Páginas do Livro da 1ª Classe em Uso Durante o Estado Novo
Confesso que hoje fui completamente apanhada de surpresa ao ler a notícia, saída no JN, que dá conta da existência de escolas públicas em que se celebram missas durante as aulas. A notícia deixa-me estupefacta. Nunca, por pura sorte minha talvez!, contactei com semelhante realidade promíscua, nem enquanto estudante nem posteriormente enquanto docente e já carrego no lombo, somadas as duas condições, 45 anos de Escola Pública portuguesa.
O nosso Estado não é um estado confessional sabendo eu que ainda existem muitos estados confessionais espalhados pelo mundo - exemplo desta situação é o Reino de Marrocos, aqui tão perto, em que se misturam perigosamente, numa promiscuidade sem fim, assuntos do Estado e assuntos da Religião, sendo Mohammed VI, simultaneamente, com todos os perigos que daí advêm, chefe de estado e chefe religioso.
A Lei de Separação do Estado e da Igreja data de 20 de Abril de 1911 e neste particular somos devedores da 1ª República e muito devedores da figura incontornável de Afonso Costa. Assim, acedemos ao casamento civil como o único válido, às leis do divórcio... e isto só para focar duas emblemáticas normas que têm reflexos na nossa vida quotidiana e que advêm da laicização do estado. Bem sei que durante o Estado Novo a promiscuidade voltou a ser total com os crucifixos pendurados, e bem visíveis!, nas nossas salas aulas e as máximas de Deus, Pátria e Família a serem-nos incutidas desde a mais tenra idade, por todo o lado, até pelos livros, únicos, por onde estudávamos e por onde aprendíamos as primeiras letras.
Agora, hoje ainda estamos assim? A sério que isto acontece?
É que, se o que está reportado corresponde à realidade, mal anda a Escola Pública ao chegar a este ponto de promiscuidade entre o que é do Estado e o que é a Igreja.
As missas celebram-se nas Igrejas, não nas Escolas. E é que nem em tempo de aulas, nem fora dele.
Escolas públicas celebram missa durante as aulas
4 comentários:
Realmente este é um país do catano
Então não é que fui à Fnac e tinham lá à venda Bíblias livros do Papa Francisco e se não bastava ainda estavam lá com uma promoção de filmes da Páscoa
Arre
Anónimo, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Se não percebe a diferença, talvez queira experimentar a realidade da Arábia Saudita, do Irão ou de outros estados anómalos onde tudo está misturado.
Olhe, e eu tenho aqui bíblias e pasme-se, até tenho um corão! E agora?! ;)
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra!
Também como professor e como católico, sou a favor da separação. Porém, não me escandaliza. Todo o povo tem a sua cultura e a sua Memória. Se essas celebrações tiverem a haver com a celebração dessa cultura pelos alunos e professores sem prejudicar os demais, não crentes ou crentes de outras religiões, por que não?
Parece-me que estamos em entrar num "totalitarismo da tolerância" em que esta não é coisa nenhuma. Daqui a pouco estou a ver que temos que banir da própria língua expressões como o «Adeus» que, como sabe, tem uma origem religiosa.
De qualquer forma, prefiro a fé vivida nos lugares público ou privados adequados a tais celebrações.
Bem haja (mais uma expressão de origem religiosa ;) )
Paulo Victória
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