quinta-feira, 8 de maio de 2008

Memórias dos Poços


Primalhada - Agosto de 1967 - Campismo - Amarante
Fotografia sei lá eu de quem!

Memórias dos Poços

Hoje vou inaugurar uma série de postagens dedicadas às minhas memórias da nossa/minha praia fluvial, aqui de Amarante, e a que nós sempre chamamos Poços, muito embora, algures no tempo, as entidades competentes a tenham rebaptizado de Praia Aurora nome pelo qual nunca a reconhecemos.
Pois os Poços foram o local onde eu aprendi a nadar, aí pelos 4 ou 5 anos de idade.
Antes do episódio que passarei a relatar nadava de braçadeiras, grande novidade à época. É preciso não esquecer que eu sou já bastante antiga e ao tempo em que eu aprendia a nadar de braçadeiras nos Poços, orientada pelo meu pai e pelo Quinzinho da Cerca, outros miúdos e miúdas aprendiam a nadar no Areal, ali mesmo junto ao Arquinho, ainda de cabaças debaixo dos braços!!!!, com uma figura típica da Amarante desse tempo, o famoso Pácha.
Pois eu nunca andei suspensa nas águas do Tâmega pelas ditas cabaças que deviam ser incómodas como o diabo! Eu, pelo contrário, tinha braçadeiras coloridas e com elas atravessava o rio, nos Poços, até à outra margem bem agarrada ao pescoço do meu pai. E com elas nadava até ao Penedo Pequenino ou Penedinho. E para ir ao Penedo Grande tinha de recorrer de novo à boleia do meu pai, mas sempre, sempre de braçadeiras nos braços.
Pois na praia dos Poços havia, e há, um pontão a que nós sempre chamamos "O Pontilhão" a partir do qual nos lançávamos para a água nas mais incríveis correrias, nos mais incríveis mergulhos, nas mais incríveis piruetas!
Um dia zanguei-me com o meu irmão. Estava sem braçadeiras mas no meio da fúria nem o sabia. Estava mesmo danada e para acabar com o assunto corri água adentro pelo pontilhão e atirei-me de qualquer maneira... ops!!! Sem braçadeiras!!! Ops! Que atrapalhação!
Acho que nadei à cão e à gato... eu sei lá o que fiz no meio da aflição!!! E o meu pai a apreciar a cena, impávido e sereno, na margem, a ver a evolução da coisa. Até o meu irmão foi impedido de me salvar agarrado por um braço pelo meu pai!
Vai daí não tive outro remédio. Salvei-me sozinha!
E ao mesmo tempo que me salvava aprendi a nadar.

A fotografia que ilustra este "post" é uma fotografia mais ou menos desta época, tirada em Agosto de 1967. Andei à procura de uma onde estivessem as minhas braçadeiras, mas não tenho nenhuma. Vai daí posto esta tirada no famoso Campismo. Campismo e Praia dos Poços não voltariam jamais ser o mesmo que eram nos anos 60, 70 e ainda um pouco dos 80.
Acabou-se a felicidade molhada do Tâmega em contacto com a pele.

6 comentários:

Avó Pirueta disse...

Minha Querida, é claro que são diferentes. Também tu és diferente. És diferente do que já foste e és diferente, graças a Deus, de quem não nota as diferenças. Gostei muito de te ler as recordações porque creio que recordações como estas são o lastro para crescermos como deve ser. E orgulho-me da posição do teu Pai, da coragem que teve, do arrepio que certamente sentiu quando se prendeu a ele próprio, para que tu voasses sozinha.
Assim se Fazem Mulheres e Homens. Um beijo um pouco "invejoso", da Carmo

Anabela Magalhães disse...

Obrigada, Carmo... fiquei a pensar como já deves andar atarefadíssima na preparação da tua viagem...
Vou adorar ler-te "em" África.

Raul Martins disse...

É o retrato de momentos da nossa vida, não é Anabela? Quando temos de ser nós mesmos, com as nossas forças e energias a lutar para ficarmos por cima. E é uma parábola da vida: o pai que vê a filha aflita mas acredita nela; acredita que ela é capaz de dar o salto; acredita que era a hora da libertação. Quantos momentos de libertação, de acreditar que somos capazes não nos reserva a vida!

Carpe diem!

Anabela Magalhães disse...

É, Raul, é uma parábola... mas na altura tudo se resumiu a uma grande aflição!!! :D

EMD disse...

Mas o que é facto é que ainda hoje esperneia e braceja pela sobrevivência…
Grande lição de vida e de paternidade.
Beijo

Anabela Magalhães disse...

Ah, ah, ah... o que eu me ri com o teu comentário, Elsa.
Mas é verdade... ainda esperneio e bracejo e assim espero continuar por muitos e longos anos.
Esperneia e braceja tu também, sempre... a verdade é que quem não faz isso está já morto!
Bjs

 
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