A Palavra a Luís Costa
Quarta-feira, 30 de Maio de 2012
Autonomia em Lingerie
"Nunca se falou tanto de autonomia. Não há nenhuma decisão
ministerial, lavrada num simples despacho ou numa lei pomposa, que não traga
este código postal, este salvo-conduto, ou melhor, esta lingerie tão
sexy. Quem resiste a tanto charme?
Neste contexto, como em muitos outros, a palavra “autonomia” é
perversamente polissémica. É que, de repente, podemos ser levados a pensar que
“autonomia” é algo como irmos para um determinado lugar e podermos decidir que
caminho seguir para lá chegar. Mas essa miragem é absolutamente frívola, nefanda
e deveras perigosa. Isso é como estarmos quase a despir a lingerie à
própria autonomia. É… uma espécie de adultério cometido contra o Estado. Quem
pensou que “autonomia” seria algo deste género é melhor confessar-se, pois já
pecou em pensamento. Voyeurs!
Para o poder político, “autonomia” é… tudo menos aquilo que foi
minuciosamente expresso no parágrafo precedente. Toda e qualquer decisão que a
escola possa tomar — desde poder comprar fósforos para acender lampiões de S.
João até às históricas decisões sobre os toques de campainha, passando pela
opção de gastar sabão líquido ou daquele que se escapa das mãos — é, para o MEC,
uma extraordinária e mui canora concessão de autonomia. Nesse sentido, nunca,
desde o tempo do Marquês de Pombal, escorreram para as escolas tantas enxurradas
de autonomia. Ela é tanta que até nos afoga de fartura: os imprescindíveis
projetos educativos; os originalíssimos regulamentos internos; os inconfundíveis
projetos curriculares de turma e de ano; os planos de recuperação, de
acompanhamento e de… coiso; a rara e incomensurável coleção de justificações
docentes… O Ministério da Educação apenas decide a parte mais ínfima, quase
molecular: a obrigatoriedade de tudo isto, mesmo que as escolas não percebem os
seus fundamentos existenciais. Depois… depois… as instituições locais e
autónomas de educação têm um oceano de liberdade emancipada para decidirem como
operacionalizar tudo aquilo. E ai de alguém do Ministério, ou da Inspeção, que
se atreva a meter o nariz em tal affair para espreitar o sedoso frufru da
lingerie!
Pelo meio, há aqueles que gostavam de ser dispensados de terem
casos com regulamentos internos, com projetos e planos para tudo e mais alguma
coisa — que acabam por ser basicamente iguais e igualmente monótonos em todo o
lado, mas com milhares de horas de onanismo frustrante — para ficarem com
terreno livre para um compromisso honesto com uma proposta minimalista, daquelas
que gostam de se sentir em mãos experimentadas, para construir uma relação séria
e com fins matrimoniais vitalícios. Esses não se entusiasmam apenas com a
lingerie, querem mesmo o seu conteúdo, ao vivo, a cores e a três
dimensões.
É, pois, muito natural que haja por esse país fora muita
gentinha farta desta autonomia em lingerie, que dança sensualmente diante
de nós, mas não nos deixa ir além da Taprobana. Os preliminares têm piada, mas
convém que não se façam muito prolongados. Então quando nunca se passa daí… a
gente passa-se!"
Nota - Post inteiramente surripiado ao Luís Costa, autor do blogue Dardomeu onde o podem ler acompanhado de música sexy... eheheh... e ainda levam com um bónus fotográfico...
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