domingo, 23 de janeiro de 2011

As Musas

As Musas

Criar é um acto de Amor e José Pires, como título da sua obra anuncia, “Ama demasiado”.
Ama as Pessoas,
A vida,
Os sítios,
A Natureza.
Sente-os.

Mas acima de tudo ama as Palavras,
Refúgio-catarse
Do escritor.

Criar é um acto sentido
Ainda que exprima o des-sentido do artista.
Através das Palavras esconjura os males da facticidade,
do agora,
do mundo distópico
prenhe de desvalores.
Através das palavras
critica o absurdo da existência concebida enquanto ritual mecânico,
satiriza o efémero, o ridículo, a “doxa”, a vacuidade.

Por isso, as Palavras, as suas Palavras têm um poder ambivalente:
de negação e de invenção.

Versejando
Acolhe a poesia que o acolhe,
Prolongamentos radicais do modo de ser do Poeta.

E nos seus Poemas sente-se a vontade de Ser
Pressente-se a autenticidade
Do que flui
Da saudade de outrora
Da Felicidade perdida e reaparecida.

Memórias
De quem sente,
Cria.

Memórias de quem sofre,
Existe.

Memórias de quem cria,
Sonha.

Versejando edifica o mundo do dever ser
Mera utopia?
O imaginado irrealizado
Decepção perene do Criador
Força motriz do Inventor.

O Escritor
Desvela-se em cada verso
Erigindo os seus poemas em ontologia melódica.

O escritor,
Este Escritor
Resiste à efígie epidérmica, ao fotograma,
Pois na dialéctica da invenção-reinvenção,
reificada na sua poesia,
Vai libertando os seus “eus “:
a identidade assumida, negada e reassumida,
a identidade construída, destruída e reconstruída.
Mas esta complexidade emana do seu sentir profundo,
dos signos linguísticos que habitam o corpo e libertam a alma.
E neste solilóquio interior,
Neste aconchego das palavras,
Há um poder encantatório que nos atrai até à obra criada e nos suspende na/pela contemplação estética.

José Pires
Ama a vida com a irrequietude própria de quem alberga uma Alma rebelde
Regulando a sua existência pela busca incessante da singularidade criadora.
Todavia, a vida, com todos os seus paradoxos, é labiríntica
Tal como a palavra escondida
Tal como a palavra emancipada
Em cada poesia.

É um ilusionista
Um inventor de palavras
Desenha cada palavra e é desenhado por ela
Cumplicidade suprema no acto de criar.

Nos percursos que traça,
Reais ou ideais,
Nos trajectos que sente
Na vida que sofregamente quer enlaçar
Há um acto urgente e ressurgente:
Um acto de Amor.

No reino da Poesia o tempo amaldiçoado metamorfoseia-se em tempo escrito sonhado.
Liberdade do criador
cuja Alma peregrina
se recusa abandoná-lo.

As palavras constituem o seu elemento genésico
Extasiadas e sofredoras
Pertencem-lhe
São a sua essência.

Nutre-se da poesia que cria
Poetisa para si
Poetisa para nós.

Hoje e para sempre fundiu-se com o tempo
É o tempo.
Hoje e para sempre fundiu-se com a natureza,
É elemento telúrico.
Hoje e para sempre fundiu-se com o Outro,
É mesmidade e alteridade.
Hoje e para sempre fundiu-se com as Palavras
É Poesia.
Hoje e para sempre é Amor.
Poeta. Inventor.

Casa da Cultura e da Juventude,
22 de Janeiro de 2011


A (ex)Professora de Filosofia,

Elsa Cerqueira

Nota - Agradeço-te a beleza do texto dedicado ao José Luciano e connosco partilhado.
E agora, só entre nós que ninguém nos ouve... para quando um blogue teu, Elsa Cerqueira?

4 comentários:

Elsa C. disse...

Olá, Anabela:

Que bela soirée!
É gratificante acompanhar estes "miúdos" - e o José Luciano em particular - na sua caminhada em prol dos seus sonhos. A conquista da autonomia, da "maioridade mental". E o resultado?
Um belíssimo livro de Poesia.
E Educar, como referi ontem, consiste nisto: partilhar saberes, experiências e afectos!
Como gosto de ser Professora!

Gostei imenso de rever.
Quanto ao blogue, relembrar-te-ei, o que em tempos te disse: não sinto necessidade de ter uma casinha virtual.
Aliás, sempre que abro o teu blogue sinto o aconchego da tua casa.Sempre que não deixo rasto, lembra-te que por cá passei ou passeei. A tua casa é, há muito tempo, também minha.

Bj,
Elsa

Anabela Magalhães disse...

Bela soirée mesmo, Elsa C! E põe gratificante nisso!
E como nos entendemos bem nesta coisa complexa da Educação...
E ver o José Luciano, ali, do outro lado da mesa... que orgulho de rapaz que busca a "sua maioridade mental". Não é um percurso fácil. Nós sabemos disso. Tantos que nós conhecemos que já desistiram dela e a perderam lá atrás algures no tempo, não é assim, Elsa C?
Quanto à tua casa virtual, confesso-te que é puro egoímo meu de querer usufruir mais de ti...
Beijinhos e votos de excelente Domingo!
Foi/está a ser óptimo.

José Pires disse...

Para mim, sem dúvida um dos pontos altos da noite. Mais uma vez obrigado Elsa e obrigado também Anabela por partilhar :)
E já disse inúmeras vezes: Imagino que como professor seja um enorme prazer acompanhar um aluno ou ex-aluno mas, para nós deste lado ter-vos a vós e saber que podemos sempre contar com o vosso apoio condicional é extremamente gratificante. Obrigado por tudo.

Beijinhos

Anabela Magalhães disse...

As relações que por vezes estabelecemos com muitos de vós, Zé Lú, são relações únicas que extravasam a mera relação chapa cinco entre professor-aluno e vice-versa. Fui vossa/tua professora três anos, numa idade, a vossa, magnífica de seguir, do sétimo ao nono, de crianças a adolescentes jovens, a cada ano que passava vós mais crescidos em todos os aspectos.
Ver-te voar na noite da apresentação do teu livro, da tua obra, da coisa que de ti brotou e é alma tua, é algo que eu jamais esquecerei e só tenho a agradecer-te o convite, o facto de não te teres esquecido de mim...
Continuaremos a ver-nos por aí... e continuaremos a trocar sorrisos generosos...
Beijinhos e fica bem.

 
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