sábado, 2 de abril de 2016

Educação/Professor - Finlândia 20 / Portugal 0


Educação/Professor - Finlândia 20 / Portugal 0

Hoje dou a palavra, importante, à Senhora Ministra da Educação e da Cultura da Finlândia, Sanni Grahn-Laasonen, socorrendo-me da entrevista que esta concedeu ao Carta Educação.
Asseguro-vos apenas que os sublinhados são meus.


Carta Educação  Os países escandinavos sempre foram vistos como exemplos para os latino-americanos, especialmente no que diz respeito a temas relativos a um Estado de bem-estar social (educação, saúde etc), cujas bases aqui estão muito aquém. Quais seriam os elementos necessários para a criação de sistema de proteção social? De que maneira a igualdade trazida pelo estado de proteção social ajuda a ter uma educação de melhor qualidade?
Sanni Grahn-Laasonen – Acredito que tudo começa com a educação. A educação cria o Estado de bem estar social, promove direitos humanos e democracia.  Educação é também a base para o crescimento econômico, já que para um país se tonar inovador precisa ter um sistema educacional bom. Então eu começaria focando nisso, na educação desde a primeira infância. Na Finlândia, por exemplo, temos jardins da infância, educação primária e educação básica totalmente grátis e um dos nossos valores mais fortes é o da igualdade. Ou seja: não importa o conhecimento que se tem, o tipo de família da qual vem, quem são seus pais, onde se vive, todos têm uma educação excelente. Então não é apenas para pais que têm dinheiro e querem oferecer uma boa educação a seus filhos, mas para todos. Toda criança tem acesso a uma educação de alta qualidade, e todas as escolas são boas, não interessa a cidade ou região sobre a qual estamos falando na Finlândia.
CE – Um dos tópicos sobre o qual a senhora e sua comitiva vieram falar é a formação de professores. Os docentes na Finlândia são supervalorizados, ganham bem, são escolhidos entre os melhores alunos, e possuem bastante liberdade, uma vez que escolhem a maneira como ensinam, o material e o espaço a serem utilizados no aprendizado. Desde quando o sistema funciona assim? Não existe o risco de haver, portanto, formações e processos de aprendizagem diferentes?
SGL – É necessário se ter professores excelentes para existir um bom sistema educacional. Para que alguém se torne professor na Finlândia, tem de ter um nível bom, com cinco anos de formação que contemplam dois de mestrado. Então, sabemos que podemos contar com eles, não precisamos nos preocupar, pois sabem o que estão fazendo. Mas isso é possível graças a um nível de formação alto exigido dos professores. Eu acho que temos de confiar neles e mostrar isso, para que tenham liberdade e possam, ao mesmo tempo, ter responsabilidade.  Tudo é baseado na confiança.
Somos um dos mais bem posicionados países no Pisa (Programme for International Student Assessment), da OCDE. Mas com educação sempre temos de ter um olhar adiante. O segredo do nosso sistema educacional são os professores. Eles fazem seu trabalho com liberdade, não dizemos quais livros ou materiais usar ou como devem ensinar, se dentro ou fora da sala de aula. Os melhores estudantes acabam se tornando professores. Se me pedissem conselho de algum país, eu diria: invista em professores e em sua educação.
CE – Existe uma grande discussão em torno do currículo escolar: se ele deve ser compartimentado em disciplinas como matemática, química, biologia, gramática ou se deve trabalhar dentro de uma perspectiva interdisciplinar. Desde o início do ano, os centros de ensino da Finlândia começaram a aplicar um novo método conhecido como “phenomenon learning”. Como funciona esse método e de que maneira ele prepara o aluno para um pensamento transdisciplinar?
SGL – Isso não significa que deixamos de ter disciplinas. Continuamos a tê-las, mas o novo é que estamos tentando trazer coisas que estão acontecendo na vida real para a sala de aula, para estudar do que se trata segundo diferentes pontos de vista. Então escolhemos um fenômeno – mudança climática ou crise econômica, por exemplo – e então você começa a olhar o fenômeno a ser estudado por diferentes perspectivas, seja o background de História, Biologia ou Matemática que você tem. É um tipo de mecanismo que ajuda os alunos a aprender a pensar.
E dentro das disciplinas, estamos trabalhando em um novo currículo que fala sobre diferentes habilidades, com diferentes tecnologias e espaços de aprendizagem. Não é apenas trazer computadores para as salas, mas saber como utilizar tecnologias como games e outras ferramentas para os alunos se sentirem motivados a aprender.
Na Finlândia, é importante dizer, os políticos não elaboram o currículo educacional. Quem é responsável por isso é um conselho nacional, composto em sua maioria por experts. Eu tenho orgulho disso, pois não acho que políticos deveriam fazer esse tipo de coisa.
CE – Todos os anos, a Finlândia apresenta uma boa colocação no Pisa. Como funcionam os sistemas de avaliação de alunos no País? Como a senhora vê o Pisa, ao colocar no mesmo grupo países com estruturas tão distintas?
SGL – Não temos testes padrões na Finlândia. E eu diria que não estamos fazendo as coisas para nos sairmos melhor no Pisa. Estamos focados em ensinar, em elementos, por exemplo, que podem melhorar a educação de professores e promover a liberdade desses ao ensinar.
Não queremos provas padrões na Finlândia porque queremos que o professor tenha espaço para ensinar, que os estudantes possam aprender. Todo o foco deveria estar voltado para aprender e ensinar. E disso virão os bons resultados.
(...) Leia a entrevista na íntegra aqui.
Conclusão minha - Lá, como cá...

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