quarta-feira, 6 de abril de 2016

E Se Fosse Eu? Fazer a Mochila e Partir

Fazer a Mochila e Partir - EB 2/3 de Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

E Se Fosse Eu? Fazer a Mochila e Partir

Dou a palavra à Professora Rosa Maria Teixeira Pereira.

"Aceitei o desafio, fiz a minha mochila. Por instantes coloquei-me na pele daqueles que têm de partir sem a esperança de regressar. Imaginei essa partida na companhia da minha filha e do meu marido, tentei ser o mais objetiva possível e levar somente o peso que poderia carregar e de alguma forma os objetos que poderiam ser úteis a todos.
Levo uma manta leve e quente para à noite tapar a minha filha, um agasalho de malha polar para as noites frias, dois impermeáveis um para mim e o outro de maior dimensão em forma de poncho que dará para outra pessoa ou até para improvisar uma pequena tenda. Alguma roupa interior, um chapéu, um lenço grande para tapar o frio ou servir de toalha/lençol.
Uma pequena toalha, toalhitas e lenços de papel para a higiene mais básica. Um estojo de primeiros socorros para o caso de quedas e pequenos acidentes, uma bolsa com os medicamentos usados pela família. Um creme de aloé  vera para picadas de insectos, queimaduras solares de frio. Uma garrafa de água, snacks e bolachas energéticos e não perecíveis. Uma lata de leite condensado para durante algum tempo ter a oportunidade de dar leite à minha filha (desde que tenha água para o dissolver).
Ao pescoço levo duas pequenas bolsas, uma com telemóvel e carregador na esperança de poder manter o contacto com os que ficaram ou os que tomaram outro rumo.  Na outra, que procurarei manter sempre junto ao corpo para evitar perdas ou roubos, levo o meu CC, para a minha identificação, a cópia do meu certificado de habilitações na esperança de alcançar um país em paz onde possa exercer a minha profissão. Dinheiro, algum ouro que poderei eventualmente utilizar como pagamento em situações de tensão, um terço, as fotos dos que amo. Levo ainda um certificado do meu casamento católico e uma foto do meu casamento e outra do baptismo da minha filha, para no futuro ela ter pontos de referencia para continuar a história da nossa família ainda que longe de casa e de todos, e o meu Livro Azul, o livro que me acompanha há muito tempo e onde guardo os poemas e textos que marcaram a minha vida e onde escrevo, como agora as minhas reflexões. Na alça da mochila prendi um anjo de trapo que está sempre no quarto da minha filha, dentro do livro coloquei algumas pétalas de rosas oferecidas pela minha afilhada, na tentativa de perpetuar o meu lar e a minha família.

Não caberiam seguramente nesta mochila os sonhos, esses foram ficando pelo caminho trucidados por uma guerra desigual e injustificada (como todas as guerras) que me tirou de forma brutal gratuita a minha vida. Comigo caminhará apenas o instinto de sobrevivência."

2 comentários:

Anónimo disse...

Amei ouvir o Secretário de Estado e o Ministro na televisão a falar disto. A maneira como um falou da escola e outro falou aos alunos. Estamos numa fase boa. Nunca pensei orgulhar-me de quem nos governa.

Anónimo disse...

Adorei ouvir o Secretário de Estado na televisão e o Ministro hoje a falar aos alunos sobre esta iniciativa. Nunca pensei orgulhar-me de quem nos governa. Muito bom.

 
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