terça-feira, 20 de setembro de 2016

Educação - Consumos e Quando o Protesto Conta



Educação - Consumos e Quando o Protesto Conta



O texto que se segue foi inicialmente escrito para o ComRegras, um blogue que conta com a minha colaboração e do qual sou orgulhosa administradora.

As notícias sobre consumos de álcool e sedativos dos jovens portugueses até aos 16 anos, publicadas hoje pelo JN, são altamente preocupantes porque têm reflexos na vida escolar dos nossos alunos.
Sobre o consumo de álcool, é certo que longe vai o tempo em que o consumo de vinho era introduzido na alimentação dos mais jovens, às vezes desde o nascimento, e era estimulado e incentivado pela política central - beber vinho durante o Estado Novo era dar de comer a um milhão de portugueses - dizia-se.
Mas também é certo que o consumo de álcool entre os mais novos não precisou deste incentivo porque era o pão nosso de cada dia antes do 25 de Abril. Quem não se lembra das célebres sopas de cavalo cansado tomadas logo pela manhã, por novos e velhos, que assim, nos anos de pobreza extrema no tempo da ditadura salazarista, consistiam no pequeno-almoço possível garante da energia necessária para o trabalho, trabalho este muito e pesado, de sol a sol, de uma grande parte da população portuguesa ocupada na agricultura.
Esta tolerância ao álcool, muito especialmente ao vinho, está bem reflectida numa história paradigmática, que eu recordo sempre, e que me foi contada por uma colega que, preocupada porque o jovem tinha sido apanhado a beber cerveja, chamou a encarregada de educação, sua mãe, que, à novidade reagiu com um escandalizado "Ai o filho da p... com tanto vinho em casa!"
Ora, a notícia do JN de hoje, escrita por Dina Margato e baseada num estudo levado a cabo pela "European School Project on Alcohol and Oteher Drugs" entre 2011 e 2015, entre miúdos e miúdas até aos 16 anos, dá-nos conta que 80% dos menores tem acesso fácil ao álcool, o que é altamente preocupante atendendo ao que todos sabemos hoje sobre os malefícios deste consumo nas mais tenras idades e pelos mais jovens em geral, principalmente nas idades perigosas de adolescência.
Ora, esta notícia cruzada com uma outra do mesmo JN, retirada do mesmo estudo, e que nos dá conta que os jovens portugueses estão entre os que mais consomem sedativos é de deixar qualquer português preocupado, muito especialmente os pais e educadores destes jovens e, claro está, os professores que igualmente são educadores destes jovens. Porque estes consumos, em grau maior ou menor, têm um preço e têm consequências no aproveitamento escolar destes jovens. Mas o mais curioso é que estes sedativos e tranquilizantes são consumidos, na sua maioria, com receita médica. Em Portugal esta percentagem chega aos 13% contra 8% na restante Europa.

Assim, e face a este panorama que só vem confirmar com números o que já suspeitávamos ou sabíamos, ficamos todos a aguardar as políticas que irão ser encetadas na área da Saúde e Educação, nunca esquecendo o importante papel que aqui pode ser desempenhado por um interlocutor privilegiado e parceiro que é a Ordem dos Nutricionistas.

Por último, a certeza que é minha de que vale sempre a pena o protesto quando se tem razão. É que, amiúde, o protesto e a luta resulta mesmo em alterações bem palpáveis como foi o caso dos protestos encetados em Vieira do Minho, na Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico da Vila de Rossas e que nos foram relatados por Joaquim Gomes, no JN de hoje.
Os meus parabéns por quem não desistiu de lutar!

Aqui vos deixo um lote não exaustivo das notícias de hoje sobre os assuntos anteriormente tratados:

Do JN

Professor de apoio para escola que foi fechada a cadeado pelos pais

80% dos menores tem acesso fácil ao álcool

Jovens portugueses entre os que mais consomem sedativos

Do DN

Fumam e bebem menos, mas consomem muitos sedativos

Deixo-vos, por último, um pedido feito pela Directora Executiva Adjunta do JN, Paula Ferreira, num artigo de opinião intitulado Mundos Distantes, de sapatilhas e sandálias para os meninos e meninas que vão descalços para a escola... uma realidade que faz parte das nossas memórias portuguesas ainda pelos anos sessenta e setenta, erradicada somente depois do 25 de Abril.


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