Observatório ComRegras - A verdade começa a vir ao de cima e dá comichões...
Não posso deixar de começar pelo título do DN, felizmente que o título não está correto e infelizmente o título não está correto… As mais de 9000 expulsões da sala de aula (9130) correspondem a 55016 alunos e não a 4200.
Sobre o seu conteúdo, as reações são claramente positivas, e se a redução do número de alunos por turma for uma realidade já valeu a pena o trabalho feito. No entanto e não é preciso fazer nenhum estudo para constatar o óbvio, essa medida por si só não resolve o problema, ajuda, mas não resolve. As questões disciplinares têm várias causas e precisam de um plano, implementado em várias frentes para que os resultados comecem a surgir, algo que vai demorar pois estamos perante números muito elevados de indisciplina.
E que de uma vez por todas, que quem de direito e não um professor qualquer de um blogue qualquer, sem meios nem recursos, faça o trabalho que lhe compete e publique os ditos. Pelo menos na minha casa eu gosto de saber o que se passa e não atirar para debaixo do tapete, mas isso sou eu…
Sobre a notícia que saiu hoje, eu respondi a algumas perguntas mas que por motivos que desconheço não foram publicadas. Ficam as ditas.
Este estudo pode ser extrapolado para a realidade nacional?
Completamente, a amostragem embora curta, é nacional e engloba Agrupamentos/Escolas com diferentes ligações ao Ministério da Educação. A indisciplina é algo transversal e existe em todo o lado, quer seja na escola pública/privada ou em casa. A questão é saber se a sua dimensão/tipologia é limitadora do processo educativo. Tenha a certeza que sim, quer por este estudo, quer pela minha prática enquanto docente.
Como foi selecionada a amostra? Pediu às escolas que mandassem os dados?
Sim, foi enviada uma minuta para todos os Agrupamentos Escolares, incluindo os Açores e Madeira para que fosse possível obter uma amostragem relevante que se aproximasse o mais possível da realidade, a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP) apoiou esta iniciativa. Infelizmente a resposta ficou-se pelos 38 agrupamentos, o que mostra também que a maioria dos Agrupamentos não possui dados tão pormenorizados sobre indisciplina. Numa opinião meramente pessoal, as questões disciplinares continuam a ser encaradas um pouco em part-time, este tema é ainda um pouco tabu e a sua existência é muitas vezes encarada como um falhanço dos professores/diretores o que nem sempre se verifica.
Falta conhecer a realidade nacional da indisciplina?
Sim, este estudo é a ponta do icebergue. Não podemos basear as políticas educativas sem conhecer como as palmas das nossas mãos um dos principais cancros educativos que é a indisciplina. Qual a sua dimensão? Qual a sua tipologia? Qual a sua gravidade? Que dinâmicas de sala de aula reduzem os níveis de indisciplina? Qual a sua evolução às medidas implementadas? Quais as idades críticas? A retenção potencia a indisciplina? etc… Existem “n” questões que precisam de ser respondidas e o blogue ComRegras quer percorrer esse caminho, já que a tutela não dá sinais de o querer fazer.
Qual é o principal problema nas salas de aula?
Acredito que a “pequena” indisciplina é frequente e apesar de ser pouco grave, a sua reincidência torna-a perturbadora, situações como: conversar com os colegas, estar desatento, ter comentários inadequados, são muito frequentes e prejudicam o processo ensino-aprendizagem. Numa sondagem que fiz no meu blogue, os professores referiram que perdem entre 30% a 40% do tempo de aula com situações de indisciplina. É uma brutalidade de tempo! Depois temos situações mais graves que podem ir desde o uso indevido de aparelhos tecnológicos, injúrias, ameaças, agressões, bullying, etc, não só a alunos mas também a docentes e não docentes. O estudo mostra que são situações pouco frequentes, mas pela sua gravidade trazem muitas vezes associadas marcas para o resto da vida.
Vai tentar alargar o estudo a nível nacional?
O estudo terá a dimensão que as escolas quiserem. Mas quem devia fazer estudo era a tutela, de forma independente e pública. Não com rankings, pois cada Agrupamento é uma realidade e comparar situações de indisciplina tem muito que se lhe diga. O ComRegras continuará a acompanhar o fenómeno da indisciplina e já criou um observatório para o efeito, bem como um espaço de apoio psicológico e jurídico para a comunidade educativa. Não devia ser um projeto de alguns e sem meios, mas a Escola precisa de todos e pessoalmente fiquei farto de tanto discurso crítico e ideológico, é preciso mudar mentalidades e encarar os problema de frente em vez de andarmos a “gritar” uns com os outros.
A subida constante das participações disciplinares indica que a indisciplina está a aumentar ou os professores estão menos tolerantes?
Uma correção, não foram as participações disciplinares que subiram (ordem de saída da sala de aula), o que subiu foi a percentagem de número de alunos que tiveram essa ordem. Sobre os professores, eu não diria menos tolerantes, diria sim cansados, alguns mesmo derrotados pela indisciplina vigente. Dar a cara todos os dias, entrando numa sala de aula onde muitos alunos não querem estar lá, onde muitos não têm um apoio familiar que ajude o professor nessa tarefa, é muito difícil e extenuante. Estamos a assistir a uma banalização da indisciplina e o que dantes era considerado grave hoje é normal. O aluno não respeita a entidade professor, o professor tem de conquistar o respeito do aluno e isso não é fácil, principalmente quando na formação de base de professor não houve o cuidado para o preparar para a realidade. Ser professor hoje em dia não é apenas um “centro” de sabedoria, é um gestor de diferentes personalidades, um gestor de conflitos.
Deixo também o link do fórum da TSF que abordou o assunto
Fórum TSF
A opinião do Paulo Guinote sobre o assunto e que consta da peça
Indisciplina(s)
Indisciplina(s) – 2
E para quem não viu o estudo, carregue em baixo e veja as conclusões e propostas que deixei.
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