domingo, 13 de abril de 2008


Aberta - Marrocos
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

"Cinco e Vinte da Tarde" I

Hoje inicio a publicação de um texto da minha sobrinha Vera Matias. É um texto sofrido, sofrido e ao mesmo tempo corajoso, que nos fala dos amores desencontrados que por vezes acontecem nas nossas vidas, a partir da adolescência, e que por vezes se prolongam pela vida adulta. Ou não. Cada pessoa tem as suas circunstâncias e, muito importante, cada pessoa cria as suas circunstâncias. Eu acredito profundamente nisto. Viver intensamente estes sentimentos, e aprender a lidar com eles, é uma tarefa que não tem fim e que faz parte do nosso crescimento e consolidação interior. Durante a adolescência os sentimentos estão ao rubro, à flor da pele, e sente-se cada coisa de forma até um pouco exagerada, violenta, como se toda a nossa vida dependesse de... seja do que for ou de quem for. Com o crescimento aprendemos a "domar" um pouco mais este sentimento de impotência, vulnerabilidade, dependência, perante o outro que nos rejeita ou perante circunstâncias adversas que nos esmagam, sendo certo que a maior parte de nós não conseguirá nunca domar completamente os sentimentos, porque eles explodem quando menos se espera, ao longo da nossa vida, e é bom que assim seja. Mas é importante que aprendamos a assumir a nossa especificidade, a nossa originalidade, sem dependências exageradas, sem muletas castradoras, que aprendamos a lamber as nossas próprias feridas e que aprendamos a sará-las.
Nós valemos pelo que somos e pela nossa capacidade interminável de regeneração. E a nossa capacidade de regenerar o amor é infinita.

"O caminho do sangue pelas minhas veias tornava-se difícil, e a função dos meus sentidos desvanecia. Já não sinto o teu perfume, já não recordo o sabor da tua boca na minha, esqueci por momentos a cor avelã dos teus olhos. Eram cinco e vinte da tarde e seguindo a rotina habitual foquei o meu olhar no teu. E foi então que eu vi. Para mim a vida perdeu o sentido, se é que alguma vez existiu um. A passagem do sangue pelas minhas veias tornou-se difícil, e nas artérias, Oh!, aí era quase impossível. O meu coração batia com mais força, com uma intensidade bruta, mas eu sentia falta de vida, sentia-me vazia de mim.
Eram cinco e vinte da tarde e vi o teu olhar no dela. Os teus olhos tinham um caminho traçado e nada ia mudar isso, estavam perdidos na imensidão do seu corpo e reflectiam a alegria que te ia no coração. Eram cinco e vinte da tarde. E tal como um dia fizeste com que me apaixonasse por esse teu olhar, nesse dia, às cinco e vinte da tarde, mataste-me com ele."

7 comentários:

Raul Martins disse...

E nós na escola ensinamos muita coisa... mas falar, dar-lhes tempo para partilhar os seus sentimentos, ajudá-los A SABER LIDAR COM ELES, falar do seu crescimento... é um espaço que ainda está muito verde. Mas já vamos, pouco a pouco, dando mais espaço ao lugar dos sentimentos na escola. E este texto que hoje a Anabela começa a publicar é bom para ajudar os nossos adolescentes a pensar sobre estas coisas.
E esta questão dos desencontros é dos mais marcantes na vida deles. Muitas vezes é a partir do como se sabe lidar ou não com eles que pode determinar uma vida mais ou menos feliz, mais ou menos tranquila, mais ou menos vivida.
Eu agradeço a sua partilha. Vou cá voltar com os meus alunos. É um bom ponto de partida para reflexões nas minhas aulas.
E fico à espera da continuação.
Carpe diem!

Pi disse...

O stora tem a certeza qué é mesmo esse o título que queria por???
Sabe quem é que me fez lembrar??
O Cláudio Ramos que escreveu um livro que na capa tinha um erro no nome dele. Onde é que este mundo vai parar??
Quanto ao texto, digamos que a hipotética susceptibilidade me impede de dizer mais

Anabela Magalhães disse...

Sem dúvida Raul, é importantíssimo que eles aprendam a lidar com os sentimentos e aprendam a superar desencontros. E nós educadores devemos dar-lhes espaço para falarem sobre o que os preocupa.
Obrigada pela atenção e pela reflexão conjunta que fará com os seus alunos sobre um texto que explode de sentimentos.

Anabela Magalhães disse...

Obrigada, Pi, pela tua chamada de atenção. De facto o título estava trocado. Vá lá, desculpa lá a tua professora, que anda cansada e já conheceu melhores dias!!! :)
Quanto ao resto estamos entendidos.

Pi disse...

Peço desculpa pois no comentário anterior devia lêr-se Subjactividade e não susceptibilidade.

Anabela Magalhães disse...

Kakakakaka... mas tu hoje também não acertas, Pi!!!
Susceptibilidade... assim é que é!
Beijocas :)

Vera Matias disse...

Fico feliz por saber que gostam dos meus textos :)
Fico mesmo. Quanto a uma continuação... Não sei. Logo darei notícias :)

 
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