Sejamos claros. Muitas pessoas comem animais e dão-se muito bem com tal costume. Aliás, a Humanidade pulou e avançou à conta deste consumo iniciado pelos hominídeos que primeiro introduziram pequenos animais na sua alimentação e depois animais de grande porte como mamutes e afins. Muitos milhões de anos passaram entretanto sobre esses tempos remotos que ficaram por certo gravados no nosso ADN colectivo e que não nos afastaram completamente do prazer da caça, da perseguição e da luta... mesmo se hoje em dia normalmente tão desequilibrada entre peça de caça e caçador.
Confesso que não sou fundamentalista nesta coisa do consumo de animais e gosto mesmo da carne de frango, de cabrito, de leitão, de codorniz, de javali, de boi, de cavalo e até de dromedário e eu sei lá mais o quê que já me foi dado a provar nas minhas andanças pelo mundo. E também gosto de peixe, acho que de todo... e adoro mesmo aquele camarão pequenino chamado da costa. Espero, como é óbvio, que na hora de matar qualquer animal que vai ser consumido pelo homem, este não tenha comportamentos sádicos e inflija sofrimento desnecessário aos desgraçados dos bichos que acabarão no meu prato. Quem diz no meu, diz também no vosso, gente que integra esta bicheza na sua dieta alimentar. Mas isto é uma coisa completamente distinta daquilo que se passa nas touradas e diria mesmo que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
O espectáculo a que chamam tourada é tão nojento quanto qualquer outro espectáculo em que se inflige sofrimento propositado a um animal para gáudio de uma multidão, como chamar-lhe... insensível?... retrógrada?... bárbara?... talvez sedenta de sangue?
E que esse espectáculo nojento e bárbaro, onde se pratica uma violência gratuita sobre um animal, seja financiado com o dinheiro que é nosso, com dinheiros públicos, com o dinheiro de cada português contribuinte é, no mínimo, um asco de atitude de que todo o político se deveria afastar, deveria saber evitar e da qual deveria fugir a sete pés. E... no entanto... o projecto de lei que pretendia pôr cobro ao financiamento público das touradas não passou na nossa Assembleia da República, no dia 20 de julho de 2016. Sim, leu bem, não estamos algures no império romano no ano 16 e sim, é certo, já passaram dois mil anos sobre esse ano, muita água passou igualmente sob os arcos da Pont du Gard... e sim, já tivemos tempo para nos tornarmos mais humanos e menos asquerosos.
Bem sei, a coisa mexe com muitos interesses instalados, mexe com verbas obscenas que interessa manter a circular e vai daí há que não afrontar a coisa.
Assim, foi ver deputados do PCP, do PS, do PSD e do CDS a chumbarem um projecto lei mais do que justo, diria até maduro de Humanidade. Para todos eles, sem excepção, para todos quantos votaram contra - e bem sei que alguns deputados do PS votaram a favor do projecto lei -, argumentando com a tradição, os interesses económicos, os interesses turísticos e eu sei lá mais o quê, o meu maior e veemente vómito.
Assim, sem mais.
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