sábado, 20 de abril de 2019

A Palavra a Emanuel Queirós - O TÂMEGA DE CIDADÃOS LIVRES

Fotografia retirada do mural de José Emanuel Queirós

A Palavra a Emanuel Queirós - O TÂMEGA DE CIDADÃOS LIVRES

O texto é maravilhoso, lúcido... e irónico. Hoje dou a palavra a um dos poetas do Tâmega que escreve em prosa bela, dizendo muito do que há para dizer nesta altura do caminho por um Tâmega livre.

"A notícia divulgada na comunicação social por voz do ministro do Ambiente na Assembleia da República, na passada terça-feira (16/04), de que fora cancelada a construção da famigerada barragem apontada a Fridão, foi recebida com diferenciado estado de emoção entre autarcas com os olhos colocados no saco dos euros das compensações, e cidadãos que jamais alienarariam patrimónios naturais intemporais de todos e a segurança comum.
O efeito da nova anunciada na grande informação, repercutido no vale, teve uma dinâmica propulsora surpreendente, por tantos novos amigos o Tâmega subitamente conquistou.
De ilustres cidadãos e eleitos que celebraram a ‘decisão’ governamental, retardada por conveniências cruzadas no Ministério do Ambiente, por todos estes 12 anos de esclarecimentos, de debates públicos e privados, de confronto de posições, de denúncias públicas, de moções, de votações, de petições, de comunicados, de opiniões publicadas e de voltas dadas pelo Tâmega, acima e abaixo em jornadas de luta, jamais tive a felicidade de os reconhecer e acompanhar com semelhante empenho na mesma luta.
Ocorre irresistível tentação de endereçar cordiais felicitações a esses novos soldados que, agora, generosa, espontânea e livremente fazem questão de se associar à causa do Tâmega, recomendando a sua férrea e firme consciência ambiental para que prossigamos a luta pelo Tâmega livre barragens e do encascatamento que o rio está a ser alvo a montante de Mondim de Basto - dado que sobre Fridão deixaram de pesar os nevoeiros hidroeléctricos da EDP -, antes que o vale seja transformado numa cascata de águas mortas e permaneça a ameaça de montante, para a qual, todos juntos, continuaremos a ser poucos.
Do afogamento do vale, por efeito do represamento do rio no escalão de Fridão, Celorico de Basto e Mondim de Basto poderão continuar a usufruir da bênção de uma paisagem de valor natural singular, enquanto a cidade de Amarante fica a salvo da configuração ameaçadora da mais próxima guilhotina, que seria erguida a 4 e 6 quilómetros a montante da cidade.
A batalha que presentemente todos celebram em Amarante e no Tâmega, a todos convocava igualmente desde o início, quando muitos observaram obediência às correntes oficiais com a crítica aos que pareciam estar empenhados nalguma causa poética.
Para incómodo e desespero dos patrões das eléctricas posicionados como proprietários ausentes do vale, do Alto ao Baixo, ainda há poetas que ousam escutar a voz do Tâmega nos seus murmúrios e apelos, a quem – a cada um dos amigos dessa estirpe que se propagou às Universidades e em Lisboa infectou os aposentos ministeriais –, endereço emocionada saudação!...
O Tâmega é um estado de alma transbordante e um compromisso existencial perene, a quem Golias não atemoriza nem diminui com o brilho do ouro ensacado para comprar concertos, instrumentos, bolas e fatos de treino para miúdos. Exige atalaias despertas, redobrados esforços e união entre combatentes ribeirinhos, nele pontuados de Vidago a Amarante, a que ficaram associados ambientalistas militando em associações e deputados posicionados em partidos autónomos das alternâncias governativas.
Muitas foram as jornadas que se prolongaram pela noite e madrugada em quilómetros de leituras e estradas percorridas, como inúmeros são os protagonistas em vários pontos do país, nos momentos e circunstâncias, convocados por convicta e inabalável fidelidade ao Tâmega.
De cidadãos disponíveis e intervenientes pelos valores presentes no meio, sem esperar tributos nem retribuições, esta conquista foi alcançada com o mesmo entusiasmo e juízo com que partimos para enfrentar quem apareceu, no Município de Amarante, na administração da eléctrica e em seus mais altos e credibilizados avençados!...
Lembrando, por último, quem de novo se associou ao ponto final colocado no ilegal e demoníaco projecto hidroeléctrico lançado pelas eléctricas para Fridão - Amarante, cabe referir e sublinhar que, nos actos de cidadania consecutivamente desenvolvidos durante mais de uma década, ganhou o Tâmega de cidadãos livres, afrontando os mais poderosos interesses que fazem seus jogos no aparelho do Estado português e já tinham estas terras contabilizado como suas."

Sem comentários:

 
Creative Commons License This Creative Commons Works 2.5 Portugal License.