográfico 1747)

2 comentários:

Costa Carvalho disse...

CREIO HAVER UMA TANTA CONFUSÃO AQUI E ALI, O EDIFIFÍCIO SERÁ DOS FINAIS DE XV. DEPOIS, E ISSO POSSO TESTEMUNHAR, A ENXOVIA É QUE MAIS EM CONTACTO ATÉ COM OS ALUNOS DA PRIMÁRIA. O "PALHINHAS" PERIGOSO? AGORA, LÁ NO ALTO, CUIDADO! QUALQUER DIA DIVUKGAREI UM "BOM DIA" SOBRE O ASSUNTO. NINGUÉM DESMENTIU, QUANDO FOI PUBLICADO NO JN. O QUE NINGUÉM DIZ É QUE, AOS DOMINGOS, A ENXOVIA TINHA CARNE ASSADA, AO ALMOÇO, IDA LÁ DE CASA. NEM QUE O "PHILIPS" DE CAPELA, POSTO NUMA JANELA, DAVA MÚSICA PARA OS PRESOS. E QUE NÓS, MENINOS, ENTRETÍNHAMOS OS PRESIDIÁRIOS. EU MORAVA AO LADO...

Anabela Magalhães disse...

Força aí! Aguardo com impaciência essas suas memórias!

 
Creative Commons License This Creative Commons Works 2.5 Portugal License.