terça-feira, 21 de julho de 2009

Amarante, os Amarantinos e o Rio


Amarante, os Amarantinos e o Rio
Fotografia de Foto-Carneiro

Amarante, os Amarantinos e o Rio

O post que agora escrevo tem por base as palavras do meu pai e as suas memórias relacionadas com o Tâmega.
O meu pai nasceu em 1937 e, aquando do seu nascimento, já existiam velhos hábitos e costumes entre os amarantinos relacionados com o rio, como se pode ver na fotografia que ilustra este post, e onde é facilmente identificado o meu muito querido avô Rodrigo, segundo na foto, contando da direita para a esquerda, o primeiro encostadinho à barraca, ainda muito jovem e solteirinho da silva.
O rio foi património passado de pais para filhos e estas barracas de madeira listada, contemporâneas do meu avô, povoaram ainda a infância e adolescência do meu pai não tendo chegado, no entanto, a alimentar as minhas memórias de infância ligadas ao rio, passada já nos Poços.
As barracas eram montadas anualmente e inauguravam a época balnear. Montadas sobre a corrente do rio num sítio chamado Gola, entre a Ínsua e o Areal, serviam não só para as pessoas mais modestas tomarem o seu banho de limpeza semanal, como também para as senhoras importantes e excêntricas de Amarante se refrescarem, a coberto dos olhares, curiosos e matreiros, da rapaziada que povoava o Tâmega à época. Mas a rapaziada parece que fintava as ditas senhoras e mergulhando nas águas outrora límpidas do rio espreitava-as, ai Jesus! Nuas!, tal qual tinham vindo ao mundo!
Durante a infância do meu pai era o senhor Adolfo Flores que ensinava a moçarada a nadar e foi com este senhor que o meu pai aprendeu a deslocar-se em meio líquido, nadando em segurança no rio. De cabaças debaixo dos braços, para não ir ao fundo, lá ia ganhando destreza e aperfeiçoando os movimentos até o senhor Adolfo o mandar fazer a prova final e que consistia em nadar, sem as ditas cabaças, desde a ponta da Ínsua até ao pilar da Ponte Velha, acompanhado pelo senhor Adolfo, que da sua Guiga, barco típico que ainda hoje povoa o rio misturado com umas ditas dumas gaivotas infestantes, ia vigiando a prova de superação de dificuldades acrescidas, num local de grande profundidade do rio. Dizia ele que se a moçarada conseguisse nadar aquela distância, sem parar, estava já apta a nadar em qualquer lugar e sem mais companhia, quer humana, quer a das ditas cabaças.
E a moçarada lá ia crescendo, no Verão sempre enfiada no rio, chapinhando e brincando, bebendo da sua água quando tinha sede, pescando as enguias que se movimentavam no fundo pedregoso do rio, com garfos, nadando até dizer chega, espreitando as senhoras nuas dentro das barracas.
Este foi um tempo anterior aos Poços, que pura e simplesmente não existiam enquanto praia, na infância e adolescência do meu pai.

7 comentários:

maria almeida disse...

Deliciosas memórias que percorro de mansinho para melhor as saborear, aqui e ali entrecruzando-as com as minhas que experienciei noutras águas doces e salgadas...`
É um privilégio ser tua leitora... das palavras e das imagens. Sempre belissimas.
Beijocas e boas férias

Anabela Magalhães disse...

Muito obrigada, Maria, pelas tuas palavras generosas e encorajadoras da minha escrita.
Beijocas grandes e excelentes férias... e descansa deste ano horribilis!

Helder Barros disse...

Anabela, grande post, grande fotografia; obrigado!
Este Rio faz parte de momentos de muita felicidade da minha vida; fuii uma criança muito feliz lá, a nadr com o meu falecido pai!
É que as coisas realmente importantes são simples... como ndar livremente num rio... sou como um rio, lá, lá, lá!!!

Anabela Magalhães disse...

Este rio faz parte de nós, Helder.
E é verdade, as coisas mais simples são, por norma, as mais importantes.
Excelentes recordações que temos todos à volta deste rio!
Obrigada pelas tuas palavras.
Fiquei de sorriso de orelha a orelha!
Beijocas

PB Pereira disse...

Anabela. Fantástica fotografia. Será que o teu pai se lembra do ano da foto?
Um espanto! Posso publicá-la nas Margens?

Anabela Magalhães disse...

Mas é claro, Pedro, a fotografia é toda tua!
Quanto ao ano não me parece que seja possível saber ao certo, mas digo-te que esta fotografia foi tirada algures na década de vinte porque os meus avós, Rodrigo e Luzia, casaram em 25 de Setembro de 1933 e a fotografia é anterior.
O meu pai não sabe mais do que isto. Pode ser que entretanto algum amarantino passe por aqui e saiba mais alguma informação sobre esta fotografia. :)
Beijinhos

Amélia Macedo disse...

Parabéns, Anabela pela tua pesquisa sobre Amarante e tudo o que nos dás a conhecer dos tempos áureos dessa terra que também é minha e de toda a minha família á alguns séculos. O texto aqui evidenciado é muito interessante e eu não o conhecia, sou do tempo dos poços. Esta investigação proporciona uma grande importância para Amarante.
Obrigada, pela minha parte
Amélia Macedo

 
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