EB 2/3 de Amarante - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Nasci no início da década de sessenta do século passado e a escola que frequentei até ao 25 de Abril de 1974 foi uma escola muito redutora, baseada num saber repetitivo que se decorava sem mesmo saber para quê e sem explicações sobre as coisas decoradas nem mesmo sobre a razão das coisas serem o que eram... se é que eram.
Assim decorávamos a tabuada porque sim, decorávamos os nomes dos rios porque sim, decorávamos as montanhas porque sim, decorávamos o nome das colónias portuguesas porque sim... e sim, decorávamos até mentiras impingidas por um poder que não admitia, por exemplo, que Goa, Damão e Diu, "invadidas e ocupadas" pelos indianos e perdidas para sempre no ano do meu nascimento, já não faziam parte integrante do império português aquando da minha entrada na escolinha... e nós que pensávamos que sim... pois se tínhamos de as saber todas de cor e salteado e a lenga lenga acabava sempre em Goa, Damão e Diu! Em suma, a escola esgotava-se dentro da sala de aula e nos deveres, sagrados, que tínhamos de cumprir diariamente. E ponto final.
Depois deu-se o 25 de Abril e Escola Portuguesa começou a desabrochar e a abrir-se ao mundo. Recordarei para sempre as aulas das experiências, as aulas visitas de estudo, as aulas saídas de campo para desenhar a cidade, os problemas lançados em contexto de sala de aula que nos faziam exercitar os neurónios até dizer chega, os projectos/desafios lançados pelos nossos professores a apelar à nossa intervenção cívica, à nossa crítica construtiva, práticas ainda minoritárias, bem sei, que o saber continuou a ser debitado, lido, eu sei lá! por muitos professores que fui apanhando pelo caminho, faculdade incluída.
E com estas práticas pedagógicas díspares cheguei/chegámos à penúltima década do século XX, década em que entrei ao serviço do ministério da Educação.
Nunca partilhei, nem enquanto aluna nem enquanto professora, de uma visão de Escola reduzida à transmissão do saber, à salinha de aula, ao livrinho lido, agora aos PowerPoints lidos para parecer mais modernaço, ao saber debitado do lado de cá, decorado do lado de lá. A Escola deve, para mim, desafiar interpelar, inovar, projectar, sair do espaço físico confortável, sair da sala de aula, virtualmente também, sair do recinto escolar, agendar actividades colaborativas interdisciplinares, agendar oficinas experimentais, procurar parcerias com os organismos locais, colaborar com as forças vivas existentes na cidade, na vila... o que for, deve escutar os alunos, deve manter a criatividade destes em alta, deve dar-lhes a possibilidade de observarem, interiorizarem e praticarem arte, seja ela de que tipo for... tudo isto sem descurar os conteúdos, claro está, que à Escola também se exige que não descure o conhecimento e o saber e tudo isto sem descurar também os afectos e sem deixar de cuidar das emoções porque nós somos cuidadores de pessoas em formação que serão os adultos de amanhã.
Em suma, a Escola do século XXI será, penso eu, uma Escola cada vez mais complexa e que poderemos caracterizar como Desafiadora sendo que os desafios vão-se colocar a Professores, Alunos, Encarregados de Educação e Assistentes Operacionais que precisarão de remar o mais possível na mesma direcção.... com a ajuda da Tutela, claro está!, ajuda esta indispensável para o êxito da Missão. Os Professores terão de ajustar práticas, alguns, os que se mantêm fossilizados, terão mesmo de as alterar radicalmente. Os Alunos terão igualmente de ajustar práticas e comportamentos, alguns precisarão mesmo de rever por completo a sua ideia de Escola... extensivo aos Encarregados de Educação. O Ministério da Educação terá de ser um parceiro facilitador e não uma pedra no sapato de cada interveniente no processo educativo.
A Escola do século XXI quer-se aberta e cada vez mais transparente na sua acção e cabe-nos a nós, Tutela e Comunidade Educativa no seu conjunto, encontrar as respostas aos desafios que surgirão amanhã, depois e ainda depois...
Nota - Post inicialmente partilhado no blogue ComRegras.
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