Gravuras Rupestres - Museu do Côa
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Parece que os suspeitos são machos, são maiores e são vacinados. Parece que os suspeitos resolveram brincar, quais moços infinitamente parvos, danificando Património que é deles mas que também é de toda a Humanidade, infligindo-nos um prejuízo incalculável a todos e a cada um de nós.
Durante um passeio de bicicleta, estou a vê-los todos artilhados!, parece que resolveram imitar os paleolíticos do Côa e toca de gravar no xisto, exactamente no painel do Homem de Piscos, exactamente no painel de uma raríssima figuração humana provinda dos nossos primórdios, uma bicicleta e uma pessoa que um qualquer miúdo do pré-escolar conseguiria imitar.
Devem ter achado um piadão. Pode ser que não achem tanta piada assim ao que agora se seguirá.
Assim o espero. Porque danificar o Painel do Homem de Piscos é o equivalente a danificar a Capela Sistina.
Capice, energúmenos vândalos? Sejam lá quem eles forem...
Polícia identifica suspeitos de vandalismo de gravura do Parque Arqueológico do Vale do Côa
E recupero um post de 13 de Abril de 2015:
É do conhecimento da generalidade das pessoas, mesmo das inteiramente leigas sobre estes assuntos da História, nomeadamente da História da Arte, que o Parque Arqueológico de Foz Côa alberga a maior colecção conhecida de arte rupestre paleolítica ao ar livre existente nesta nossa casa comum que é a Terra.
O Vale do Côa, protegido e temperado, rico em caça e em pesca, em frutos e no mais que os nossos antepassados necessitavam para assegurar a sua sobrevivência, atraiu, desde tempos imemoriais, uma população que elegeu este vale como a sua casa, como o seu lar. Fruto desta escolha, estas margens haveriam de guardar dentro de si as pegadas destes ancestrais Homo sapiens sapiens duplamente sábios e sabedores, que foram geniais no Côa e que nos legaram os comprovativos dessa genialidade na arte rupestre que acompanha o vale mais ou menos profundo.
A fauna representada pela gravação é diversa - auroques, veados, cabras, cavalos, corças, camurças, peixes, até algumas raras figuras humanas - figuras sobrepostas ou isoladas, por vezes de tal forma emaranhadas que se torna difícil acompanhar o traçado extraordinariamente fino e elegante ou mesmo mais forte e mais marcado. De génio mesmo, a opção pela gravação de animais com duas ou mais cabeças, induzindo em nós a sensação de movimento, enfim, introduzindo aqui, estes artistas do Côa, os princípios da Banda Desenhada que estava ainda tão longe de ser descoberta, geográfica e temporalmente falando.
As caminhadas para os núcleos, curtas, valem cada passo dado por veredas que acompanham o curso curvilíneo e agora manso do Côa. Por esta altura, pela Primavera, os malmequeres e o rosmaninho aos molhos enchem os montes de odores incríveis e de cores soberbas que nos espicaçam os sentidos para o que depois veremos e escutaremos. O chilreio da passarada louca é omnipresente. Associar tudo isto a um dia de sol radioso é uma bênção dos céus, de que podemos usufruir quase sem dispêndio de verbas para enorme deleite e preenchimento dos nossos interiores, todos os dias a precisarem de ser alimentados de coisas belas e poderosas. Foi o caso.
Aconselho vivamente os meus leitores a organizarem visitas ao Parque Arqueológico do Côa. A região é soberba, pacata, habitada por gente hospitaleira e acolhedora. Combinem tudo com antecedência com o pessoal do museu que é, em cinco estrelas, seis estrelinhas.
E não se arrependerão. Digo eu.
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