Centro Histórico de Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
Viver no centro histórico, neste caso concreto, viver no centro histórico de Amarante, é uma condição que, uma vez experimentada, dificilmente se troca seja pelo que for.
É verdade que as ruas do centro enfermam de muitos males, muitas das casas foram construídas em altura distribuem-se por vários andares ligados por escadarias mais ou menos violentas, encontram-se agora desabitadas, algumas estão mesmo declaradamente em ruínas, os lugares de garagem são quase inexistentes, algumas ruas são íngremes como o raio que as parta, a limpeza das ruas e das quelhas deixa muito a desejar, o gás de cidade só chega a uma pequena minoria de habitantes do velho burgo, as intervenções de reabilitação são, à partida, dispendiosas, se atendermos a um facto que frequentemente se coloca - os seus proprietários, quando equacionam vender as velharias, pedem couro e cabelo por pedras que não valem os tarecos de um gato e que, amiúde, são um encargo para os novos proprietários que terão de as mandar demolir quase por inteiro para começar tudo de novo... e por aí adiante que é sempre possível enumerar mais desvantagens para quem habita este centro histórico único e especial.
Mas, para quem o habita, para quem experimentou já as delícias de viver com tudo à distância de dois ou três passos a pé, da creche às escolas onde se lecciona toda a escolaridade obrigatória, às mercerias, frutarias, floristas, cafés e confeitarias, serviços diversos públicos e privados... podendo dispensar carro dias a fio, estimulando a deslocação a pé pela cidade, pelas suas ruas e pelas suas quelhas, contribuindo, deste modo, para a sua humanização, para quem experimentou as delícias de um acordar ao som do trinado louco da passarada fazendo restolho nas japoneiras e nas laranjeiras que povoam este centro histórico sossegado, para quem já experimentou a beleza de um abrir de janelas para o casario amarantino e, para os mais privilegiados, para o rio Tâmega, que passa ora morno rompendo suavemente o vale ou que passa rugindo furiosamente tal a pressa da viagem... dificilmente, muito dificilmente se conseguirá dar em qualquer outro lugar dos arrabaldes da city por mais condições xpto que aí possa acumular.
As janelas e as portas que se abrem para o centro histórico de Amarante são únicas. A comunidade de vizinhos que a habita, e que sabe do que estou para aqui a falar, também. E é resistente. E amante destas e de outras delícias já experimentadas neste velho burgo.
Nota - Clique nas fotografias para ampliar.
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