segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Viver no Centro Histórico (de Amarante)

  






Centro Histórico de Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Viver no Centro Histórico (de Amarante)

Viver no centro histórico, neste caso concreto, viver no centro histórico de Amarante, é uma condição que, uma vez experimentada, dificilmente se troca seja pelo que for.
É verdade que as ruas do centro enfermam de muitos males, muitas das casas foram construídas em altura distribuem-se por vários andares ligados por escadarias mais ou menos violentas, encontram-se agora desabitadas, algumas estão mesmo declaradamente em ruínas, os lugares de garagem são quase inexistentes, algumas ruas são íngremes como o raio que as parta, a limpeza das ruas e das quelhas deixa muito a desejar, o gás de cidade só chega a uma pequena minoria de habitantes do velho burgo, as intervenções de reabilitação são, à partida, dispendiosas, se atendermos a um facto que frequentemente se coloca - os seus proprietários, quando equacionam vender as velharias, pedem couro e cabelo por pedras que não valem os tarecos de um gato e que, amiúde, são um encargo para os novos proprietários que terão de as mandar demolir quase por inteiro para começar tudo de novo... e por aí adiante que é sempre possível enumerar mais desvantagens para quem habita este centro histórico único e especial.
Mas, para quem o habita, para quem experimentou já as delícias de viver com tudo à distância de dois ou três passos a pé, da creche às escolas onde se lecciona toda a escolaridade obrigatória, às mercerias, frutarias, floristas, cafés e confeitarias, serviços diversos públicos e privados... podendo dispensar carro dias a fio, estimulando a deslocação a pé pela cidade, pelas suas ruas e pelas suas quelhas, contribuindo, deste modo, para a sua humanização, para quem experimentou as delícias de um acordar ao som do trinado louco da passarada fazendo restolho nas japoneiras e nas laranjeiras que povoam este centro histórico sossegado, para quem já experimentou a beleza de um abrir de janelas para o casario amarantino e, para os mais privilegiados, para o rio Tâmega, que passa ora morno rompendo suavemente o vale ou que passa rugindo furiosamente tal a pressa da viagem... dificilmente, muito dificilmente se conseguirá dar em qualquer outro lugar dos arrabaldes da city por mais condições xpto que aí possa acumular.

As janelas e as portas que se abrem para o centro histórico de Amarante são únicas. A comunidade de vizinhos que a habita, e que sabe do que estou para aqui a falar, também. E é resistente. E amante destas e de outras delícias já experimentadas neste velho burgo.

Nota - Clique nas fotografias para ampliar.

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