quinta-feira, 31 de maio de 2012

A Palavra a Luís Costa

A Palavra a Luís Costa

Quarta-feira, 30 de Maio de 2012


Autonomia em Lingerie


"Nunca se falou tanto de autonomia. Não há nenhuma decisão ministerial, lavrada num simples despacho ou numa lei pomposa, que não traga este código postal, este salvo-conduto, ou melhor, esta lingerie tão sexy. Quem resiste a tanto charme?
Neste contexto, como em muitos outros, a palavra “autonomia” é perversamente polissémica. É que, de repente, podemos ser levados a pensar que “autonomia” é algo como irmos para um determinado lugar e podermos decidir que caminho seguir para lá chegar. Mas essa miragem é absolutamente frívola, nefanda e deveras perigosa. Isso é como estarmos quase a despir a lingerie à própria autonomia. É… uma espécie de adultério cometido contra o Estado. Quem pensou que “autonomia” seria algo deste género é melhor confessar-se, pois já pecou em pensamento. Voyeurs!
Para o poder político, “autonomia” é… tudo menos aquilo que foi minuciosamente expresso no parágrafo precedente. Toda e qualquer decisão que a escola possa tomar — desde poder comprar fósforos para acender lampiões de S. João até às históricas decisões sobre os toques de campainha, passando pela opção de gastar sabão líquido ou daquele que se escapa das mãos — é, para o MEC, uma extraordinária e mui canora concessão de autonomia. Nesse sentido, nunca, desde o tempo do Marquês de Pombal, escorreram para as escolas tantas enxurradas de autonomia. Ela é tanta que até nos afoga de fartura: os imprescindíveis projetos educativos; os originalíssimos regulamentos internos; os inconfundíveis projetos curriculares de turma e de ano; os planos de recuperação, de acompanhamento e de… coiso; a rara e incomensurável coleção de justificações docentes… O Ministério da Educação apenas decide a parte mais ínfima, quase molecular: a obrigatoriedade de tudo isto, mesmo que as escolas não percebem os seus fundamentos existenciais. Depois… depois… as instituições locais e autónomas de educação têm um oceano de liberdade emancipada para decidirem como operacionalizar tudo aquilo. E ai de alguém do Ministério, ou da Inspeção, que se atreva a meter o nariz em tal affair para espreitar o sedoso frufru da lingerie!
Pelo meio, há aqueles que gostavam de ser dispensados de terem casos com regulamentos internos, com projetos e planos para tudo e mais alguma coisa — que acabam por ser basicamente iguais e igualmente monótonos em todo o lado, mas com milhares de horas de onanismo frustrante — para ficarem com terreno livre para um compromisso honesto com uma proposta minimalista, daquelas que gostam de se sentir em mãos experimentadas, para construir uma relação séria e com fins matrimoniais vitalícios. Esses não se entusiasmam apenas com a lingerie, querem mesmo o seu conteúdo, ao vivo, a cores e a três dimensões.
É, pois, muito natural que haja por esse país fora muita gentinha farta desta autonomia em lingerie, que dança sensualmente diante de nós, mas não nos deixa ir além da Taprobana. Os preliminares têm piada, mas convém que não se façam muito prolongados. Então quando nunca se passa daí… a gente passa-se!"
Nota - Post inteiramente surripiado ao Luís Costa, autor do blogue Dardomeu onde o podem ler acompanhado de música sexy... eheheh... e ainda levam com um bónus fotográfico...

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