quinta-feira, 28 de julho de 2016

Do Envelhecimento dos Professores


Do Envelhecimento dos Professores

As políticas laborais seguidas pelos últimos governos, da direita à esquerda passando também pelo centro, no sector da Educação, trouxeram-nos aqui, ao local onde nos encontramos hoje e do qual foi captada uma fotografia de uma paisagem que só nos pode envergonhar enquanto país e que deve deixar preocupados todos os portugueses, independentemente de terem filhos a estudar ou não.
Acho que todos os professores que escrevem sobre assuntos relacionados com a Educação já chamaram a atenção para este gravíssimo problema que um dia destes, lá mais para a frente, rebentará nas mãos de um qualquer governo, de um qualquer ministro... logo se verá... por agora empurremos o problema com a barriga para um futuro que estará mais próximo do que muitos julgam, por agora empurremos o problema para a frente, pensarão, por certo, os nossos governantes, todos eles, independentemente do credo professado... que até pode ser que a batata quente estoure nas mãos dos "outros", daqueles que não têm a "nossa" cor política.
As salas de professores estão mais envelhecidas do que nunca e nunca antes assim estiveram. Esta afirmação, não é uma opinião, é um facto. Porque cada sala de professores neste país revela uma tendência e esta tendência já foi observada por todos quantos as habitam - a maioria dos professores já passou os cinquenta anos, existem professores no activo com mais de sessenta, na faixa dos quarenta já são bem menos... na faixa dos trinta são... um  fenómeno!
Quando comecei a leccionar, com vinte e poucos anos, à escola onde fui colocada chegaram outros e outras da minha faixa etária dando cumprimento a um processo de passagem de testemunho relativamente a outros que se iam aposentando que era absolutamente normal.
Em 2015 escrevi que a passagem de testemunho suave e natural, que já foi habitual um dia, não está a ser feita numa escala compatível com o que seria desejável e normal, porque há um fosso, um hiato, criado artificialmente pelo poder político que travou as saídas de professores o mais das vezes esgotados, muitas vezes demasiado exaustos e impediu o mais possível as entradas de sangue novo, gente com o sangue na guelra, disposta a agitar as instituições e tirá-las, se possível, de alguma letargia existente que se acentuará, por certo, à medida que todo um corpo docente envelhece.
Há gente no activo que acumula bem mais do que 40 anos de serviço... parece-vos justo?
E sendo que nós somos a frente que liga passado ao futuro, sendo que nós somos a profissão com mais responsabilidade relativamente à passagem de testemunho do que já é passado mas também ao despoletar da inovação, ao estimulo da criatividade, do movimento constante em direcção ao futuro, parece-vos decente que se mantenha um corpo docente que enferma do mal do envelhecimento físico... e, quantas vezes!, do envelhecimento mental?E escrevi já em 2016: Ora, deste facto, decorre que a passagem de testemunho, que antes se fazia de uma forma natural e não sobressaltada, é/será feita agora de forma abrupta e solavancada para não dizer mesmo à martelada. Por outro lado a plasticidade, a dinâmica e a capacidade de adaptação, até mesmo o optimismo, de um corpo docente envelhecido não são os mesmos se a média etária desta classe profissional se situa pelos 30, pelos 40 ou pelos 50... um dia destes rondará os 60 anos em Portugal se os políticos que nos governam não tomarem medidas drásticas que possibilitem o rejuvenescimento desta classe que lida, no seu dia-a-dia, paradoxalmente, com os mais jovens, ou seja, que lida com o futuro da Nação. E depois, quem chega é suposto trazer novas visões e estratégias e se quem chega vai trazendo mais do mesmo... pois, estamos conversados.
Acrescento que também não me parece ser perspectiva muito agradável, do ponto de vista dos alunos, verem chegar, sistematicamente, às suas salas de aula, professores com idade suficiente para serem seus avós. E acrescento ainda que também para mim não é perspectiva minimamente atractiva poder pensar numa situação futura em que chego à sala de aula e escuto uns ecos de "Lá vem mais uma velha!"

Hoje volto a insistir, a propósito de uma notícia saída ontem na imprensa portuguesa, neste que é um problema gravíssimo que afecta as escolas portuguesas.

E quando milhares e milhares e milhares de professores portugueses chegarem à idade da reforma... haverá contingente para os substituir? Não terão desistido já, de esperar por um lugar que parece não levar a lado nenhum, todos os aspirantes a professores deste país?

Não chegam a 500 os professores com menos de 30 anos no ensino público

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