Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
San Pedro de la Nave
San Pedro de la Nave é uma das igrejas mais importantes de toda a península Ibérica e, como tal, foi declarada monumento nacional no já longínquo ano de 1912.
A igreja, que pode ser visitada, e que vale bem o desvio para quem se desloca de Zamora para Salamanca, é uma pequena jóia construída pelos Visigodos por finais do século VII, o que a faz, certamente, uma das últimas igrejas construídas antes da quase total submersão muçulmana da península a partir de 711.
A igreja de San Pedro de la Nave não se encontra no local da sua primitiva e original construção já que, entre 1930 e 1932, foi trasladada, e consequentemente salva, das águas do Elsa, devido à construção da barragem de Ricobayo. Evitou-se assim a perda de um importante testemunho da vida cristã do século VII.
A igreja é pequena, deixando-se captar inteirinha pela lente da minha máquina, deixando-me com a sensação que, a esta distância, cabe inteirinha na palma da minha mão.
A igreja é pequena, deixando-se captar inteirinha pela lente da minha máquina, deixando-me com a sensação que, a esta distância, cabe inteirinha na palma da minha mão.
Trata-se de uma elegante construção, de escala perfeitamente humana, de planta cruciforme, de paredes exteriores de um tom espantosamente quente e dourado, rosado e avermelhado, remetendo-nos para realidades distantes, que nos acolhem amorosamente, de braços abertos num caloroso abraço, despido de qualquer acessório, feito de paredes completamente nuas onde a decoração não está presente.
A entrada faz-se com emoção e com respeito. Com respeito pelos nossos antepassados que a construíram com esforço, com respeito pelos nossos antepassados que a povoaram de silêncios, de vozes, de sorrisos, de exclamações, tal como nós o fazemos agora. O interior é de uma simplicidade comovente, pontuado aqui e ali, com frisos, capitéis e impostas que ostentam uma decoração espantosamente delicada, quase rendilhada. Os arcos, em ferradura, que vão ser usados até à exaustão pela arquitectura muçulmana, já aqui estão, belos e elegantes arrancando de delicados capitéis e delicadas impostas.
Percorro-a observando e absorvendo a luz, quase divina, que a banha, banhando-nos a nós também. Fotografo-a exaustivamente descobrindo cores, formas, mensagens inesperadas.
Não sou católica e não tenho pena. Nem sempre acredito em Deus e, nestes momentos de recolhimento interior, aqui e no deserto, tenho pena.
Valeu bem o desvio. Foi a visita mais comovente de todas as que me foi permitido fazer, nestes três dias de viagem, por terras de Leão e Castela.
E só chegarei a Salamanca amanhã. Por hoje basta. Fico-me por San Pedro de la Nave mais uma vez. Recolhida.
E só chegarei a Salamanca amanhã. Por hoje basta. Fico-me por San Pedro de la Nave mais uma vez. Recolhida.
4 comentários:
Um verdadeira peregrinação interior (a nossa vida é que tem de ser coerente...o resto, é a caminhada de cada um). Obrigada pela partilha da história desta capela e das fotografias cheias de cor,luzes e sombras (como a nossa vida e, muitas vezes, a nossa fé)dos contrastes e da beleza.
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E vai aproveitando o teu "olhar" da história e da fotografia para nos deliciares.
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Carpe diem!
Obrigada, Raul, pelas tuas palavras de conforto por quem é tão imperfeito.
Bjs
Anabela, o teu texto tocou-me. Lembrei-me, também, como me senti há uns anos na Igreja de Covadonga, em que a presença divina quase se sentia, palpável, na gruta. A seguir visitei Lourdes e não senti o mesmo, nem de perto.
Dizes que não és católica. Sabes, como Professora de História, que católica quer dizer "universal". Pelo que, com esse Amor que demonstras a cada passo por pessoas e coisas, não garanto que não sejas mais católica do que pensas. Nem sempre acreditas em Deus. Só às vezes. Não faz mal. Ele acredita sempre em ti. Não é por acaso que amas o deserto, minha Princesa do Tâmega! É preciso ler os sinais. Pela tua dedicação às causas, pela tua alegria, pela tua coerência que não alinha em paninhos quentes, tu és crente. Mas não te preocupes! Garanto-te que não se morre disso... (brincando, claro). Não são os que se benzem muito e batem no peito os primeiros a entrar. Tu vais entrar. Talvez a reclamar de alguma coisa injusta que viste pelo caminho, mas certamente, terás o teu lugar no Paraíso.
Sentidamente, Carmo
Hoje voltei aqui, Carmito, e li-te. Deixei-te sem resposta e por isso peço-te desculpa. Acho que me comovi demasiado com as tuas palavras...
Beijinho grande, com saudades, onde quer que estejas...
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