sábado, 27 de dezembro de 2008

CEF - Levantamento de Problemas I

CEF - Levantamento de Problemas I

Os Cursos de Educação e Formação funcionam na ESA há muitos anos e, antes destes, funcionavam os antigos 15/18, daí que a experiência acumulada nesta escola seja já digna de nota relativamente a estes alunos, por norma, mais complicados e difíceis.
As turmas que integram estes cursos são constituídas por alunos que, no geral, não gostam da escola dita normal, porque demasiado teórica, oriundos quantas vezes de famílias disfuncionais, de baixos recursos económicos, de baixo nível cultural, alunos com problemas afectivos e comportamentais que não sabem, frequentemente, refrear e moderar as suas reacções, o que nos coloca problemas suplementares a que devemos dar resposta dentro e, quantas vezes, fora da sala de aula.
De notar que considero que não compete à escola albergar tudo no seu seio e que os delinquentes, caso existam, deverão ser encaminhados para outras instituições que não a Escola.
Feito este parentesis levanto hoje um problema pouco falado e assumido entre nós, professores.
Para que estes cursos funcionem sem se aumentar e potenciar os problemas e riscos de indisciplina, inerentes a alunos com estas características, é necessário um corpo docente experiente que alie autoridade, paciência, firmeza, afectividade, características que devem andar enlaçadas com uma enorme dose de bom senso e capacidade de reacção pronta, e que não contemporize com momentos de laxismo dentro da sala de aula, sob pena das turmas ficarem sem rei nem roque e se perder, por completo, o controlo da situação.
Reconheço que a atitude da esmagadora maioria dos professores mais experientes, que compõem os corpos docentes das escolas, é fugir destas turmas como o diabo foge da cruz e o que se passa na ESA não foge a esta tendência. Vai daí ser raro o professor mais velho e mais experiente, agora promovido a titular de coisa nenhuma, solicitar turmas de CEF para integrarem o seu horário lectivo. Daí advém, a meu ver, um dos problemas que afectam o funcionamento destes cursos, neste país, pois estas turmas, difíceis, às vezes muito difíceis, ficam para quem é mais novo e menos experiente, para quem não tem outra hipótese, para quem não tem outra escolha, e para quem, muitas vezes, as lecciona não querendo, não gostando, leccionando absolutamente contrariado e inadaptado, contando os dias que faltam para chegar ao fim de tal calvário.
Considero tal facto injusto e expressa, a meu ver, uma enorme falta de solidariedade entre pares que, sinceramente, não sei como resolver, porque se a esmagadora maioria dos titulares escolhe não ter turmas de CEF é porque não quer estes alunos e, provavelmente, se fossem obrigados a escolhê-los também iriam leccioná-los contando os dias para o final de tal calvário...
Ora esta atitude, a existir de forma mais ou menos generalizada, potencia, a meu ver, os problemas nestas turmas.
E o que é que eu, como professora de cinco turmas de CEF, posso adiantar? E ainda por cima com uma direcção de turma de um CEF?
Pois não posso deixar de considerar abusivo o meu horário e já tive oportunidade de o afirmar ao meu Director, muito embora escolha CEF todos os anos pois gosto do desafio das coisas difíceis. Continuo a gostar de muros, de os contornar, de os saltar e uma turma bem comportada e com excelentes resultados não me coloca desafios por aí além enquanto docente, enquanto a esmagadora maioria destas turmas coloca-me desafios a cada aula que passa e eu gosto desta adrenalina. Cá em casa chamam-me masoquista... serei. Mas a verdade é que quando consigo colocar um aluno destes a dizer "Afinal até gosto de CMA!" é para mim motivo de alegria maior e saboreio cada palavra, lentamente, sentindo que tenho de continuar a fazer mais e melhor enquanto docente.
E, embora considere que a ESA abusou no meu horário, e tenha dias em que saio da Escola absolutamente exausta, ainda assim não considero que esteja a percorrer um calvário.
Bem sei que a resistência faz parte das minhas características enquanto pessoa e enquanto docente mas, a verdade, é que, para mim, o facto de eu conseguir leccionar cinco turmas de CEF sem soçobrar só vem comprovar aquilo que afirmo há muito tempo - há CEFs e há CEFs.
E que quem os mete a todos no mesmo saco da delinquência está a cometer um erro grave de generalização que não deveria, a meu ver, ser cometido entre educadores.

2 comentários:

EMD disse...

Andei, estes dias, a reler este texto e à procura das palavras para te dizer não sei o quê, quando afinal basta dizer-te: quanta razão tens!
Parece que esta pausa me desatou o saco das canseiras e me atrofiou o cérebro. Espero que seja só assim uma espécie de hibernação... ou poupança de energias para o que aí vem.
Jocas, menina dos CEFs

Anabela Magalhães disse...

:)
Tenho lido muitas baboseiras sobre os alunos dos CEFs, todos metidos no mesmo saco da delinquência.
Recuso-me a aceitar isto calada porque eu sou a prova provada de que esta generalização, como todas ou quase todas, é errada.
Achas que eu sobreviveria a cinco turmas de alunos delinquentes?
Era preciso ser a super-mulher!!!
Coisa que eu não sou. Sou apenas uma professorzeca. :)
E também me custa ver tão pouca auto-crítica.
Apontei um problema que sei afectar estes cursos. Um dia destes levantarei outro.

 
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