Contributo - Quinta da Torre - Marco de Canaveses
Fotografia de Paula Vaz
A resposta a esta questão é, para mim, simples e é depende. E esta dependência varia apenas de acordo com a variação das circunstâncias e a análise que delas faço, ou seja, cada caso, é um caso.
Passo a explicar, com um caso concreto.
A Igreja de Santa Maria, situada na freguesia de Fornos, no Marco de Canaveses, é uma peça arquitectónica religiosa que deve o seu projecto a um específico arquitecto, mundialmente conhecido, prémio Pritzker de 1992, chamado Álvaro Siza Vieira.
A Igreja de Santa Maria é, arquitectonicamente falando, uma das poucas coisas interessantes que a cidade do Marco de Canaveses possui já que a cidade deve ser mesmo um caso de estudo, pelas piores razões, nas escolas de arquitectura portuguesas... sim, eu sei, fora o seu centro histórico, Amarante não lhe ficará atrás em falta de planeamento e falta de qualidade arquitectónica e foi ver crescer o caos urbano como cogumelos nos campos em dias de chuvas mornas e outonais.
Para mim, a Igreja de Santa Maria, no Marco de Canaveses, é mesmo o exercício arquitectónico mais interessante de todo o centro urbano da cidade e o único edifício que me faria chegar de longe para o ver, tal como fui de Amarante à Chapelle Notre-Dame-du-Haut, em Ronchamp, em Haute-Saône, França, só para a poder respirar, só para poder respirar uma obra de um dos arquitectos que mais admiro, Le Corbusier. No caso da arte, a respiração através dos livros ou dos filmes deixa sempre a desejar quando comparada a uma presença física frente à peça real.
Confesso, adoro respirar edifícios religiosos, sejam eles igrejas, sinagogas, mesquitas... e, infelizmente para mim, não posso acrescentar outras confissões que, por certo, dariam respirações inesquecíveis. Sei que por vezes consigo fazer respirações mágicas nestes locais de culto quase ao nível das respirações transcendentais que por vezes faço no Grande Sahara.
Mas, voltemos ao assunto que aqui me trás - os edifícios religiosos não dizem respeito apenas aos crentes daquela religião específica. Os edifícios religiosos dizem respeito a toda a população que se interessa pela arte em geral, seja ela crente ou não crente.
Assim, a Igreja de São Gonçalo também é minha pelo exercício artístico que lá se exprime, a Igreja de Santa Maria idem aspas aspas, o mesmo para a de Ronchamp, o mesmo para Hagia Sophia, a Sagrada Sabedoria, em Istambul, primeiro catedral impressionante da cristandade, depois belíssima mesquita islâmica pois então!, posteriormente edifício secular já que hoje é um espaço musealizado, ainda o mesmo para a Mesquita Hassan II, em Casablanca... and so one...
Vai daí, ontem respondi afirmativamente a um apelo dos Amigos da Igreja de Santa Maria e compareci num jantar que visou a angariação de fundos para obras de manutenção desta igreja.
Sou uma entidade particular, basicamente faço o que me apetece e o que entendo dever/poder fazer num dado momento.
Confuso? Nem por isso. Provavelmente o que me levou lá foram razões bem distintas das da maioria dos presentes. Ou não. Sei lá eu...
Nota - Continuo a achar escandaloso e inaceitável o que se passa no Largo de S. Pedro, em Amarante. E, sei-o, o futuro irá dar-me razão.
Sem comentários:
Enviar um comentário